Nesta quinta-feira, 24, Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) e Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) divulgaram dados sobre o desempenho do complexo soja em 2024. Insumos, grãos, processamento, agroindústria, agrosserviços e biodiesel (por exemplo, logística) compõem a análise das entidades. O PIB da cadeia de soja e do biodiesel recuou 5,03% no ano passado. Houve diminuição da participação dos grãos no PIB da cadeia, com queda de 13,53%. Por consequência, os agrosserviços retraíram 3,44%. Apesar da queda de 5,03%, o desempenho do complexo soja foi 'menos pior' do que o previsto pelo Cepea, porque o quarto trimestre de 2024 apresentou resultados satisfatórios nos segmentos de esmagamento e refino. "O problema climático do ano passado para a safra foi um fator relevante, mas o cenário poderia ter sido pior. O que ajudou foi o investimento na ampliação da área plantada, que posteriormente se reflete no setor de insumos (3,98%) e agroindústria (2,81%)", diz Nicole Rennó, pesquisadora da equipe macroeconômica do CEPEA/Esalq/USP. O resultado da agroindústria foi influenciado sobretudo pelo forte avanço registrado na indústria de biodiesel, de 20,45%. Para chegar aos resultados, Cepea e Abiove consideram a variação do PIB da cadeia produtiva, servindo como um indicador de volume da produção, junto a um cenário de preços relativos. Assim, foi gerado um indicador denotado por PIB-Renda, que reflete o movimento de volume acompanhado dos preços. Em 2024, foi registrada baixa de 3,27% no PIB-renda, que alcançou R$ 650,4 bilhões em 2024, ante os R$ 672,4 bi de 2023. "Essa melhora no cenário de preços [da soja] ao longo do último trimestre foi bem importante. Não é uma alta significativa, mas deixou a renda real da cadeia produtiva mais positiva", comenta a pesquisadora do Cepea. Biodiesel A guerra tarifária que chacoalha o mercado internacional reflete na demanda de soja e, consequentemente, nos derivados dela. Ainda que considere muito cedo projetar consequências do tarifaço para o complexo soja, a Abiove afirma que uma parte dos grãos brasileiros terá destinação majoritária para exportação, desfavorecendo a indústria nacional do biodiesel. Neste contexto, também está a decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) de não aumentar o percentual de biodiesel misturado ao óleo diesel. Estava previsto que, em março, o percentual subiria para 15%, mas ficou mantido em 14%, como manobra para conter a alta no preço dos alimentos. Decisão que as fontes consideram um retrocesso. "Uma parte do óleo que seria usado para biodiesel irá atender ao mercado exterior e será adicionado ao estoque final armazenado na entressafra. Com isso, a gente perde um pouco a capacidade de o biodiesel contribuir para o PIB", diz Daniel Amaral, diretor de economia e assuntos regulatórios da Abiove. Se for para aumentar as exportações, Amaral defende a ampliação do farelo de soja para Europa, Oriente Médio e sudeste asiático. Ainda assim, ele diz, a indústria precisa de previsibilidade, por causa dos desdobramentos ao setor demandante de ração. Diante do aumento das exportações de soja devido ao tarifaço, ele prevê "mais dificuldade na indústria" em 2025, por isso a importância de ter políticas industriais bem previsíveis. "A indústria só tem capacidade de fazer ração, se ela tiver segurança do que será feito com o óleo. Essa sinalização e previsibilidade são essenciais, inclusive, para as cadeias de proteínas animais", ressalta. Por outro lado, a expectativa de uma safra recorde traz um horizonte otimista para 2025, incluindo a expectativa do diretor da Abiove para que o consumo de biodiesel cresça, independente da obrigatoriedade dos 14% ter se mantido. Leia trecho da entrevista com Daniel Amaral, diretor da Abiove, ao final da newsletter. |