Sexta-feira, 21/02/2025 | | | |  | Getty Images/iStock |
| Preço dos ovos deve baixar somente em abril | | | Altas temperaturas, o preço do milho e a proximidade da Quaresma estão fazendo disparar o preço dos ovos no Brasil. O valor do alimento chegou ao nível mais alto em pelo menos 22 meses, segundo histórico de preços informados pelo Cepea, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada. Em fevereiro, a caixa com 30 ovos brancos alcançou R$ 227, enquanto a com ovos vermelhos está custando R$ 252. Ainda assim, a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) afirma que o encarecimento dos ovos é sazonal. Os custos de produção acumularam alta nos últimos oito meses, com elevação de 30% no preço do milho e de mais de 100% nos custos de insumos de embalagens, sobretudo por conta das resinas plásticas. Ao mesmo tempo, as temperaturas em níveis históricos têm impacto direto na produtividade das aves, com reflexos na oferta de produtos. Com a proximidade da Quaresma, quando há substituição de consumo de carnes vermelhas por proteínas brancas e por ovos, a maior procura também eleva o preço. Assim, o comportamento é cíclico e o setor considera que o preço irá desacelerar em abril.
"Mesmo com esses fatores, os produtores esperam que o mercado deverá se normalizar até o final do período da Quaresma, com o restabelecimento dos patamares de consumo das diversas proteínas", diz a ABPA. A entidade ainda rebate uma afirmação feita pelo presidente Lula nesta quinta-feira (20). Em entrevista à Rádio Tupi FM, Lula citou a gripe aviária nos Estados Unidos como determinante para o encarecimento dos ovos. "Nós vamos ter que fazer uma reunião com os atacadistas para discutir como podemos trazer isso para baixo. O fato de você estar vendendo o produto em dólar, que está alto, não significa que você tem que colocar no preço do brasileiro o mesmo preço que exporta", afirmou. De acordo com a ABPA, as exportações de ovos têm efeito praticamente nulo sobre a oferta interna, já que representam menos de 1% das 59 bilhões de unidades que deverão ser produzidas neste ano, o que deve gerar um consumo per capita de 272 unidades anuais — mais de 40 unidades acima da média mundial de consumo. Ao olhar para os volumes de janeiro, os EUA compraram 220 toneladas de ovos, basicamente para o segmento pet. Na frente deles, estão compradores como Emirados Árabes (783 toneladas) e Serra Leoa (352 toneladas). Ao somar todas as exportações, equivalentes a 2,3 mil toneladas em janeiro, elas são 0,9% da produção brasileira em janeiro. Diante disso, o governo federal terá a missão de calibrar o preço do milho para ração no mercado interno e pensar, inclusive, como facilitar o acesso ao crédito para que os criadores de aves consigam instalar ar-condicionado nas granjas. |
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| Publicidade |  | |  | Tomaz Silva/Agência Brasil |
| CRÉDITO | Haddad buscará respaldo do TCU para retomada imediata das linhas do Plano Safra | | | Após o Tesouro Nacional suspender as linhas de crédito com juros equalizados do Plano Safra 2024/2025, o Ministério da Fazenda divulgou nota nesta sexta-feira (21) para informar que o ministro Fernando Haddad vai buscar o "respaldo técnico e legal" do TCU (Tribunal de Contas da União) para liberar os recursos de forma imediata. "As linhas foram suspensas pelo Tesouro Nacional por necessidade legal, devido à não-aprovação da LOA [Lei Orçamentária Anual] 2025", justificou o Ministério, que enfatizou que as linhas do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), voltadas aos pequenos agricultores, seguem operando normalmente. Segundo ofício enviado pelo Tesouro às 25 instituições financeiras operadoras do crédito subsidiado, a decisão leva em conta principalmente o aumento na taxa básica de juros. |
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| | DÍVIDAS | Vem aí o Desenrola Rural | | O MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) lançou o Programa de Regularização de Dívidas e Facilitação de Acesso ao Crédito Rural da Agricultura Familiar, também chamado de Desenrola Rural, para liquidar ou renegociar dívidas do Pronaf ou outras (como cartões e empréstimos) nas instituições financeiras. Estão incluídos débitos inscritos na Dívida Ativa da União, como impostos e outros débitos federais, com inadimplência superior a um ano. A medida também contempla pescadores artesanais, povos e comunidades tradicionais, assentados da reforma agrária e cooperativas da agricultura familiar. De acordo com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária), o Desenrola Rural surgiu em função do elevado nível de endividamento dos agricultores familiares verificado nos últimos dez anos, por adversidades como a pandemia de Covid-19, oscilações de mercado e eventos climáticos adversos. Todos esses fatores acabaram comprometendo a capacidade de pagamento e o acesso a novos créditos desse público. Na avaliação do MDA, a maior parte do público contraiu dívidas consideradas de pequeno valor, mas que "representam um obstáculo para novos créditos e a estruturação de atividades produtivas". O Desenrola Rural tem como foco liquidar ou renegociar créditos contratados entre os anos de 2012 e 2022. No caso da liquidação, será somado o saldo devedor em todas as operações e aplicado o rebate com base no volume da dívida. Já no caso de renegociação das dívidas, podem ser de dois a dez anos dependendo do volume, sendo dois anos para dívidas até R$ 10 mil e até 10 anos para dívidas acima de R$ 50 mil. O produtor que está inscrito na Dívida Ativa da União poderá regularizar a situação por meio do site Regularize. "É um número significativo de agricultores e agricultoras familiares que sairá da inadimplência e poderá acessar ao crédito. Então, nós estamos comemorando o lançamento do Desenrola Rural, mas entendemos que temos desafios pela frente. Ainda precisamos analisar e fazer um diagnóstico dos agricultores e agricultoras familiares que estão em dívida a partir do ano de 2022", diz Vânia Marques Pinto, secretária de Política Agrícola da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares). |
