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Brasil emerge da recessão, mas crise política aumenta incerteza

30/05/2017 13h27

Rio de Janeiro, 30 Mai 2017 (AFP) - O Brasil deveria anunciar na próxima quinta-feira dados de crescimento positivo no primeiro trimestre de 2017 depois de dois anos de recessão, mas a notícia dificilmente acabará com a incerteza que toma conta dos mercados em meio à crise que cerca o presidente conservador Michel Temer.

A crise política também diminuiu o otimismo sobre maiores cortes na taxa de juros na reunião do Banco Central que se encerrará na quarta-feira.

O IBGE deve anunciar um aumento do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,9% no primeiro trimestre do ano em relação ao trimestre anterior, embora com uma contração de 0,3% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a estimativa média de 20 analistas e instituições consultados pelo jornal Valor Econômico.

Este seria o primeiro resultado trimestral positivo do PIB desde o final de 2014, quando o país começou a entrar em recessão, com uma contração econômica de 3,8% em 2015 e de 3,6% em 2016.

"Deixamos para trás a maior recessão que a história brasileira já conheceu", afirmou Temer nesta terça-feira em um fórum com empresários em São Paulo, antecipando em dois dias o anúncio oficial.

O presidente aproveitou a ocasião para defender as reformas trabalhista e previdenciária, que considera fundamentais para estimular o crescimento.

"Não permitiremos - e houve momentos de medidas populistas - que voltem a colocar em risco o presente e o futuro dos brasileiros", acrescentou Temer.

"Chegaremos ao fim de 2018 com a casa em ordem", garantiu, desafiando os que apostam no fim antecipado de seu mandato.

Seu otimismo, entretanto, dificilmente será contagioso, em um ambiente dominado pelas denúncias de corrupção que o envolvem desde a divulgação de uma gravação com o empresário Joesley Batista em que parece dar seu aval ao pagamento de suborno ao ex-deputado Eduardo Cunha.

Na semana passada, a agência de classificação financeira Standard and Poor's indicou que pode rebaixar a nota de risco soberano do Brasil e a Moody's reduziu a perspectiva de seu rating emissor de estável para negativa.

A S&P alegou temores de "paralisia política" e a Moody's apontou um "aumento da incerteza" em relação às reformas.

O anúncio deve ser ofuscado pela divulgação na quarta-feira dos dados de desemprego recorde, que já afeta a 14,2 milhões de brasileiros e que deve subir dois décimos, a 13,9%, segundo a consultora Gradual Investimentos.

Segundo o analista independente Felipe Queiroz, um PIB positivo seria "marginal", pois o Brasil enfrenta "uma conjuntura recessiva", agravada por "cortes do gasto público e dos investimentos e pelo crescimento do desemprego".

- Taxas de juros -Segundo o consenso do mercado, o Banco Central (Bacen) fará na quarta-feira seu sexto corte consecutivo da taxa Selic, que caiu de 14,25% em outubro a 11,25% em abril.

Mas se até duas semanas os analistas se inclinavam a pensar que o corte seria de 1,25 ponto percentual, a aposta caiu sensivelmente.

Dos 41 especialistas consultados pelo Valor, apenas um acredita nesse corte; 35 acham que será de um ponto e cinco que se limitará a 0,75 ponto percentual.

O informe semanal Focus de expectativas de mercado aumentou na segunda-feira pela primeira vez em onze semanas a previsão de inflação deste ano, de 3,92% para 3,95%; e fez um pequeno rebaixamento (de 0,50% a 0,49%) na sua projeção de crescimento do PIB em 2017.

Nada particularmente grave, tendo em conta que a inflação, de 10,67% em 2015 e de 6,20% em 2016, caiu em abril a 4,08%, abaixo do centro da meta oficial, de 4,50%.

Segundo Queiroz, as "elevadíssimas" taxas atuais "favorecem sobretudo o mercado financeiro".

Mas "com um índice de desemprego elevado e uma expectativa de inflação ainda baixa, não há nenhuma pressão inflacionária consistente", afirma o analista.