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Líbia registra confrontos após reuniões de secretário-geral da ONU

05/04/2019 18h17

Trípoli, 5 Abr 2019 (AFP) - O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou ter ficado "profundamente inquieto" nesta sexta (5) ao deixar a Líbia, onde estouraram violentos combates entre as forças do marechal Khalifa Haftar e as do governo Fayez al-Sarraj, reconhecido pela comunidade internacional, ao sul de Trípoli.

Diante do risco de escalada, o Conselho de Segurança da ONU se reúne, em caráter de urgência, desde as 19h00 GMT (16h00 de Brasília), a pedido do Reino Unido, para discutir a situação neste Estado petrolífero da África do Norte.

Desde a queda de Muamar Khadafi em 2011, após oito meses de revolta, a Líbia está mergulhada no caos, com a presença de muitas milícias e duas autoridades rivais que lutam pelo poder desde 2015: o Governo da Unidade Nacional (GNA) no oeste e no Exército Nacional Líbio (ENL) de Khalifa Haftar no leste.

Antes do encontro do Conselho de Segurança a portas fechadas, o o embaixador britânico Jonathan Allen pediu para o "ELN se retirar das posições que ocupava anteriormente e interromper a atividade militar". "Não há uma solução militar na Líbia e precisamos que todos voltem ao processo político", disse à imprensa.

Gutérres encontrou o primeiro-ministro líbio Fayez al-Sarraj na quinta-feira em Trípoli e se reuniu nesta sexta-feira com o seu rival, o marechal Haftar, no leste do país.

"Eu deixo a Líbia com uma profunda inquietação e o coração pesada", declarou Guterres no aeroporto de Benhazi (leste), pouco após seu encontro com Haftar, "sempre com a expectativa de que seja possível evitar um confronto sangrento em Trípoli e seus entornos".

A Líbia enfrenta um cenário de caos desde a queda do regime de Muamar Khadafi em 2011, com duas autoridades que disputam o poder há vários anos.

A região oeste está sob controle do Governo de União Nacional (GNA), com sede em Trípoli e dirigido por Fayez al Saraj. Foi instaurado em 2015 após um acordo com a ONU e é reconhecido pela comunidade internacional.

O leste do país está sob poder do Exército Nacional Líbio (ENL) autoproclamado pelo marechal Khalifa Haftar.

Os ministros das Relações Exteriores dos sete países mais industrializados do mundo (G7), reunidos em Dinard (noroeste da França), pediram o fim "imediato" de "todos os movimentos militares em Trípoli", em uma declaração conjunta.

- Tomar Trípoli -No fim do dia, começaram os primeiros combates significativos entre os dois grupos, a cerca de 50 km ao sul de Trípoli.

As forças do ENL então seguiram para o aeroporto de Trípoli, a cerca de 30 km ao sul da capital, e não utilizado desde que foi destruído em 2014 pelos combates.

O ENL conseguiu tomar o aeroporto por um breve período, antes de ser expulso por forças leais, disse o ministro do Interior da GNA, Fathi Bachagha, à emissora líbia al-Ahrar.

"A luta está ocorrendo atualmente na região de Gasr Ben Ghechir", ao sul do aeroporto, disse ele.

O porta-voz do ENL, Ahmad al-Mesmari, disse que "um importante passo adiante" foi dado na sexta-feira, enquanto reconheceu o revés sofrido pela manhã com a perda do posto de segurança a oeste de Trípoli, onde, segundo ele, 128 combatentes da ENL foram feitos prisioneiros.

Even Igri lamentou cinco mortes entre as forças da ANL desde quinta-feira, citando outra frente na região de Al-Azizia, 50 km a sudoeste de Trípoli.

Dezenas de combatentes do marechal rebelde foram feitos prisioneiros e seus veículos apreendidos. Fotos desses "prisioneiros" sentados no chão em um local desconhecido circulam nas redes sociais.

Segundo um jornalista da AFP no local, Sarraj, acompanhado de comandantes da região, foi até o posto recuperado por suas forças. Ele conversou brevemente com os homens armados na barreira, antes de retornar à capital.

Na quinta-feira, Khalifa Haftar ordenou o avanço de suas tropas para Trípoli. "Chegou a hora", disse o marechal em mensagem de áudio na página do Facebook.

O ANL deve "limpar o oeste" da Líbia, inclusive a capital Trípoli, de "terroristas e mercenários", havia anunciado o marechal rebelde na véspera.

A força de proteção de Trípoli anunciou imediatamente uma contra-ofensiva para parar o avanço dos adversários. Batizou a operação de "Uadi Dum 2", em referência à derrota em 1987 do marechal Haftar, então oficial do regime de Muammar Kadhafi, na região de Uadi Dum, na fronteira com o Chade.

Além disso, poderosos grupos armados da cidade de Misrata (oeste), leais ao GNA, se disseram "prontos para frear o avanço maldito" dos pró-Haftar.

Temendo que a situação saia do controle, o Kremlin alertou "para o risco de um novo banho de sangue", e pediu uma "solução pacífica e política" para o conflito.

Mais cedo, Estados Unidos, França, Reino Unido e Emirados Árabes haviam pedido a todas as partes envolvidas na Líbia uma desescalada das tensões.

"Neste momento delicado da transição na Líbia, a postura militar e as ameaças de ações unilaterais só fazem aumentar o risco de que a Líbia volte a mergulhar no caos", indicaram os governos destes países em um comunicado difundido pelo Departamento de Estado em Washington.

A nova escalada ocorre antes de uma Conferência Nacional patrocinada pela ONU e prevista para meados de abril em Ghadamès (sudoeste líbio), a fim de estabelecer um roteiro para a realização de eleições e, assim, tentar acabar com o impasse.

Os esforços diplomáticos dos últimos anos não permitiram um avanço real em vista de uma solução política para o país.

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