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Brasil pede que Brics ouça 'grito' dos venezuelanos por liberdade

26/07/2019 17h51

Rio de Janeiro, 26 Jul 2019 (AFP) - O Brasil pediu nesta sexta-feira (26), durante uma reunião do grupo dos Brics, uma resposta ao "grito" dos venezuelanos pedindo liberdade, enquanto a Rússia, principal aliado no bloco do governo de Nicolás Maduro, insistiu na necessidade de que a solução para a crise no país deve ser interna, sem pressionar nenhuma das partes.

"Não podemos deixar de ouvir um grito que pede liberdade e que vem da Venezuela, do povo venezuelano", declarou o chanceler Ernesto Araújo, na abertura, no Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro, da reunião de ministros das Relações Exteriores do grupo de potências emergentes, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (Brics).

"Toda a comunidade internacional precisa ouvir esse grito, entendê-lo e agir", acrescentou o ministro.

O Brasil, além dos Estados Unidos e outros 50 países, reconhece o líder opositor Juan Guaidó como presidente encarregado da Venezuela.

O chanceler russo, Serguei Lavrov, reiterou, por sua vez, a oposição de Moscou a qualquer "interferência" em assuntos diplomáticos e destacou que "os venezuelanos devem encontrar suas próprias soluções, baseados na lei internacional".

A China, outro importante apoiador de Maduro, também insistiu, na pessoa de seu chanceler, Wang Yi, no multilateralismo como ponto comum entre os países emergentes.

O comunicado final da reunião - preparatória para a cúpula do Brics, prevista para novembro, em Brasília - insiste precisamente na necessidade de se respeitar a cooperação e o multilateralismo nas relações entre "Estados soberanos".

Mas não contém nenhuma menção ao país caribenho, mergulhado em uma profunda crise econômica, política e social que desde 2015 levou quatro milhões de pessoas a emigrar, segundo dados da ONU.

"Sobre a Venezuela, [foi] muito relevante a gente ter tido a oportunidade de ter essa discussão. [A Rússia] tem uma percepção um pouco diferente da nossa" com relação à crise venezuelana, disse Araújo na coletiva de imprensa ao final do encontro.

"A solução tem que ser construída pelos venezuelanos", afirmou. Mas o Brasil "considera que a situação tem que ser centrada no governo que nós consideramos o governo legítimo, o governo, o governo de Juan Guaidó", acrescentou.

Os Estados Unidos, o principal apoiador de Guaidó, impôs sanções a Maduro e dezenas de seus funcionários.

O Grupo de Lima, do qual o Brasil faz parte, pediu nesta semana que se faça um grande esforço para que a Venezuela celebre em breve eleições que levem ao restabelecimento da ordem democrática e advertiu que caso contrário haverá mais pressão e sanções.

- Brasil e China, sem atritos -Araújo negou qualquer atrito com a China, principal parceiro comercial do Brasil e um importante investidor na maior potência latino-americana.

"Nunca tivemos problema algum com a China. Nosso problema era relativo à maneira em que o Brasil organizava ou não organizava suas relações com a China", disse Araújo, que na véspera se reuniu pela primeira vez com seu contraparte chinês, Wang Yi.

Uma relação próxima com a China, país governado pelo Partido Comunista, foi impulsionada durante a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), preso por corrupção.

Empresários e diplomatas brasileiros temiam que a chegada ao poder do presidente Jair Bolsonaro - um admirador de Donald Trump que, durante a campanha acusou a China de querer "comprar o Brasil" - afetasse as relações bilaterais. O capitão provocou, ainda, os líderes chineses ao visitar Taiwan, considerada por Pequim uma província rebelde.

Após assumir a Presidência, em janeiro, Bolsonaro buscou aprofundar as relações com governos de viés conservador, como o de Trump nos Estados Unidos, e o de Benjamin Netanyahu em Israel, distanciando-se dos países em desenvolvimento.

Mas a forte desaceleração da economia brasileira e a pressão dos poderosos setores do agronegócio e da mineração - cujas exportações são absorvidas maciçamente pelo país asiático - moderaram os setores mais ideológicos do bolsonarismo.

"A China sempre negociou muito bem (...) Nós só pensamos que o Brasil deve melhorar nas negociações", comentou Araújo.

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