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Putin e Xi criticam domínio americano em Fórum econômico em São Petersburgo

07/06/2019 16h40

São Petersburgo, 7 Jun 2019 (AFP) - Os presidentes russo, Vladimir Putin, e chinês, Xi Jinping, formaram nesta sexta-feira uma frente comum para criticar o domínio econômico americano na sessão plenária do Fórum Econômico de São Petersburgo e exibiram sua estreita relação econômica.

O Fórum, que foi considerado o "Davos russo" quando a economia russa estava em pleno "boom", foi motivo para a Rússia e a China mostrarem a aproximação política e econômica operada nos últimos anos.

Diante dos investidores reunidos na capital imperial russa, Putin defendeu a China e condenou, na sessão plenária do fórum, as tentativas de "excluir" dos mercados mundiais a gigante de telecomunicações chinesa Huawei, suspeita de espionagem pelas autoridades norte-americanas.

Putin acrescentou que "isso já está qualificado em algumas mídias como a primeira guerra tecnológica da era digital que agora começa".

Xi Jinping disse que "a China está disposta a compartilhar com todos os seus parceiros suas invenções e seu conhecimento tecnológico, particularmente com a tecnologia 5G", disse Xi.

A Huawei está em uma situação muito delicada desde que o governo do presidente dos EUA, Donald Trump, proibiu em maio as empresas de seu país de vender material para o grupo chinês.

Essa decisão ameaça a Huawei, uma gigante industrial muito dependente de chips eletrônicos americanos para seus smartphones, segundo especialistas.

Em plena guerra comercial com os Estados Unidos, Xi foi recebido nesta sexta com todas as honras no Fórum.

O presidente chinês, que chegou na quarta-feira na Rússia, já teve uma recepção pródiga no Kremlin, onde chamou seu colega russo, Vladimir Putin, de "melhor amigo", antes de acompanhá-lo ao zoológico de Moscou para visitar dois pandas doados pela China.

"O fórum de 2019 ilustra claramente o quanto o mundo tornou-se bipolar: na mesma semana, o presidente (americano Donald) Trump tomou chá com a rainha em Londres, e o presidente Putin recebeu o presidente Xi em São Petersburgo", destaca Chris Weafer, fundador da Macro Advisory.

A aproximação entre Moscou e Pequim - que completam 70 anos de relações diplomáticas - foi reforçada após as medidas adotadas pelos Estados Unidos contra os dois países, na forma de sanções ou guerra comercial.

- Putin quer 'redefinir papel do dólar' -Putin pediu para "redefinir o papel do dólar" no sistema financeiro global, considerando que a moeda dos EUA se tornou "um instrumento de pressão" usado por Washington.

"É evidente que essas mudanças profundas (do sistema financeiro) exigem a adaptação de organizações internacionais, redefinindo o papel do dólar que, depois de ter sido uma moeda de reserva, se tornou um instrumento de pressão de seu país emissor no resto do mundo", disse Putin.

A Rússia está passando por um período de graves tensões com os Estados Unidos, que lhe impuseram drásticas sanções econômicas.

O país continua altamente dependente da moeda americana para suas trocas comerciais, particularmente os hidrocarbonetos, que respondem por grande parte de suas receitas.

As autoridades russas há muito disseram que querem "desdolarizar" a economia russa, recorrendo a transações em moedas locais para suas trocas com parceiros como a China.

- Comércio recorde -A União Europeia continua a ser o principal investidor na Rússia, à frente dos Estados Unidos e da China.

Mas em plena tensão entre a Rússia e o Ocidente, o comércio entre Moscou e Pequim aumentou 25% em 2018, para alcançar o recorde de US$ 100 bilhões, segundo o Kremlin.

A Rússia tem grande necessidade de atrair investimentos, como Putin lembrou na quinta-feira, especialmente em um contexto de desaceleração econômica no início do ano e de uma perda de popularidade do presidente russo.

No início de seu quarto mandato, no ano passado, Putin anunciou ambiciosos "projetos nacionais" de várias centenas de bilhões de euros, que é necessário financiar, e isso em um clima de negócios complicado.

Na quarta-feira no Kremlin vários acordos comerciais foram assinados, incluindo um muito simbólico em que encarrega a gigante chinesa das telecomunicações Huawei pelo desenvolvimento da rede 5G na Rússia com o operador local MTS.

Charles Robertson, economista-chefe da Renaissance Capital, espera "grandes investimentos chineses na Rússia" nos próximos anos, especialmente no âmbito das Novas Rota da Seda, um gigantesco projeto econômico de Pequim.

Entre os principais projetos que ligam Moscou e Pequim incluem o gasoduto Power of Siberia, graças a uma aliança dos gigantes russo Gazprom e chinês CNPC, e que permitirá que o gás russo seja entregue à China a partir de novembro de 2019.

O CNPC e o Silk Road Fund detêm 29,9% (contra 20% da francesa Total) do projeto de gás natural líquido Yamal LNG, do russo Novatek, na Sibéria.