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UE e Mercosul trocam ofertas tarifárias para negociar acordo comercial

11/05/2016 15h49

Bruxelas, 11 Mai 2016 (AFP) - A União Europeia (UE) e o Mercosul trocaram ofertas tarifárias nesta quarta-feira para negociar um acordo de livre-comércio, do qual foram excluídos alguns produtos sensíveis para o bloco europeu.

"Intercâmbio de ofertas hoje entre a UE e o Mercosul. Primeiro passo para retomar nossas negociações comerciais. Importante economicamente, politicamente e culturalmente", escreveu em um tuíte a comissária europeia de Comércio, Cecilia Malmstrom.

A chanceler argentina, Susana Malcorra, que tem estimulado essa troca desde a posse do presidente liberal, Mauricio Macri, escreveu no Twitter que se trata "de um primeiro e importante passo para chegar a um acordo que satisfaça ambas as partes".

A troca de ofertas acontece em meio a dúvidas sobre o avanço de um acordo no contexto de crise política no Brasil.

Essa é a primeira troca de ofertas desde 2004, informaram UE e Mercosul em comunicado conjunto, no qual as duas partes disseram que "analisarão as ofertas" e que voltarão a se reunir antes do verão (do hemisfério norte).

As negociações para um tratado de livre-comércio entre UE e Mercosul foram retomadas em 2010, depois que a troca de ofertas feita seis anos antes não permitiu que as discussões avançassem.

"Como era de se esperar, ninguém ficou completamente satisfeito", informou à AFP uma fonte do Mercosul.

A carne bovina e o etanol, dois produtos "ofensivos" para a oferta do bloco sul-americano, ficaram de fora da oferta da UE, que não ofereceu cotas, as quais serão definidas "no futuro", acrescentou a fonte.

Essa troca foi proposta em várias ocasiões desde 2014 e nas últimas semanas houve dúvidas pelas reticências de vários países da UE a incluir os "produtos sensíveis" agrícolas na oferta, em meio à grave crise do setor.

A sensível questão agrícolaEm abril, 20 países da UE, liderados pela França, maior potência agrícola europeia, pediram à Comissão Europeia um estudo de impacto sobre o efeito que teria uma abertura comercial às exportações do Mercosul no setor agrícola, antes da troca.

Os países alertaram, na época, que incluir os "produtos sensíveis" poderia ter repercussões em todas as negociações comerciais da UE, em particular a que está sendo feita com os Estados Unidos.

Cinquenta por cento das importações da UE vindas do Mercosul correspondem a produtos agrícolas, setor em que a UE tem um déficit comercial de aproximadamente 20 bilhões de euros, segundo cálculos da Comissão.

"Somos muito conscientes da crise do setor agrícola", reconheceu. "Sessenta por cento de nossas importações agrícolas do Mercosul correspondem a soja e forragem para o setor suíno".

As organizações profissionais do setor agrícola e as cooperativas europeias, Copa-Cogeca, reagiram a essa nova etapa manifestando sua oposição a um acordo de livre comércio.

O secretário-geral da Copa-Cogeca, Pekka Pesonen, lamentou, que a Comissão tenha avançado na troca "apesar das advertências de 20 ministros da UE".

"Estou extremamente decepcionado que a oferta continue incluindo produtos agrícolas sensíveis", disse.

Segundo os estudos citados pela Copa-Cogeca, a UE poderá perder até 7 bilhões de euros em caso de um acordo com o Mercosul, "que já é um grande exportador de matérias-primas agrícolas".

No comunicado conjunto publicado pela UE e pelo Mercosul nesta quarta-feira, as duas partes reafirmam "seu total compromisso nesta negociação, com a perspectiva de importantes benefícios econômicos e políticos (...) de um acordo ambicioso e equilibrado".

Para a UE, o Mercosul, que não fechou acordos comerciais com nenhum bloco comercial no mundo, representa um mercado de 260 milhões de pessoas. Um bloque bi-regional criaria uma área de livre-comércio de 760 milhões de pessoas.

Segundo dados da Comissão Europeia, o Mercosul é o sexto mercado mais importante para as exportações da UE. O intercâmbio comercial foi de cerca de 88 bilhões de euros em 2015.

A UE é o principal sócio comercial do Mercosul.