Entre pobreza e expansão fraca, futuro da economia russa é incerto
São Petersburgo, 15 Mar 2018 (AFP) - Embora tenha se aposentado há algum tempo, como muitos outros russos, Irina Semionova, de 70 anos, tem que continuar a trabalhar. Ela vende conservas de tomates e berinjelas na saída do metrô de São Petersburgo para complementar sua escassa pensão.
Dos 12 mil rublos (cerca de 170 euros) de sua aposentadoria, sobram apenas 4 mil (50 euros) para viver depois de pagar as contas e os medicamentos. "Pode-se viver com 4 mil rublos, sobretudo em uma cidade como São Petersburgo, onde tudo é caro?", questiona-se.
Ela encontrou a salvação em sua casa de campo, na periferia da antiga capital imperial, no noroeste do país. "Vou para lá no verão, tenho uma horta, e vendo o que cultivo, isso me ajuda a sobreviver".
Em seus dois primeiros mandatos (2000-2008), Vladimir Putin dirigiu uma economia exausta após o marasmo que se seguiu à queda da União Soviética, permitindo um aumento do nível de vida.
Mas, desde sua volta ao Kremlin, em 2012, após quatro anos no cargo do primeiro-ministro, a máquina estagnou. A Rússia acaba de passar quatro anos em queda do poder aquisitivo, porque os preços dispararam entre 2014 e 2016 devido à redução dos preços do petróleo e às sanções ocidentais ligadas à crise ucraniana.
Embora a taxa de pobreza tenha caído de 29% da população em 2000 para 10,7% em 2012, segundo a agência de estatísticas russa Rosstat, em 2016, ela voltou a subir, a 13,5%.
Segundo o Banco Mundial, menos da metade da população (46,3%) teria uma situação econômica segura - ou seja, sem risco de cair na pobreza -, dez pontos a menos que em 2014.
A situação é particularmente crítica nas zonas rurais, onde, longe da vitrine chamativa de Moscou, os salários e as pensões só permitem subsistir.
"Os preços são de loucos", denuncia Viacheslav, mecânico aposentado da região de Kaluga (200 km ao sudoeste de Moscou). "Não posso comprar nada".
Em um povoado vizinho, Tatiana Kuznetsova, de 47 anos, já sabe que terá uma aposentadoria de menos de 100 euros, apesar de ter "trabalhado duro desde a infância". Nessas condições, é impossível substituir seu veículo trepidante, lamenta esta funcionária de uma fábrica de transformação de frutos do mar.
Segundo um estudo do banco Crédit Suisse, os 10% mais ricos da população possuem 77% da riqueza, situando a Rússia no mesmo nível que os Estados Unidos em termos de desigualdade, entre os países desenvolvidos.
"Entre 2000 e 2013, o governo não teve que se preocupar demais com a economia, porque a alta da riqueza petroleira e o forte crescimento das receitas e do crédito estimularam a economia, sem o governo precisar intervir muito", considera Chris Weafer, fundador da consultoria Macro Advisory.
- 'Pobreza inaceitável' -Mas o modelo econômico baseado no petróleo enfraqueceu, segundo o economista. Embora o crescimento tenha voltado no ano passado, após dois anos de recessão, as previsões de expansão a médio prazo não superam de 1% a 2%, muito longe dos resultados dos anos 2000.
"Não basta para melhorar o nível de vida das pessoas, ou financiar mais a educação, a saúde, etc", afirma Chris Weafer.
As dificuldades recentes não afetaram, até agora, a popularidade de Putin, mas o presidente lhes dedicou uma parte de seu discurso anual diante do Parlamento, no começo de março.
Ele fixou como objetivo reduzir à metade, em seis anos, a taxa de pobreza "inaceitável" e alcançar um crescimento em torno de 4%. Também prometeu investimentos em infraestruturas, saúde e moradia, mas não deu detalhes sobre o financiamento, nem mencionou nenhuma reforma aos freios estruturais ao crescimento, principalmente demográficos.
"Ao longo da última década, escutamos palavras bonitas sobre reformas, mas isso nunca gerou nada, na prática", lamenta Neil Shearing, do escritório Capital Economics, destacando a necessidade de "políticas de redistribuição, mas de sobretudo reformas econômicas para reforçar o crescimento da produtividade, o que aumentará os salários".
Para Natalia Orlova, economista do banco Alfa, o crescimento do ano passado se explica, sobretudo, pelos gastos temporários vinculados a grandes projetos, como a ponte em construção para a Crimeia.
"Se concentrar na estabilidade do orçamento é a melhor estratégia, pois as sanções atrapalham o resto", considera.
O governo articulou sua política dos últimos anos em torno do rigor orçamentário e monetário, que se manteve aparentemente estável e impediu que os déficits e a dívida disparassem, como nos anos 1990.
Oleg Kuzmin, economista da Renaissance Capital, vê nisso uma fonte de otimismo: "O nível de vida continua sendo inferior ao que era, mas a economia se tornou consideravelmente menos arriscada: a inflação é fraca, a fuga de capitais caiu, o setor bancário foi saneado (...), isso deveria contribuir para continuar com um desenvolvimento sustentável".
bur-apo/gmo/jvb.
