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Riscos econômicos do Brexit começam a tomar forma

05/07/2016 13h58

Londres, 5 Jul 2016 (AFP) - O Banco da Inglaterra tomou medidas nesta terça-feira para movimentar a economia britânica e enfrentar os efeitos adversos do Brexit, que obrigaram dois fundos de investimentos imobiliários a suspender as atividades para frear a retirada de capitais.

A primeira emissão da dívida britânica desde o referendo teve os juros mais baixos da história pela ansiedade dos investidores, que querem colocar seu dinheiro em um lugar seguro, mesmo que seja pouco rentável.

As ameaças à estabilidade financeira do Reino Unido provocadas pelo Brexit "começaram a se manifestar", disse o Banco da Inglaterra (BoE), anunciando uma flexibilização de suas regras de financiamento dos bancos para estimular os empréstimos.

O Comitê de Política Financeira (FPC) da instituição decidiu rebaixar os fundos que os bancos devem salvaguardar para enfrentar turbulências, a fim de que destinem o dinheiro liberado a créditos que movimentem a economia.

As medidas deveriam servir para que sejam destinados cerca de 150 bilhões de libras (178,9 bilhões de euros, 197,24 bilhões de dólares) adicionais a empréstimos a famílias e empresas.

Para conseguir isso, o BoE reduziu de 0,5% para 0% o colchão financeiro exigido dos bancos para contingências.

- "As peças de dominó começam a cair" -A intervenção desta terça-feira é a terceira feita pelo Banco da Inglaterra após o Brexit. Seu presidente, o canadense Mark Carney, se firmou como o protetor da economia em um momento de muito pouco protagonismo do governo do demissionário David Cameron.

A instituição considerou que, apesar da forte desvalorização da libra -que nesta terça-feira atingiu o nível mais baixo em 31 anos- e das ações dos bancos, que caíram cerca de 20%, o setor financeiro até o momento está parecendo sólido.

Já o imobiliário nem tanto. O fundo Aviva Investors anunciou a suspensão das atividades de um de seus fundos imobiliários pelas demandas maciças de retirada de capital.

Segundo os analistas, o Aviva e o Standard Life não serão as únicas a tomar as mesmas medidas.

"As peças de dominó estão começando a cair", disse Laith Khalaf, analista da empresa de investimentos Hargreaves Lansdown. "É uma questão de tempo que outros fundos lhes acompanhem", acrescentou.

A decisão do Aviva se soma à tomada na segunda-feira pelo fundo Standard Life.

"As circunstâncias extraordinárias do mercado, que impactam sobre o setor em seu conjunto, trazem uma falta de liquidez imediata no fundo Aviva Investors Property Trust. Consequentemente, atuamos para proteger os interesses de todos os nossos investidores suspendendo as transações do fundo com efeito imediato", disse um porta-voz do Aviva.

O Aviva Investors, cujo fundo imobiliário está avaliado em 1,8 bilhões de libras (2,1 bilhões de euros, 2,4 bilhões de dólares), disse que houve um número de demandas de vendas "mais alto do que o usual" nos últimos meses, combinada com "condições difíceis no mercado e no sentimento dos investidores".

- Os bônus britânicos, valor-refúgio -O Reino Unido emitiu dívida pública pela primeira vez após a vitória do Brexit, com os juros mais baixos da história para um bônus a cinco anos, 0,382%, anunciou nesta terça-feira a agência competente.

A emissão de títulos no valor de 2,5 bilhões de libras teve juros inferiores a 0,787%, recorde anterior, em 2012.

Os juros da dívida são determinados por leilão. O nível baixo se explica pelo medo dos investidores pela instabilidade do mercado, que lhes leva a buscar refúgio em valores seguros, mesmo que sejam pouco rentáveis.

pn-al.