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País da 'dolce vita', Itália vê futuro sombrio e difícil após pandemia

Bartender com máscara e luvas em Bolzano, na Itália - Alessio Coser/Getty Images
Bartender com máscara e luvas em Bolzano, na Itália Imagem: Alessio Coser/Getty Images

29/05/2020 13h39

Com a recessão mais severa desde a Segunda Guerra Mundial e a confiança dos investidores perdida, devido à pandemia de coronavírus, os empresários italianos veem o futuro da terceira economia na zona do euro como sombrio.

Em maio, o índice de confiança nos negócios atingiu o nível mais baixo já registrado desde março de 2005, quando começou a ser medido pelo Instituto Nacional de Estatística (Istat). De março a maio deste ano, em meio à pandemia, este índice caiu de 79,5 para 51,1 pontos.

"São dados alarmantes, uma vez que a emergência econômica e de saúde afetou as empresas, especialmente as que atuam no comércio, nos serviços e no turismo", disse a Confesercenti, organização que representa as pequenas e médias empresas (PMEs) nesses setores.

Os empresários estão preocupados com "a falta de liquidez, necessária para cobrir as despesas e garantir os salários (...) Estamos prestes a chegar ao ponto de não retorno", reconheceu a presidente da organização, Patrizia De Luise.

Em nome desses empreendedores, Patrizia pediu ao governo que as medidas tomadas - entre elas garantias de empréstimos e auxílios à perda de fundos para as PMEs - sejam "imediatamente operacionais".

Para ela, "é necessário reduzir a burocracia, acelerar e simplificar os procedimentos, porque, se os apoios demorarem mais, muitas empresas não terão escolha a não ser interromperem suas atividades", afirmou.

Uma polêmica foi deflagrada, depois que o governo acusou os bancos de serem muito lentos na aprovação do acesso dessas empresas a recursos públicos. Já os bancos alegam que processaram 400.000 pedidos de empréstimos ao Fundo Público de Garantia, no total de 18 bilhões de euros (20 bilhões de dólares).

Um milhão de empregos ameaçados

Primeiro país a ser afetado pela pandemia na Europa, a Itália impôs medidas rigorosas de contenção por dois meses, paralisando grande parte de sua atividade econômica. No primeiro trimestre, seu Produto Interno Bruto (PIB) caiu 5,3% em relação ao trimestre anterior, um declínio acima do esperado e nunca visto em 25 anos, conforme o Istat.

O país deve registrar sua pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial este ano, com uma queda no PIB estimada pelo Banco da Itália, nesta sexta-feira, de 9% para 13%.

Para Carlo Bonomi, presidente da Confindustria, a principal confederação do setor industrial, "entre 700.000 e um milhão de empregos estão em perigo" na península.

"Criam-se empregos, se houver crescimento, inovação e investimento. A crise do setor automobilístico não se resolve com empréstimos, ou desemprego técnico. Resolvemos isso olhando para o futuro. Precisamos investir em novas tecnologias", afirmou.

Parece, no entanto, haver alguma esperança no horizonte: o plano de recuperação de 750 bilhões de dólares da UE (US$ 835 bilhões) anunciado esta semana, dos quais a Itália será o primeiro destinatário, com 172 bilhões de euros (190 bilhões de dólares) em subsídios e empréstimos.

Sem ajuda

Os italianos como um todo parecem resistir, embora o país da "dolce vita" esteja de luto pela morte de 33.000 pessoas, vítimas do novo coronavírus. Além disso, a confiança do consumidor caiu de 100,1 para 94,3, no período de março a maio, o nível mais baixo desde o final de 2013.

Embora o Estado tenha apoiado o desemprego temporário e aprovado uma remuneração para os funcionários que perderam o emprego, um bom número de pessoas foi esquecido.

É o caso de Eleonora Fogliacco, de 35 anos, professora de natação e fitness na Lombardia, uma região particularmente afetada, que ordenou o fechamento de piscinas e centros esportivos no final de fevereiro. "Não consegui ter acesso à ajuda de 600 euros (670 dólares) por mês fornecida pelo governo, porque ganhei mais de 10.000 euros (US$ 11.100) no ano passado", lamentou a jovem, que de repente se viu sem emprego.

"Durante o fechamento, alternei dias muito calmos e dias em que me senti completamente perdida, sem nenhuma ajuda do Estado, não via futuro algum e não sabia em que me segurar", confessou. "Não compro nada. Dependo do meu companheiro para fazer o mercado", reconhece.

Para Eleonora, a pandemia "mudou a vida de todos". Ela acredita que "o futuro próximo" será muito complicado.

Segundo uma pesquisa da Confcommercio-Censis publicada na terça-feira, 52,8% das famílias italianas veem o futuro como sombrio para si mesmas, e 67,5%, para todo país.

Devido ao confinamento, 42,3% registraram redução de renda, 25,8% deixaram de trabalhar, e 23,4% ficaram desempregados. Além disso, seis em cada dez famílias temem perder o emprego.