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Filhos, gravatas, cuecas e batons: o que economistas usam para 'prever' o futuro

26/03/2018 15h01Atualizada em 27/03/2018 11h57

Paris, 26 Mar 2018 (AFP) - O que têm em comum o número de filhos, as compras de papelão e as vendas de cuecas? Todos podem ser utilizados, combinados a indicadores tradicionais, para prever a evolução da conjuntura econômica.

Será que nos encaminhamos para uma crise? Para os economistas encarregados de fazer previsões, é difícil criar cenários infalíveis em um setor cheio de riscos latentes.

Os modelos sobre os quais trabalhamos são fortes, mas sempre há fatores de incerteza. Não se trata de uma ciência exata.

Mathieu Plano, do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas

Para estabelecer suas previsões, economistas e especialistas em estatísticas recorrem a indicadores chamados "avançados", como a confiança dos consumidores, o clima dos negócios ou as autorizações para construção.

Porém, além desses indicadores considerados "sérios", existem outras ferramentas mais surpreendentes, que se destacam por sua capacidade "profética".

Venda de papelão ondulado

Entre essas ferramentas estão as vendas de papelão ondulado --que, em teoria, refletem as vendas e dão um sinal da produção futura das empresas.

Durante muito tempo, isso foi considerado o melhor jeito para adivinhar a evolução da conjuntura. Hoje, é mais incerto, pois a economia se digitalizou muito.

Alexandre Mirlicourtois, diretor de estudos na consultoria Xerfi

Taxa de natalidade

Outro exemplo é a taxa de natalidade. Em um estudo recente, baseado nos casos dos últimos censos dos Estados Unidos, uma equipe de pesquisadores americanos constatou que o número de gestações começa a cair vários meses antes de acontecer uma recessão da econômica --o que poderia se tornar um sinal das mudanças de ciclos.

"A decisão de ter um filho reflete o nível de otimismo em relação ao futuro", que tende a baixar antes, inclusive caso se desencadeiem as recessões, afirma a professora de Economia Kasey Buclkes, no portal da Universidade Notre-Dame de Indiana, Estados Unidos.

A especialista considera a natalidade um indicador "tão pertinente quanto outros mais conhecidos" para prever o futuro.

Construção de arranha-céus

Outro dos indicadores mais conhecidos é o índice "arranha-céus", segundo o qual existiria uma relação entre a construção de enormes torres e o estouro de bolhas financeiras.

Em 1998, a inauguração das Torres Petronas (em Kuala Lampur) antecedeu a crise asiática. Em 1973, a abertura do World Trade  Center aconteceu pouco antes da crise do petróleo, e em 1929, as obras do Empire  State  Building coincidiram com a "grande crise".

A causa estaria na facilidade do acesso ao crédito, que estimula os projetos faraônicos ao fim do ciclo.

Gravatas, cuecas e batons

Outros indicadores geram mais receio.

As vendas de gravatas, que supostamente deveriam disparar quando aparecem os primeiros sinais de turbulências, pois os trabalhadores estariam interessados em se apresentar da melhor forma possível para evitar uma possível demissão.

Mas também há previsões para as roupas íntimas masculinas, cujas vendas cairiam, a princípio, porque os homens considerariam essa despesa supérflua em caso de crise econômica.

Esse indicador se assemelharia ao "índice do batom", segundo o qual, em tempos de recessão, as mulheres deixam produtos caros de luxo, como bolsas, para se voltarem para batons mais baratos. A teoria, que se baseou no caso da crise de 1929, não resistiu à história dos ciclos econômicos.

Existe certa lógica, mas há limitações

"Isso pode parecer irracional, mas quando vemos de perto, existe certa lógica. O comportamento dos consumidores é muito revelador da situação econômica e das mudanças de tendências", destaca Mirlicourtois.

Mas esses indicadores "não convencionais" são confiáveis?

Não estou certo de que sejam menos eficazes que as ferramentas convencionais, que também têm seus limites. O problema é que são difíceis de interpretar.

Christopher Dembik, diretor de pesquisa econômica no banco dinamarquês Saxo

Para Mathieu Plane, eles podem "servir para completar a análise", mas "não é com as vendas de maquiagem que alguém vai adivinhar a taxa de crescimento 2018-2019".

O comportamento dos atores econômicos, de fato, varia muito conforme o país e a época, o que complica a criação de modelos matemáticos.

"O que aconteceu em dado momento não tem por que necessariamente se reproduzir. Não há nada sistemático", afirma Alexandre Mirlicourtois.

Difícil prever até o presente

Para os céticos, a busca permanente por indicadores "proféticos" é mais um sintoma das fragilidades inerentes à previsão econômica.

Há uma vontade de encontrar o Santo Graal, o indicador que permitirá prever tudo. E isso leva a encontrar correlações com todo tipo de fenômenos.

Christopher Dembik, do banco dinamarquês Saxo

"A previsão funciona bem, mas em um contexto concreto", destaca Mathieu Plane, lembrando que "já é difícil por si só prever o presente".

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