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EUA e China assinam acordo comercial 'transcendental'

15/01/2020 17h07

Washington, 15 Jan 2020 (AFP) - Após quase dois anos de conflito, Estados Unidos e China, as duas maiores economias do mundo, assinaram nesta quarta-feira (15) uma trégua que gera alívio no mundo todo.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump - alvo de um julgamento político que pode lhe custar o cargo -, celebrou nesta quarta-feira a assinatura do que chamou de acordo "transcendental".

Contudo, as tarifas sobre bilhões de dólares em produtos importados da China continuarão em vigor - deixando a conta a ser paga para os consumidores e empresas americanos.

Chamado de "fase um", o acordo inclui o compromisso da China de elevar substancialmente suas compras de produtos americanos, proteger a tecnologia estrangeira e aplicar novos mecanismos de cumprimento das normas comerciais.

"Hoje damos um passo transcendental que nunca demos antes com a China" e que vai garantir "um comércio limpo e recíproco", disse Trump na cerimônia de assinatura do texto na Casa Branca.

Enquanto Trump falava longa e ininterruptamente, as principais emissoras de TV interromperam a transmissão ao vivo da cerimônia para exibir a apresentação, no Congresso, das acusações contra ele.

O afrouxamento das tensões entre as duas potências animou os mercados nas últimas semanas.

Trump assinou o acordo com o principal negociador chinês, Liu He, vice-primeiro-ministro do país.

Ele também agradeceu o presidente chinês, Xi Jinping, e prometeu que visitará a China "num futuro não muito distante".

"As negociações foram duras", disse Trump, mas levaram a um resultado "incrível".

O mandatário americano afirmou que as tarifas impostas aos produtos chineses vão se manter até que a "fase dois" seja concluída.

"Estou deixando-os ligados, caso contrário não temos cartas para negociar", admitiu.

Ele leu uma carta do presidente Xi Jinping que descreveu o acordo como "bom para a China, os EUA e o mundo inteiro".

Os assuntos mais delicados, entretanto, ficaram para a segunda fase de negociações. Entre eles, estão os enormes subsídios às empresas estatais.

Poucas horas antes da assinatura, o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, pressionou Pequim a se manter na mesa de negociações e fazer maiores concessões - entre elas, algumas sobre cibersegurança e acesso de empresas americanas à China para que Washington possa aliviar as tarifas.

"Na fase dois, haverá reduções adicionais", declarou Mnuchin à emissora CNBC. "Isso dá à China um grande incentivo para voltar à mesa e aceitar assuntos adicionais que ainda não estão resolvidos".

Contudo, elementos do acordo que Washington considera sucessos, efetivamente levam a relação entre superpotências ao mesmo lugar em que estavam quando Trump chegou à Casa Branca em 2017.

"A primeira fase do acordo entre EUA e China é, essencialmente, uma trégua comercial, com grandes compras dirigidas pelo Estado como novidade", afirmou em análise a economista Mary Lovely do Instituto Peterson de Estudos Econômicos.

Ela alertou, contudo, que "continuaremos vendo o impacto disso nos custos mais elevados das empresas e investimentos mais lentos".

Após anunciar o acordo em 13 de dezembro, os Estados Unidos cancelaram uma nova leva de tarifas que entraria em vigor dois dias depois. Além disso, prometeu reduzir à metade a tarifa de 15% a 120 bilhões de dólares sobre produtos chineses imposta em 1 de setembro.

- O que diz o acordo? -A China concordou em pagar US$ 200 bilhões adicionais em produtos americanos em dois anos, segundo o acordo assinado na Casa Branca por Liu e Trump.

Esse volume inclui US$ 32 bilhões em produtos agrícolas e marinhos, quase US$ 78 bilhões em bens como aeronaves, maquinário e aço e US$ 54 bilhões em produtos do setor de energia.

Os fazendeiros americanos foram duramente atingidos pela guerra tarifária, a exportação de soja à China, por exemplo, caiu a US$ 3 bilhões, contra mais de US$ 12 bilhões em 2017. O governo deu US$ 28 bilhões em ajudas aos produtores agrícolas nos últimos dois anos.

Mas muitos economistas se perguntam se existe capacidade de cobrir essa demanda.

E Lovely tem dúvidas de que pode ser bom depender do mercado chinês.

"Também significa que poderia ocorrer uma represália chinesa, moderando a vontade dos fazendeiros de investir para cumprir os elevados objetivos de exportação do pacto", disse.

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