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Rússia inaugura usina gigantesca de gás natural no Ártico

Foto tirada em 2015 mostra a usina em obras - Kirill Kudryavtsev
Foto tirada em 2015 mostra a usina em obras Imagem: Kirill Kudryavtsev

08/12/2017 13h21

Sabetta, Rússia, 8 dez 2017 (AFP) - A Rússia inaugura, nesta sexta-feira (8), uma excepcional usina de gás natural muito isolada na Península de Iamal, no Ártico siberiano, construída em condições climáticas e geológica extremas.

O grupo privado russo Novatek, à frente do consórcio internacional que desenvolveu o projeto, previu para esta sexta a primeira saída de carregamento de gás natural liquefeito (GNL) do porto de Sabetta.

Nesta semana, foi anunciado o começo da fabricação de GNL na primeira linha de produção, com capacidade prevista de 5,5 milhões de toneladas ao ano.

No porto de Sabetta, a -27°C, o navio transportador de GNL quebra-gelo que vai levar a carga à Ásia se destaca, iluminado e esfumaçado, no meio da escuridão. Ele foi batizado de "Christophe de Margerie", em homenagem ao CEO da Total, que morreu em 2014 na Rússia.

O projeto de US$ 27 bilhões é um dos mais ambiciosos do mundo no setor. Ele abarca a construção, em três etapas, de uma fábrica de liquefação de gás para produzir 16,5 milhões de toneladas anuais a partir de 2019.

Este lançamento é um primeiro sucesso do projeto, do qual participarão a Novatek (50,1%), a francesa Total (20%) e as chinesas CNPC (20%) e Silk Road Fund (9,9%).

Putin (segundo da dir. para a esq.) inaugura usina no Ártico - Alexei Druzhinin/Reuters - Alexei Druzhinin/Reuters
Putin (segundo da dir. para a esq.) inaugura usina no Ártico
Imagem: Alexei Druzhinin/Reuters


Durante a construção, foi preciso superar diversos desafios técnicos e financeiros. E, embora a península de Iamal tenha abundantes recursos naturais, fica muito isolada, ao norte do círculo ártico, a 2.500 quilômetros de Moscou, e as temperaturas podem chegar a -50°C.

Desde que as obras começaram, no fim de 2013, um aeroporto, um porto, os depósitos e a própria usina foram construídos neste ambiente gélido.

As raposas-do-ártico percorrem as avenidas do complexo pré-fabricado, que tem até uma pequena igreja ortodoxa.

Pouco antes da inauguração, centenas de funcionários trabalhavam com roupas aquecidas.

"Usamos metais especiais que resistem a temperaturas muito baixas, hoje é -25°C, mas já chegamos a -50°", explica Dimitri Manakov, diretor-assistente do projeto Iamal, caminhando pelas avenidas nevadas.

'Catedral do século 21' 

"Apesar das condições de operação complicadas, o Yamal LNG foi concluído dentro tempo e do orçamento. Isso é raro na indústria de GNL", afirmou Samuel Lussac, especialista do escritório Wood Mackenzie.

Com este lançamento, a Novatek se torna um ator global do GNL, acrescentou, e a Total ganha força no setor.

"Em Iamal, partimos de nada para construir uma catedral do século 21", disse o diretor-executivo da Total, Patrick Pouyanné, orgulhoso de ter superado os desafios e, em particular, as sanções.

As sanções dos Estados Unidos contra a Novatek impediram bancos ocidentais de financiar esse projeto. O obstáculo foi contornado com a contribuição de fundos chineses.

Isso foi um alívio para a Rússia, que pretende, com esse projeto, demonstrar sua capacidade de explorar recursos do Árctico e fortalecer sua presença no mercado de GNL. Isso vai permitir aumentar as exportações para países asiáticos e reduzir a dependência da Europa.

Mas, segundo Lussac, será preciso esperar para ver "se a fábrica pode funcionar sem problemas no ambiente hostil do Ártico". Além disso, acrescenta, "o transporte pela Passagem do Nordeste está começando, e não há certeza de que seja viável como uma rota de abastecimento de GNL".

A Rússia aposta bastante nesta rota, mais acessível devido ao aquecimento global e repleta de portos e bases militares que podem auxiliar os navios em casos de necessidade.

Esta rota permite ganhar 15 dias em comparação com a que atravessa o Canal de Suez, segundo a Total.

Em Iamal, 15 navios quebra-gelo começarão a operar progressivamente até 2019 para fornecer GNL à Europa (46%) e à Ásia (54%), de acordo com o grupo.