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Inflação baixa dá margem de manobra a Jair Bolsonaro

11/01/2019 19h12Atualizada em 11/01/2019 20h09

Rio de Janeiro, 11 Jan 2019 (AFP) - O Brasil encerrou 2018 com uma inflação de 3,75%, o segundo menor valor desde 2006, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) nesta sexta-feira (11), um dado que alivia a pressão sobre as taxas de juros no primeiro ano de gestão do presidente Jair Bolsonaro diante do desafio de reativar a economia.

O índice IPCA ficou ligeiramente acima das previsões de mercado (3,69%) coletadas no último levantamento do Banco Central (Boletim Focus) e abaixo do centro da meta oficial, que no ano passado foi de 4,5%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

O índice de 2018 foi influenciado principalmente pelos gastos com produtos e serviços dos grupos Habitação (+ 4,72%), Transportes (4,19%), Alimentação (4,04%).

Os dados devem servir ao novo governo de Jair Bolsonaro para manter seu tom otimista em relação à economia, depois de prometer um plano abrangente para o ajuste fiscal e as privatizações liderado por Paulo Guedes.

Também deve afastar a possibilidade de um aumento na taxa básica de juros, que está em seu menor nível histórico de 6,5% desde março.

O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, comemorou o resultado ajustado à meta oficial, mas advertiu que manter a inflação sob controle é um "trabalho contínuo".

"A continuidade do processo de reformas e ajustes necessários à economia brasileira é essencial para a manutenção da inflação baixa no médio e longo prazos, para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia", afirmou nesta sexta-feira, durante evento público do BC brasileiro no Rio de Janeiro.

A inflação em 2018 foi 0,8 ponto percentual maior que a de 2017 (2,95%), que perfurou o piso da meta com o menor valor em duas décadas, após dois anos de profunda recessão com altas taxas de inflação (10,67% em 2015 e 6,29% em 2016).

Atividade econômica ainda é lenta

Segundo analistas, a baixa inflação ainda reflete em parte a lenta atividade econômica do país, que passou por duas contrações consecutivas de seu PIB de 3,5% em 2015 e 2016.

Em 2017, o crescimento foi de apenas 1% e as estimativas de mercado estão em 1,3% para 2018 e 2,53% em 2019.

"Nós viemos de uma recessão tão forte que as pessoas simplesmente não têm dinheiro para consumir", explica Camila de Caso, economista da consultoria Necton, em São Paulo.

Camila argumenta que o índice de 2018 teria sido ainda menor se o Brasil não tivesse passado pela greve dos caminhoneiros que paralisou o país e empurrou a inflação acumulada em doze meses de 2,86% em maio para 4,39% em junho e 4,48% em julho.

Segundo a especialista, o Brasil ainda está passando por um período econômico frágil, com alta taxa de desemprego (11,6%), cuja queda nos últimos meses foi impulsionada principalmente pela precarização do mercado de trabalho, ou seja, aumento de empregos informais e subemprego.

Perspectiva para 2019

A professora de Economia Margarida Gutierrez, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destaca que, além do fator de baixa demanda, o Brasil teve uma inflação controlada em 2018 porque os "preços das commodities estão em queda no mercado internacional" e isso se reflete nos preços domésticos.

Margarida acredita que, se o governo de Bolsonaro conseguir executar seu plano de ajuste e não ocorrer nenhum desastre no cenário internacional que desencadeie um aumento do dólar, o Brasil poderá reativar sua economia este ano sem pressão inflacionária.

"Tudo o que vi até agora na agenda econômica do governo está na direção certa: a reforma previdenciária, simplificação tributária, privatizações, concessões", explicou à AFP.

"A dúvida é: qual vai ser a resposta do Congresso?", acrescentou.

A expectativa do mercado é de que a inflação fique em torno de 4% em 2019, abaixo do centro da meta, modificada para 4,25%.