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UE e Mercosul alcançam acordo em pleno auge do protecionismo

28/06/2019 17h00

Paris, 28 Jun 2019 (AFP) - O acordo comercial entre a UE e o Mercosul, fechado nesta sexta-feira (28) após mais de vinte anos de negociações e anunciado em plena cúpula do G20, chega na contracorrente da onda protecionista fomentada por Donald Trump já há dois anos.

"A mensagem que está se passando é que em um momento de turbulências em nível multilateral, em um momento de tensões, tem gente que aposta em mais cooperação e mais abertura comercial", disse à AFP Arancha González, diretora do Centro de Comércio Internacional (CCI), uma agência conjunta da Organização Mundial do Comércio (OMC) e da ONU, com sede em Genebra.

Em um momento de declínio dos intercâmbios comerciais, "se trata de um sinal forte, anunciar um acordo como este durante uma cúpula do G20, na qual Donald Trump e o presidente chinês, Xi Jinping, devem se reunir no sábado em plena guerra comercial", explicou à AFP uma fonte europeia.

Desde a sua chegada à Casa Branca, em janeiro de 2017, o presidente americano criticou o multilateralismo e pôs em dúvida os tratados comerciais, enquanto impôs tarifas alfandegárias às importações chinesas, mas também às de aço e alumínio.

O presidente americano renegociou com o Canadá e o México o acordo comercial norte-americano e se retirou do Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica (TPP), fechado por seu antecessor, Barack Obama, com 11 países da Ásia e da América.

Com um G20 que não consegue condenar o protecionismo em suas declarações desde que Trump o impede e uma Organização Mundial do Comércio (OMC) que poderia ficar paralisada no fim do ano, o anúncio do acordo com o Mercosul durante o G20 ganha um matiz simbólico.

"Não se deve esquecer que no G20 tem um monte de países que assinaram o acordo do TTP sem os Estados Unidos, entre eles o Japão, anfitrião da cúpula", reforçou González. O Canadá, que alcançou o CETA com a UE, também estará presente, lembrou.

- Boa notícia para Bolsonaro e Macri -Para Ward McCarthy, economista-chefe do banco de investimentos americano Jefferies, o principal é que as tensões comerciais diminuam o mais rápido possível para que não afetem o crescimento.

"Todo mundo se beneficia do livre comércio, mas em uma guerra comercial não há ganhador", explicou durante um encontro recente com a imprensa em Paris, quando destacou que as tensões comerciais só poderiam ser justificadas se "servirem para alcançar um objetivo".

"Se atravessando este período, bastante desagradável, se obtiver um entorno mais favorável ao livre comércio, então se pode dizer que valeu a pena", destacou. "Mas quanto mais tempo passar, pior é e não só para China e Estados Unidos, mas também para a economia mundial".

O economista fez alusão à guerra comercial entre Pequim e Washington e às negociações entre Trump e Xi, que neste sábado se reúnem em Osaka para tentar conter a escalada comercial e tecnológica aberta entre seus países.

Na Europa, a Comissão Europeia obteve o mandato para fazer negociações comerciais com Washington, mas deixando à margem a agricultura, após a decisão de Trump de dar um novo prazo antes de sancionar as importações de veículos.

O acordo também chega em um momento oportuno para o presidente Jair Bolsonaro e seu contraparte argentino, Mauricio Macri, depois da posse em janeiro do brasileiro e a aspiração à reeleição do argentino em outubro.

"Para Macri, este acordo poderia ser a oportunidade de mostrar o apoio internacional às suas reformas", explicou a fonte europeia, convencida de que Bolsonaro também precisa deste tratado, depois de uma reunião com Trump na Casa Branca, "que não terminou muito bem".

Do ponto de vista do Mercosul, "chegou o momento de fechar uma aliança estratégica com a UE, que demorou em se desenhar [...] e que busca uma maior liberalização para tornar suas economias mais competitivas".

Segundo a OCDE, os dois principais motores econômicos do Mercosul - Brasil e Argentina - estão entre os países "menos abertos" na escala mundial, paradoxalmente junto com os Estados Unidos.

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