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Brasil escapará da recessão, afirmam analistas

28/08/2019 15h28

Rio de Janeiro, 28 Ago 2019 (AFP) - Os dados de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil devem apontar que o país escapou da recessão, mas ainda precisa que as reformas liberais impulsionadas pelo governo de Jair Bolsonaro renda os frutos prometidos e esperados pelos mercados, afirmam analistas.

Um índice de atividade do Banco Central (IBC-BR) previa, no começo de agosto, uma retração do PIB de 0,13% no segundo trimestre em relação ao primeiro. A expectativa média de 31 economistas consultados pelo jornal Valor é de um crescimento de 0,2%.

Caso isso se confirme, o país voltaria à recessão - definida como dois trimestres consecutivos de retração econômica -, já que entre janeiro e março cresceu -0,2%.

Maior economia da América Latina, o Brasil ainda não superou a recessão de 2015 e 2016, que rendeu uma redução de 6,7% do PIB e foi seguida por dois anos de crescimento fraco - 1,1% em 2017 e em 2018.

Neste ano, segundo previsões do governo e do mercado, a expansão será de apenas 0,8%. O valor é bem inferior às projeções do começo do ano, quando Bolsonaro chegou ao poder, de um crescimento de 2,5%.

"No primeiro semestre, a gente teve esse mau resultado basicamente em função de duas coisas: primeiro, porque mesmo com mudanças do governo, e mesmo com uma expectativa positiva que havia em relação às novas políticas, o mercado ficou um tanto parado esperando a aprovação da Reforma da Previdência", disse à AFP o economista Mauro Rochlin, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro.

A segunda é que "essa política de austeridade do governo, nesse primeiro momento ela gera um crescimento menor na economia", completou.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, garantiu neste mês que os resultados vão chegar antes do fim do mandato de Bolsonaro em 2022. "Deixem um governo liberal ter uma chance, esperem quatro anos. Não trabalhem contra o Brasil, tenham um pouco de paciência. Esperem a vez de vocês"

- Turbulências -O economista Silvio Campos Neto, da consultoria Tendencias, prevê "uma retomada gradual, moderada, porém sobre bases bem mais sólidas do que no passado".

A estrada, além de íngreme, tem pouca visibilidade, por causa das nuvens que se acumulam sobre a economia regional e mundial: incertezas eleitorais na Argentina, guerra comercial China-Estados Unidos, desaceleração das principais economias, sem mencionar as que podem ter um impacto direto no Brasil.

Há "um quadro global bem desafiador, mas o que compensa é que é um cenário global ainda líquido, e se o Brasil fizer o dever de casa bem feito e o mundo não passar por uma grande crise (...) eventualmente o Brasil até poderia se beneficiar atraindo recursos para projetos de investimento", opina Campos Neto.

"Apesar das turbulências, tem caminhado: a Previdência já passou na Câmara, tende a passar também no Senado, medidas de cunho estrutural que têm sido colocadas na tentativa de redução do custo Brasil, medidas de redução de burocracia, de melhora ambiente negócios", bem como a queda consistente da taxa básica de juros, a Selic, completa.

Tudo isso, enquanto se aguarda a implementação do programa de privatização e outras reformas prometidas, como a tributária.

- Lidar com Bolsonaro -Bolsonaro é o fiador político de reformas impopulares, mas suas polêmicas constantes com países que são importantes mercados para o Brasil preocupam o mundo dos negócios.

A última delas, em torno dos incêndios na Amazônia, levam ao questionamento do recente acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul devido à política ambiental do Brasil.

"Certamente [essas declarações] têm um peso, mas caso não houvesse esse tipo de situação, certamente o clima, o ambiente interno seria melhor e própria recuperação poderia acontecer de uma forma mais rápida e um pouco mais intensa", estima Campos Neto.

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