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Fiat acusa governo francês por fracasso de negociações de fusão com Renault

06/06/2019 09h50

Paris, 6 Jun 2019 (AFP) - O grupo Fiat Chrysler (FCA), de capital italiano e americano, que retirou nesta quarta-feira à noite a proposta de fusão com a Renault, um negócio que teria criado a terceira maior montadora de automóveis do planeta, culpou o governo francês pelo fracasso do projeto.

O fim das negociações provocou a queda das duas empresas na Bolsa: as ações da Renault operavam em forte queda em Paris, enquanto os títulos da Fiat Chrysler (FCA) operavam de modo estável em Milão, após um início de sessão negativo.

Em um comunicado, o grupo FCA anunciou a retirada da proposta da mesa de negociações e alegou que não havia condições políticas para concretizar a fusão.

A Fiat Chrysler responsabilizou o governo francês pelo fracasso nas negociações.

"A posição repentina e incompreensível de Bercy" - o ministério das Finanças da França - é a causa do fracasso, afirmou uma fonte próxima ao grupo ítalo-americano.

"As novas exigências do governo francês nos levaram a esta situação prejudicial para todas as partes", disse a fonte à AFP.

"A razão pela qual o acordo não aconteceu está relacionada com a preservação da aliança entre Renault e Nissan, não tem nada a ver com intervenções políticas", afirmou uma fonte do ministério da Economia francês.

"Fomos muito claros, precisávamos do apoio explícito da Nissan para que a fusão acontecesse dentro do marco da aliança Renault-Nissan", completou.

O Estado trabalhou de "maneira construtiva" no projeto, afirmou o ministro da Economia da França, Bruno Le Maire.

"Desde que a oferta foi apresentada, o Estado, dono de 15,1% do capital da Renault, a recebeu com abertura e trabalhou de maneira construtiva com o conjunto das partes envolvidas", declarou Le Maire em um comunicado.

O governo francês havia destacado quatro condições: que a operação fosse realizada no âmbito da aliança Renault-Nissan, a manutenção dos postos de trabalho industriais na França, o respeito ao equilíbrio de governança entre Renault e FCA e que a nova empresa continuasse participando em um projeto com a Alemanha para fabricar baterias elétricas.

Le Maire disse que um acordo havia sido alcançado sobre três das quatro condições: faltava apenas a aprovação da Nissan, sócia da Renault, por suas participações cruzadas.

Por este motivo, o Estado francês pediu mais cinco dias para garantir o apoio de todas as partes ao projeto de fusão.

A fusão teria criado um grupo de mais de 30 bilhões de euros em capitalização na Bolsa, com vendas anuais de 8,7 milhões de veículos e "uma forte presença em regiões e segmentos chaves".

O projeto previa a criação de uma holding com sede em Amsterdã e que pertenceria em partes iguais aos acionistas da Renault e da FCA.

Em caso de fusão, a família Agnelli, agora proprietária de 29% da Fiat Chrysler, veria sua participação reduzida a 14,5%, mas permaneceria como a principal acionista, com mais do que o dobro de participação que o Estado francês, que cairia para 7,5% do capital.

De acordo com uma fonte próxima a Renault, durante a reunião do Conselho Administrativo da Renault na quarta-feira, os conselheiros se pronunciaram a favor da fusão, com exceção do representante do sindicato CGT, enquanto os dois representantes da Nissan optaram pela abstenção.

A Nissan, da qual a Renault tem 43% do capital, e que controla por sua vez 15% da montadora francesa, não foi incluída nas negociações.

As relações entre Nissan e Renault são tensas desde a prisão em Tóquio em novembro do ex-CEO da aliança Carlos Ghosn, acusado pela Nissan no Japão de declarações falsas nos relatórios financeiros da montadora.

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