Paira no ar uma sensação de cautela. Quem acompanha a Agrishow há anos sabe que ela já esteve mais confiante. A maior feira de tecnologia agrícola da América Latina completa 30 edições neste ano. Quando foi criada, em 1994, o agronegócio brasileiro não tinha o tamanho que tem hoje. Nem a geopolítica era a mesma. Inovações e olhares tecnológicos para o futuro tentam driblar a volatilidade do presente. "Não estou vendo nada, está tudo nebuloso", disse Pedro Estevão, quando questionado sobre como ele vê o impacto da guerra tarifária sobre os maquinários. Ele é presidente da Câmara Setorial da Indústria de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA) da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos). Sem saber como se comportarão os juros, o dólar, o clima e os importadores, os produtores têm que fazer um verdadeiro quebra-cabeça para decidir entre custear a safra, investir em infraestrutura, honrar com os compromissos das safras anteriores e garantir performance na temporada que se aproxima. Tudo isso em meio a um conflito entre Estados Unidos e China, que reverbera nas commodities globais. Mesmo assim, há quem faça uma boa gestão dos negócios, está capitalizado e vai às compras. Na Agrishow, aqui e acolá, alguns estandes de montadoras soavam a sirene: sinal chamativo de uma venda concretizada. Geralmente, isso significa alguns milhões de reais. "O preço das commodities subiu um pouco, o PIB [Produto Interno Bruto] das lavouras cresce a 10% ao ano, ou seja, você tem dinheiro no campo. O que tem emperrado um pouco é a taxa de juros alta, mas este primeiro trimestre está corroborando com a nossa expectativa de fechar o ano maior", afirmou Estevão. No acumulado do primeiro trimestre, a receita líquida do setor registrou alta de 15,2% frente a igual período de 2024. Entretanto, a projeção para o ano é bem menor. A Abimaq projeta crescimento de 8% nas vendas e "modestos 3,7%" na receita líquida. "O protecionismo crescente nos Estados Unidos e o aumento das incertezas globais devem impactar negativamente a tomada de decisão dos investidores. Nesse contexto, projeta-se que a expansão observada no primeiro trimestre [15,2%] perca força ao longo do ano, com o crescimento da receita líquida do setor convergindo para modestos 3,7% em 2025", comenta a entidade em nota. O crescimento vem após três anos consecutivos de queda nas receitas. O presidente da CSMIA lembra que a performance do segmento em 2022 foi muito positiva, quando o faturamento foi de R$ 97 bilhões. Nas safras 2022/23 e em 2023/24, o faturamento foi reduzindo, para R$ 75 bi e R$ 60 bi respectivamente. Os números de 2024/25 ainda não estão fechados. Com uma perspectiva positiva de condições para o Plano Safra 2025/26, a Abimaq aponta um crescimento modesto de quase 4% para o ano. "A gente entende que [o crescimento do primeiro tri] não é paliativo, veio para ficar. A gente vai ter um ano melhor", reforçou Pedro Estevão. |