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Presidente do Fed diz que monitora os riscos globais do coronavírus

11/02/2020 16h20

Washington, 11 Fev 2020 (AFP) - O Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos) monitora de perto os possíveis impactos econômicos da epidemia de coronavírus que matou mais de 1.000 pessoas na China, disse nesta terça-feira seu presidente, Jerome Powell.

O banco central americano "acompanha de perto a emergência do coronavírus, que pode levar a perturbações na China que afetam o resto da economia global", declarou Powell ao Comitê de Serviços Financeiros da Câmara de Representantes durante a apresentação de um relatório sobre política monetária.

O surgimento do vírus interrompeu fretes da China e suspendeu negócios, o que poderia atrasar o envio de peças cruciais para fabricantes estrangeiros.

Powell fez essas declarações ao Congresso um dia após o presidente Donald Trump apresentar seu projeto orçamentário de US$ 4,8 trilhões.

Segundo Powell, um orçamento "mais sustentável" ajudaria no crescimento econômico dos Estados Unidos, mas ele se mostrou otimista em termos de desempenho econômico, citando a sólida criação de empregos e uma expansão constante.

No entanto, advertiu que os riscos permanecem. "Encontramos a economia americana em ótima posição, com bom desempenho", disse o chefe do Fed.

A situação certamente vai afetar a China e seus vizinhos e sócios de Ásia e Europa, mas a pergunta é se haverá um impacto "material" e "persistente" na economia americana e global.

"Sabemos que haverá muito provavelmente alguns efeitos nos Estados Unidos, (mas) acho que é cedo demais para dizê-lo", afirmou Powell. "Temos que resistir à tentação de especular sobre isso", acrescentou.

Nicholas Lardy, acadêmico da China no Instituto Peterson de Economia Internacional, afirmou que o país poderia ver uma desaceleração do crescimento no primeiro trimestre a 4%, mas "o efeito adverso sobre o crescimento anual será muito menor".

No entanto, a epidemia gerou "um vento de proa para a economia global".

- Trump, mais uma vez contra Powell -Enquanto apresentava seu testemunho, o presidente Donald Trump lançou um novo ataque ao presidente do Fed.

Wall Street avançava nesta terça nas primeiras horas com o Dow Jones em seu máximo histórico antes de recuar. Trump culpou Powell.

"Quando Jerome Powell começou seu testemunho hoje, o Dow avançava 125, e subia. Enquanto falava, começou uma queda marcada, e agora está a -15 ", afirmou Trump em sua conta no Twitter.

Frequentemente, Trump investe contra o Fed e já atacou Powell pessoalmente em suas mensagens, qualificando-o de incompetente e exigindo-lhe uma redução das taxas de juros para estimular o crescimento.

"A taxa do Federal Reserve á alta demais; o dólar é duro para as exportações", explicou Trump no Twitter.

Powell manteve a postura do Fed sobre a política monetária atual, indicando ser "provável que siga sendo apropriada" e apenas mudará se surgirem fatores que obriguem reavaliar as perspectivas.

O Fed espera que a inflação se aproxime da meta 2% nos próximos meses, depois de se distanciar no final de 2019.

Durante o ano passado, uma desaceleração no crescimento e conflitos comerciais "pesaram sobre a atividade nas fábricas da nação", disse Powell.

A incerteza propiciou a baixa nas taxas três vezes durante 2019 para ajudar a sustentar uma economia em um 11º ano consecutivo de crescimento.

Em janeiro, o governo acordou uma trégua comercial com a China, que freou a escalada de tarifas alfandegárias e assinou um tratado revisado com México e Canadá.

"Algumas das incertezas sobre o comércio diminuíram recentemente", disse Powell. "Mas os riscos no futuro ainda permanecem".

- Um papel a cumprir -Powell insistiu em que os funcionários que puxam as cordas do caixa do governo têm um papel a desempenhar na sustentação da economia, tanto como instituição, especialmente sobre a eventualidade de um cenário negativo.

"Seria importante que a política fiscal ajude a manter a economia caso se debilite", afirmou.

As atuais taxas de juros dos EUA, um indicador-chave para a economia, estão em níveis baixos de 1,5% a 1,75%, o que deixa pouca margem de manobra ao Fed.

No dia seguinte à apresentação por Trump de seu projeto de orçamento, prevendo uma continuidade do déficit durante ao menos 15 anos, Powell voltou a defender um "orçamento mais sustentável" que ajude a sustentar o crescimento econômico no longo prazo.

O projeto de orçamento avalia que a economia vai acelerar até um crescimento 3% durante vários anos, uma projeção que alguns economistas consideram pouco realista e que a história aponta como improvável, especialmente depois de uma década de expansão.

Espera-se que o déficit da economia supere a marca do trilhão de dólares este ano.