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| MERCADO DE CAPITAIS | Entrevista: 'Agro é para profissionais, não é para amadores' | | | O mercado de capitais começou a flertar com investimentos no agro a partir da Lei do CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio), em 2004, mas somente em 2012 começaram as emissões oficialmente. A partir de então, os CRAs ganharam tração no mercado de capitais, e, por volta de 2018, alcançaram o valor aproximado de R$ 44 bilhões. Já o Fiagro (Fundo de Investimento em Cadeias Agroindustriais) teve a liberação de emissões em 2021 e somente em três anos atingiu R$ 44,7 bilhões. Os números mostram que o mercado financeiro aprendeu a lidar com a complexidade do agronegócio e a entender que não há espaço para amadores. David Telio, diretor de novas Estruturas Financeiras na fintech de crédito rural TerraMagna, fala sobre a importância da gestão do risco de crédito para lidar com a cadeia produtiva. Ele também comenta as perspectivas para 2025, ano em que os subsídios do governo tendem a ser menores para a agropecuária industrial, abrindo margem para o crédito privado, CRAs e Fiagros. UOL - Em 2024, as recuperações judiciais no agro chamaram a atenção do mercado financeiro, mostrando que quem investe no setor precisa de maturidade para entender o complexo cenário entre produção e comercialização. Isso afasta investidores do setor? David Telio - O Fiagro nasceu em um momento em que o mercado de capitais estava muito mais apto a vir pro jogo. O que aconteceu recentemente com as recuperações judiciais, evidentemente, impactou algumas casas que não souberam avaliar requisitos relacionados à safra, custos e preços. As RJs fizeram com que o mercado começasse a entender que o agro é para profissionais, não é para amadores. Esse recado está dado. Não quer dizer que o mercado de capitais vai sair do agro, não é uma verdade, porque ainda estamos emitindo operações e muitos comprando papéis. O agro está indo bem, obrigado, e tende a continuar aumentando. A única questão é tomar o devido cuidado. UOL - Quais cuidados? Telio - O Fiagro tem uma flexibilidade muito importante que todos esperavam, tanto o agro como o mercado de capitais. Você pode ter as duplicatas, CPRs, notas promissórias, direitos creditórios, que são títulos de crédito. Também é permitido no Fiagro ter o fundo imobiliário e o Fiagro de participações de sociedade. Então, esses três pilares fizeram com que o Fiagro explodisse no mercado. É preciso cuidado para operar essas modalidades, pois agora nós estamos diante de ver isso crescendo ainda mais. UOL - O que motiva esse crescimento? Estamos falando de taxas de juros e Plano Safra? Telio - Por uma série de motivos, os volumes de recursos do crédito rural com juros subsidiados e juros controlados no agronegócio diminuem consistentemente. No final do segundo semestre passado, tiveram redução um pouco acima de 22% em comparação com 2023. Quando a Selic subiu muito e os juros do Plano Safra continuaram o mesmo, isso influencia no orçamento. Outro fator é que os produtores não conseguiram liquidar todo o valor que deviam dos juros controlados, devido à seca em algumas regiões. Já desde o ano passado, o banco era proibido de conceder empréstimos através de juros controlados para os produtores com problemas climáticos. Com tudo isso, nós estamos enxergando um aperto em cima dos desembolsos do crédito controlado. Também tem um outro ponto, que é o nível de burocracia para um produtor conseguir tomar dinheiro com os recursos controlados. UOL - Dentro desse contexto, o produtor tende a procurar o mercado de capitais e os Fiagros podem crescer em 2025. Telio - Sim, porque o Brasil prevê um novo recorde de produção, e isso faz com que atraia a atenção de investidores. O mercado de crédito privado cresceu exponencialmente em relação a anos anteriores. Ele cobriu o que o Plano Safra não estava cobrindo, e financiou ainda mais. Aí, o mercado de capitais cresceu, ajudou a compensar junto com o mercado de crédito privado a necessidade de atendimento ao agronegócio. UOL - O que você enxerga especificamente para este ano? Telio - No ano passado, o governo já deu um aviso de que a preocupação é a agricultura familiar. Esse vai ser o foco, tenho certeza. Com isso, acredito que nós vamos ter uma redução significativa para o Plano Safra empresarial, porque o próprio governo já percebeu quanto o crédito privado cresceu e o mercado conseguiu acomodar o agricultor de médio e o grande porte. A diferença é que tanto bancos como o mercado de capitais estão ajustando seus métodos de crédito, análise e avaliação de risco para conceder um crédito um pouco mais calibrado, um pouco mais seletivo para conseguir ter menos problema na recuperação do crédito e qualificar melhor as garantias de uma operação. |
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