Facebook, ou como transformar dados pessoais em ouro
Paris, 20 Mar 2018 (AFP) - Comer saudável, ter estudado no México, amar sapatos: tantos dados aparentemente insignificantes, mas que permitem ao Facebook, atualmente em meio a uma tormenta, ganhar bilhões de dólares:
- 'Quando é de graça, você é o produto'Quem se registra na rede social imaginada por Mark Zuckerberg é recebido com esta promessa: "O Facebook é gratuito, e isso permanecerá para sempre".
Mas, se os usuários não pagam nada, como o Facebook gera seus enormes lucros - quase 16 bilhões de dólares no ano passado, um aumento de 56% em relação ao mesmo período do ano anterior?
A resposta é muito simples: via publicidade.
Por exemplo, no quarto trimestre de 2017, a receita de publicidade representava 98,5% da receita total da empresa.
O Facebook aplica literalmente um slogan bem conhecido de todos os especialistas em marketing: "Se é de graça, você é o produto".
O "produto", neste caso, são os dados que cada usuário fornece à rede social sempre que reage a várias publicações - via "curtidas", ou emoticons - que ele mesmo publica, ou pesquisa.
- Dados, um tesouro para anunciantes"Os dados são o petróleo de hoje. Têm muito valor, mas, se não forem refinados, não podem ser usados": esta citação atribuída ao matemático britânico Clive Humby em 2006 explica perfeitamente o modelo econômico do Facebook.
Ao "refinar" uma matéria-prima - bilhões de publicações, fotos, interações - o gigante da Califórnia permite que os anunciantes enviem anúncios chamados de "segmentados".
O grupo explica o procedimento em um site dedicado aos anunciantes.
"Se você deseja anunciar para pessoas com base em idade, localização, hobby, ou outro, podemos ajudá-lo a entrar em contato com aqueles que provavelmente estão interessados em seus produtos, ou serviço", informa.
"Se você tem uma loja de sapatos, você pode, por exemplo, segmentar as pessoas que compraram sapatos recentemente", diz o Facebook.
- Coleta 'perfeitamente legal'Se o Facebook está hoje no centro de uma polêmica após a exploração de dados de seus usuários por uma empresa ligada à campanha de Donald Trump, a Cambridge Analytica, seu modelo econômico como tal é legal.
A rede social não vende os dados em si, mas o acesso aos usuários que o publicam, na maioria das vezes, sem ter lido detalhadamente as condições de utilização.
"Não temos consciência de compartilhar tudo isso e, na realidade, as redes sociais nos conhecem melhor do que os nossos próprios pais", diz Nathalie Devillier, pesquisadora especializada em proteção de dados.
Também é possível restringir esse acesso dos anunciantes nas configurações de sua conta no Facebook. É possível, por exemplo, responder "não" à pergunta "Deseja ver anúncios on-line segmentados do Facebook?".
"O Facebook não vai procurar nada além do que você colocou na web. É o usuário que é responsável por isso", explica o presidente do think tank liberal GénérationLibre, Gaspard Koenig.
Este último defende que a lógica do mercado seja estendida, dando aos próprios usuários a oportunidade de venderem seus dados.
Já a União Europeia escolheu outro caminho: o de maior proteção das informações pessoais, com a entrada em vigor, no final de maio, de uma regulamentação sobre o assunto.
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