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Com ou sem governo, economia espanhola continua a crescer

26/07/2019 14h31

Madri, 26 Jul 2019 (AFP) - A Espanha voltou a acumular meses sem um governo empossado, mas sua economia cresce com mais vigor do que a média da zona do euro.

Desde 29 de abril, o presidente do governo em exercício, o socialista Pedro Sánchez, limita-se a administrar assuntos correntes, como fez seu antecessor conservador Mariano Rajoy por dez meses, após duas eleições legislativas - um em dezembro de 2015, e outra, em junho de 2016.

- Previsões revisadas para cima -A Espanha saiu de uma longa recessão no fim de 2013 e, desde então, somou três anos de crescimento superior aos 3% entre 2015 e 2017, e de 2,6%, em 2018.

Após um começo de ano melhor do que o esperado, as principais instituições econômicas revisaram em alta nas últimas semanas suas previsões de crescimento para 2019.

Assim, a Comissão Europeia elevou sua previsão em dois décimos, a 2,3%, contra o 1,9% estimado para o conjunto da zona do euro.

As projeções do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial também subiram dois décimos - de 2,1% para 2,3%, e de 2,2% para 2,4%, respectivamente.

De acordo com o BM, o crescimento continuará alimentado pelo dinamismo do consumo, aumento dos salários e juros baixos, que estimulam o poder aquisitivo.

O salário mínimo subiu 22% em janeiro, uma das principais medidas de Sánchez. Este aumento será "menos propício", porém, para ampliar o consumo do que a própria criação de empregos, detalhou o Banco de Espanha.

A taxa de desemprego caiu de seu auge de 27%, em 2013, para 14%, no fim de junho. Ainda assim, continua sendo a segunda maior da zona do euro, atrás apenas da Grécia.

- Efeito recuperação -A economia espanhola, assim como outras da zona do euro que foram duramente castigadas pela crise, como a irlandesa e a portuguesa, continua se beneficiando de um efeito de recuperação, pouco sensível às vicissitudes da política, disse Josep Comajuncosa, economista da escola de comércio Esada, à AFP.

"Os trabalhadores e a capacidade produtiva das empresas que estavam fora de uso durante a crise estão sendo incorporados ao processo produtivo", explicou Comanjucosa.

O aumento do consumo das famílias e das exportações e o leve aumento dos gastos públicos estão compensando a incerteza que pesa sobre os investimentos das empresas, detalha esse economista.

Além disso, "o efeito da incerteza em relação às questões globais (guerra comercial, Brexit) é maior do que a pequena incerteza adicional que pode haver na Espanha, devido ao fato de ainda não haver governo".

O bloqueio político e a multiplicação de eleições (três nos últimos quatro anos) suspenderam, porém, algumas reformas importantes.

Os investimentos públicos em infraestrutura estão sendo feitos com base em orçamentos repetidos de um ano para o outro, devido à incapacidade de sucessivos governos de aprovarem um novo texto. Consequentemente, "o investimento público está bem abaixo do que deveria ser".

Por todas essas razões, o bloqueio político "diminui o potencial de crescimento para o futuro", resume Josep Comajuncosa.

"Já estamos há muitos anos sem um governo estável, que, portanto, não pode fazer frente aos desafios da economia do nosso país e mercado de trabalho", lamenta Maricruz Vicente, do sindicato Comisiones Obreras (CO), um dos principais da Espanha.

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