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Forças do governo paralelo líbio controlam 3º terminal de petróleo

12/09/2016 10h46

Trípoli, 12 Set 2016 (AFP) - As forças do governo paralelo não reconhecido da Líbia anunciaram nesta segunda-feira que assumiram o controle de um terceiro terminal de petróleo das mãos de uma milícia leal ao governo de união nacional respaldado pela comunidade internacional.

"Nossas forças conseguiram assumir o controle do porto de Zueitina e dominá-lo por completo", disse à AFP Mohamed al-Azumi, porta-voz de uma brigada leal ao general Khalifa Haftar, comandante proclamado do exército ligado ao governo paralelo estabelecido no leste do país.

No domingo, as forças do governo paralelo dominaram os terminais de Al-Sedra e Ras Lanuf, os mais importantes do país.

Uma agência de notícias ligada ao governo do leste, com sede em Al-Baida também anunciou que o porto de Zueitina foi dominado e que "as milícias fora da lei foram expulsas", em uma referência aos Guardas das Instalações Petroleiras (GIP).

O Governo de União Nacional (GNA) criticou no domingo a ofensiva das tropas de Haftar, que chamou de "agressão flagrante contra bens do povo líbio".

Na véspera, as forças do governo não reconhecido lançaram um ataque surpresa para tomar o controle dos principais terminais do território.

É a primeira vez que os dois lados se enfrentam militarmente desde que o GNA se instalou em Trípoli em março passado. Desde então, o GNA tenta, com dificuldades, consolidar sua autoridade no conjunto do país, afundado no caos desde a queda do regime do ditador Muammar Kadhafi, em 2011.

Perder as instalações petroleiras enfraqueceria o GNA.

A tomada foi confirmada por um comandante da Guarda das Instalações Petroleiras (GIP), milícia leal ao GNA. Segundo o porta-voz da GIP Ali al-Hassi, os combates continuam, e há mortos e feridos.

"As forças de Haftar lançaram um ataque pela manhã, usando aviões e artilharia", mas "não tomaram o controle" do conjunto das instalações, assegurou.

Em um comunicado, o GNA condenou "essa agressão flagrante contra bens do povo líbio", convocou suas forças para recuperar os terminais e intimou as forças pró-Haftar a deixarem as instalações.

O enviado da ONU para a Líbia, Martin Kobler, disse estar "preocupado" com os confrontos que - advertiu - "acentuarão as divisões" na Líbia.

As forças leais ao governo de união se concentram atualmente na luta contra o grupo Estado Islâmico (EI), implantado no país desde 2015, para tentar expulsá-lo totalmente de seu reduto em Sirte. Lançada em maio passado, essa ofensiva se mantém, devido à resistência dos extremistas.

Paralelamente, a ONU supervisiona um complexo processo político com o objetivo de juntar os distintos atores em um governo de união reconhecido por todos. Mas esse processo se choca com a oposição das autoridades rivais do leste.

Uma das maiores divergências é quanto ao papel que Haftar deverá desempenhar em um novo cenário, principalmente pela relevância desse general septuagenário após a revolta contra Kadhafi.

Suas forças tentam desde 2014 recuperar o controle de Benghazi, segunda cidade do país e reduto de grupos extremistas radicais.

Para o pesquisador Mattia Toaldo, do grupo de reflexão European Council on Foreign Relations, a ofensiva na zona petroleira "pode se transformar em um conflito, a menos que haja uma mediação rapidamente".

Apesar da Líbia dispor das maiores reservas de petróleo da África - quase 48 bilhões de barris -, paradoxalmente é um dos países membros da Organização de Países Exportadores de Petróleo (Ope) que menos produz.

O caos na Líbia e sua incapacidade para sair da crise provocam inquietação nos países europeus, por conta da proliferação de grupos extremistas no vazio de poder, assim como pelo crescente fluxo de migrantes, quase todos procedentes da África subsaariana, que chegam a Europa a partir da costa líbia.