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Caos e violência levam governo a impor toque de recolher em Quito

12/10/2019 21h43

Quito, 13 Out 2019 (AFP) - A violência mergulhou Quito no caos neste sábado (12). Manifestantes atearam fogo a um prédio público e atacaram veículos de comunicação, o que levou o governo a impor toque de recolher na capital no contexto de um protesto de indígenas contra ajustes econômicos.

O novo dia de manifestações em repúdio às medidas pactuadas com o FMI se degradou rapidamente.

Nos arredores da Assembleia Nacional, indígenas ergueram barricadas com troncos e escudos de madeira e enfrentaram com pedras e pirotecnia a Polícia, que respondeu com bombas de gás lacrimogênio.

Grupos de encapuzados atacaram a sede da Controladoria, que ficou envolta em chamas.

O presidente Lenín Moreno impôs o toque de recolher e ordenou a militarização desta cidade de 2,7 milhões de habitantes. A medida drástica, que proíbe a circulação em Quito e arredores, começou a vigorar às 15H00 locais (17H00 de Brasília). Nenhuma autoridade informou sobre sua vigência.

"Dispus ao Comando Conjunto das Forças Armadas, imediatamente, tomar as medidas e operações que sejam necessárias", destacou o presidente em breve pronunciamento à Nação.

Antes do cair da noite, as forças de segurança ainda se esforçavam para impor a ordem em alguns pontos da cidade, onde grupos de pessoas desafiavam o toque de recolher.

O caos se espalhou no mesmo dia em que o movimento indígena aceitou dialogar com o governo, em busca de uma saída para a crise severa que explodiu há 11 dias.

Moreno acompanha a situação da cidade portuária de Guayaquil, aonde transferiu a sede de governo após decretar o estado de exceção nacional em 3 de outubro e mobilizar as Forças Armadas em uma tentativa de conter o descontentamento social.

Desde então, morreram seis civis e foram registrados 2.100 feridos e detidos, segundo a Defensoria do Povo.

Os protestos também mantêm interrompido o trasporte de petróleo - a maior fonte de divisas - pelo principal oleoduto do país por causa da ocupação de poços na Amazônia.

- "Não deixem que nos matem" -Amparado no estado de exceção, que a princípio permite restringir alguns direitos por 30 dias, o governo já tinha determinado um toque de recolher ao redor dos edifícios públicos da capital.

As pessoas que esvaziaram pouco a pouco as ruas exigiam o fim da repressão oficial.

"Onde estão as mães e os pais dos policiais? Por que deixam que nos matem?", clamou, chorando, a indígena Nancy Quinyupani.

A imprensa também foi alvo de violência. Manifestantes atacaram as instalações da Teleamazonas e do jornal El Comercio. O canal, que se mantém no ar, retirou 25 funcionários sem reportar nenhuma vítima.

"Por cerca de meia hora, fomos atacados, começaram a apedrejar, forçar as portas e depois a lançar bombas incendiárias", contou no ar Milton Pérez, jornalista e apresentador da Teleamazonas.

O El Comercio, principal jornal de Quito, denunciou no Twitter que sua sede tinha sido atacada "por um grupo de desconhecidos", sem dar maiores detalhes.

O movimento indígena, que lidera o protesto contra os ajustes que encareceram em até 123% o preço dos combustíveis, negou que seus militantes estejam envolvidos nos ataques aos prédios ou à emissora.

- Diálogo incipiente -"Vamos restabelecer a ordem em todo o Equador", prometeu Moreno após agradecer a decisão dos povos originários de se sentar para dialogar frente à frente, embora não tenha revelado nem quando, nem onde começarão as conversas.

A Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie), que a princípio tinha refutado a oferta, informou ter decidido finalmente "participar" de um encontro com o presidente depois de "um processo de consulta com as comunidades".

No poder desde 2017, o governante enfrenta sua maior crise devido às reforças que acordou com o FMI para aliviar o pesado déficit fiscal que atribui aos gastos excessivos, o endividamento e a corrupção do governo de seu antecessor e ex-aliado Rafael Correa.

Além do fim dos subsídios, as medidas preveem cortar direitos de funcionários públicos.

Os indígenas, que representam 25% dos 17,3 milhões de equatorianos, são o setor mais castigado pela pobreza e em sua maioria trabalham no campo.

Com a liberação dos preços dos combustíveis, precisam pagar mais para transportar seus produtos, ao mesmo tempo em que temem uma inflação generalizada.

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