PIB do Brasil cai 1,5% no primeiro trimestre por efeitos iniciais da pandemia
Rio de Janeiro, 29 Mai 2020 (AFP) - O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou contração de 1,5% no primeiro trimestre de 2020 em comparação com o trimestre anterior - é o que apontam dados divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira (29), que mostram o impacto inicial das medidas adotadas desde março para conter a pandemia de coronavírus.
A queda na comparação com o mesmo trimestre de 2019 foi de 0,3%, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No primeiro trimestre, o PIB do país foi afetado por uma contração de 1,6% do setor de serviços, e de 1,4%, na indústria, enquanto a agricultura teve crescimento de 0,6%.
"Aconteceu no Brasil o mesmo que ocorreu em outros países afetados pela pandemia, que foi o recuo nos serviços direcionados às famílias, devido ao fechamento dos estabelecimentos. Bens duráveis, veículos, vestuário, salões de beleza, academias, hotelaria, alimentação sofreram bastante com o isolamento social", explicou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
Os governadores de vários estados, incluindo São Paulo e Rio de Janeiro, determinaram na segunda quinzena de março quarentenas parciais para frear a pandemia que, desde então, acumula mais de 400.000 casos de contágio e mais de 26.000 mortos no país.
As medidas foram adotadas em meio a uma série de polêmicas com o presidente Jair Bolsonaro, que critica o isolamento por seu impacto na economia.
Os dados de março antecipam um segundo trimestre em queda livre: a produção industrial recuou 9,1% na comparação com fevereiro, e o setor de serviços teve retrocesso de 6,9%. A produção de automóveis praticamente parou (-99%).
O governo e os analistas projetam um cenário melhor no segundo semestre. Ainda assim, os investidores calculam que 2020 terminará com uma recessão de 5,9%, de acordo com a mais recente pesquisa Focus de expectativas de mercado, realizada semanalmente pelo Banco Central.
A crise já provoca um forte impacto no mercado de trabalho.
A taxa de desemprego no Brasil aumentou a 12,6% no trimestre de fevereiro a abril (contra 11,2% no período de novembro a janeiro), e o país perdeu 4,9 milhões de postos de trabalho.
O Brasil deve entrar em uma nova recessão, depois das registradas em 2015 (-3,5%) e em 2016 (-3,3%), que foram acompanhadas por três anos de crescimento frágil, pouco acima de 1%.
As quedas mais expressivas do PIB do Brasil aconteceram em 1981 (-4,25%) e em 1990 (-4,35%), na chamada "década perdida" da América Latina, dominada pela crise da dívida, de acordo com o IBGE.
Os analistas da MCM Consultores consideram que "o processo de deterioração das expectativas de crescimento (e, portanto, do emprego) não deve se encerrar tão cedo" e que o Brasil enfrenta "o pior dos mundos: um longo ciclo de contaminação (da pandemia) (...) e um também prolongado período de perdas econômicas".
A consultoria atribui o panorama à "discordância sobre o que fazer em relação ao vírus, por parte do presidente, dos governadores e dos prefeitos, às falhas e atrasos na implantação de essenciais medidas econômicas emergenciais e à baixa adesão da população ao distanciamento social, por necessidade, ou não".
js/mel/fp/tt
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