Dos 12 mil rublos (cerca de 170 euros) de sua aposentadoria, sobram apenas 4 mil (50 euros) para viver depois de pagar as contas e os medicamentos. "Pode-se viver com 4 mil rublos, sobretudo em uma cidade como São Petersburgo, onde tudo é caro?", questiona-se.
Ela encontrou a salvação em sua casa de campo, na periferia da antiga capital imperial, no noroeste do país. "Vou para lá no verão, tenho uma horta, e vendo o que cultivo, isso me ajuda a sobreviver".
Em seus dois primeiros mandatos (2000-2008), Vladimir Putin dirigiu uma economia exausta após o marasmo que se seguiu à queda da União Soviética, permitindo um aumento do nível de vida.
Mas, desde sua volta ao Kremlin, em 2012, após quatro anos no cargo do primeiro-ministro, a máquina estagnou. A Rússia acaba de passar quatro anos em queda do poder aquisitivo, porque os preços dispararam entre 2014 e 2016 devido à redução dos preços do petróleo e às sanções ocidentais ligadas à crise ucraniana.
Embora a taxa de pobreza tenha caído de 29% da população em 2000 para 10,7% em 2012, segundo a agência de estatísticas russa Rosstat, em 2016, ela voltou a subir, a 13,5%.
Segundo o Banco Mundial, menos da metade da população (46,3%) teria uma situação econômica segura - ou seja, sem risco de cair na pobreza -, dez pontos a menos que em 2014.
A situação é particularmente crítica nas zonas rurais, onde, longe da vitrine chamativa de Moscou, os salários e as pensões só permitem subsistir.
"Os preços são de loucos", denuncia Viacheslav, mecânico aposentado da região de Kaluga (200 km ao sudoeste de Moscou). "Não posso comprar nada".
Em um povoado vizinho, Tatiana Kuznetsova, de 47 anos, já sabe que terá uma aposentadoria de menos de 100 euros, apesar de ter "trabalhado duro desde a infância". Nessas condições, é impossível substituir seu veículo trepidante, lamenta esta funcionária de uma fábrica de transformação de frutos do mar.
Segundo um estudo do banco Crédit Suisse, os 10% mais ricos da população possuem 77% da riqueza, situando a Rússia no mesmo nível que os Estados Unidos em termos de desigualdade, entre os países desenvolvidos.
"Entre 2000 e 2013, o governo não teve que se preocupar demais com a economia, porque a alta da riqueza petroleira e o forte crescimento das receitas e do crédito estimularam a economia, sem o governo precisar intervir muito", considera Chris Weafer, fundador da consultoria Macro Advisory.
- 'Pobreza inaceitável' -Mas o modelo econômico baseado no petróleo enfraqueceu, segundo o economista. Embora o crescimento tenha voltado no ano passado, após dois anos de recessão, as previsões de expansão a médio prazo não superam de 1% a 2%, muito longe dos resultados dos anos 2000.
"Não basta para melhorar o nível de vida das pessoas, ou financiar mais a educação, a saúde, etc", afirma Chris Weafer.
As dificuldades recentes não afetaram, até agora, a popularidade de Putin, mas o presidente lhes dedicou uma parte de seu discurso anual diante do Parlamento, no começo de março.
Ele fixou como objetivo reduzir à metade, em seis anos, a taxa de pobreza "inaceitável" e alcançar um crescimento em torno de 4%. Também prometeu investimentos em infraestruturas, saúde e moradia, mas não deu detalhes sobre o financiamento, nem mencionou nenhuma reforma aos freios estruturais ao crescimento, principalmente demográficos.
"Ao longo da última década, escutamos palavras bonitas sobre reformas, mas isso nunca gerou nada, na prática", lamenta Neil Shearing, do escritório Capital Economics, destacando a necessidade de "políticas de redistribuição, mas de sobretudo reformas econômicas para reforçar o crescimento da produtividade, o que aumentará os salários".
Para Natalia Orlova, economista do banco Alfa, o crescimento do ano passado se explica, sobretudo, pelos gastos temporários vinculados a grandes projetos, como a ponte em construção para a Crimeia.
"Se concentrar na estabilidade do orçamento é a melhor estratégia, pois as sanções atrapalham o resto", considera.
O governo articulou sua política dos últimos anos em torno do rigor orçamentário e monetário, que se manteve aparentemente estável e impediu que os déficits e a dívida disparassem, como nos anos 1990.
Oleg Kuzmin, economista da Renaissance Capital, vê nisso uma fonte de otimismo: "O nível de vida continua sendo inferior ao que era, mas a economia se tornou consideravelmente menos arriscada: a inflação é fraca, a fuga de capitais caiu, o setor bancário foi saneado (...), isso deveria contribuir para continuar com um desenvolvimento sustentável".
bur-apo/gmo/jvb.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.