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Argentina endurece o controle do mercado cambiário após vitória de Fernández

28/10/2019 14h48

Buenos Aires, 28 Out 2019 (AFP) - O Banco Central da Argentina decidiu aplicar um controle rígido do mercado de câmbio a partir desta segunda-feira, para preservar as reservas internacionais, no dia seguinte às eleições presidenciais que deram a vitória ao opositor peronista de centro-esquerda Alberto Fernández.

O BC reduziu de 10.000 a 200 dólares mensais o montante máximo que as pessoas podem comprar para poupança, anunciou o presidente da entidade, Guido Sandleris.

A medida foi tomada para "preservar as reservas durante este período de transição até que o novo governo defina sua política econômica e se dissipe a incerteza", explicou.

Os argentinos voltam a ter um restrito limite cambial que os impede de acumular dólares, um habitual refúgio no país para se protegerem da alta inflação e de sucessivas desvalorizações, durante a transição de 44 dias até a posse de Fernández em 10 de dezembro.

- "Não são fáceis" -Após o anúncio, as casas de câmbio começaram a operar nesta segunda-feira com uma cotação do peso fortalecido em 3,17%, a 63 por dólar, mas duas horas depois da abertura dos bancos ficou no mesmo nível da sexta-feira passada.

Ao assumir em dezembro de 2015, Mauricio Macri havia eliminado o controle cambial disposto por sua antecessora, Cristina Kirchner (2007-2015), agora vice-presidente eleita.

"Os tempos que vêm não são fáceis", antecipou Fernández no domingo a seus apoiadores, ao anunciar um encontro com Macri na sede governamental, onde esteve nesta segunda-feira sem fazer declarações.

Fernández, um advogado de 60 anos, teve 48,1% dos votos na eleição presidencial de domingo contra o liberal Macri, que ficou com 40,3%.

"Começaremos a falar (com Macri) do tempo que resta. Claro, vamos colaborar com tudo que pudermos porque o que nos interessa é que os argentinos deixem de sofrer de uma vez", assegurou Fernández.

Sua vitória acontece em plena ebulição na América Latina, com protestos em massa no Chile, na Bolívia e no Equador.

Fernández recebeu mensagens de felicitações dos governos de México, Bolívia, Cuba, El Salvador e Venezuela. Em contraste, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, afirmou que a Argentina "escolheu mal" e assegurou que não parabenizará Fernández.

- Recessão, inflação e pobreza -O novo presidente assumirá em meio a uma recessão econômica, com alta inflação (37,7% até setembro) e aumento da pobreza (35,4%).

Das primárias de 11 de agosto, em que Fernández conseguiu 49% dos votos e Macri 33%, o Banco Central perdeu 22 bilhões de dólares, segundo a Sandleris.

Somente na sexta-feira passada, a dois dias da eleição, o Banco Central perdeu 1,75 bilhões de dólares de reservas internacionais.

As reservas internacionais se encontram em 43,5 bilhões de dólares. A dívida chega aos 315 bilhões de dólares, quase 100% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo as agências de classificação de risco.

Em 2018, a Argentina obteve um auxílio de 57 bilhões de dólares do Fundo Monetário Internacional (FMI) em troca de um severo ajuste fiscal.

Até agora o país recebeu 44 bilhões de dólares desse empréstimo, mas o organismo se manteve à espera dos resultados eleitorais antes de fazer o desembolso de 5,4 bilhões de dólares, previsto para setembro.

Em sua primeira reação, a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, parabenizou Fernández e se declarou "ansiosa para poder trabalhar com seu governo para abordar os desafios econômicos enfrentados pela Argentina e para promover um crescimento inclusivo e sustentável".

Considera-se que haverá uma negociação com o organismo multilateral.

"Há uma grande incerteza após a contundente vitória de Alberto Fernández na Argentina, mas é preciso destacar que durante sua presidência será inevitável uma reestruturação da elevada dívida", apontou a consultoria Capital Economics.

- "Sinal de tranquilidade" -Para o analista político Raúl Aragón, "é muito importante que imediatamente Macri e Fernández deem sinal de tranquilidade aos mercados e à sociedade".

"Terão que fazer isso em conjunto, terão que tomar medidas juntos. O presidente Macri as toma porque conserva a autoridade para isso, mas Alberto Fernández terá que dizer que concorda", opinou.

Fernández não foi explícito sobre as medidas que aplicará quando assumir.

Em campanha eleitoral, pediu uma trégua de 180 dias aos sindicatos e aos movimentos sociais enquanto a indústria decola.

"Há um princípio de acordo porque de alguma maneira todos nos damos conta de que a situação é grave", afirmou Aragón.

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