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Menos emprego levanta dúvidas sobre saúde econômica dos EUA

03/06/2016 18h00

Washington, 3 Jun 2016 (AFP) - As empresas americanas reduziram abrupta e inesperadamente a criação de empregos em maio, jogando um balde de água fria na expectativa de que o Federal Reserve (Fed) endureça sua política monetária.

Um relatório do Departamento do Trabalho mostrou, nesta sexta-feira, que a economia dos Estados Unidos criou apenas 38.000 empregos (líquidos), quase um quarto do que se esperava. Essa quantidade é a mais baixa desde setembro de 2010, quando o mercado se contraiu.

Junto com as revisões para baixa dos dados dos dois meses anteriores, o que implicou 59.000 postos a menos do que os relatados inicialmente, o informe estremeceu a generalizada imagem de que a economia dos Estados Unidos estava se recuperando de um primeiro trimestre ruim.

A boa-nova é que, apesar de tudo, o desemprego continuou caindo, a 4,7% em maio, contra 5% do mês precedente. Trata-se do índice mais baixo desde novembro de 2007.

Esses dados surgem, porém, de uma volátil pesquisa de lares, que mostrou uma queda no tamanho da força de trabalho. Isso é visto como uma notícia ruim para uma economia que, supõe-se, está crescendo a uma taxa anual de 2,5%.

Freio no Fed?O relatório foi divulgado a menos de duas semanas da reunião do Comitê de Política Monetária do Fed (FOMC) e praticamente acabou com a certeza de que se decida, neste mês, o aumento das baixíssimas taxas de juros pela primeira vez desde dezembro.

Confiantes na ostensiva força então demonstrada pelo mercado de trabalho, os membros do Fed - incluindo sua presidente, Janet Yellen - deixaram claro nas últimas semanas que as condições já estavam dadas para endurecer a política monetária em junho, ou julho.

Junto com a incerteza gerada pelo referendo de 23 de junho, no qual a Grã-Bretanha decide se deixa a União Europeia (a chamada "Brexit"), os analistas acreditam em que o informe sobre o emprego jogue por terra qualquer expectativa de que as taxas sejam aumentadas na reunião do FOMC. Esse encontro está previsto para acontecer em 14 e 15 de junho.

"É estranho que tenha havido um informe de emprego tão capaz de fazer mudar a política do Fed, como esse", tuitou Justin Wolfers, da Universidade de Michigan.

"Incerteza pelo Brexit + enfraquecimento doméstico = Esperar", completou.

"A alta (das taxas) em junho morreu. A de julho está gravemente ferida", ironizou Ian Shepherdson, da Pantheon Economics.

Shepherdson disse que a surpreendentemente baixa criação de empregos - quando analistas esperavam 155.000 - reflete uma confluência de fatores.

Entre eles, mencionou uma prolongada greve no gigante americano das telecomunicações Verizon, assim como uma virada tardia para a cautela das empresas, após um primeiro trimestre muito ruim para o mercado de ações.

"A boa notícia é que isso não deve durar muito. O número de desempregados não mudou", advertiu.

Além disso, completou, pesquisas mostram que as empresas planejam continuar contratando pessoal este ano.

Um dado do informe que contribui para o desemprego é que os salários continuam aumentando e subiram 2,5% em 12 meses. Salários mais altos restringem o mercado de trabalho.

Ainda admitindo as debilidades apontadas pelo informe, o presidente do Conselho de Assessores da Casa Branca, Jason Furman, ressaltou que, desde o início do ano, a média de novos empregos é de 150.000 por mês. Isso "está bem acima do ritmo de que se precisa para manter uma taxa de desemprego baixa e estável", afirmou.