Tensão na UE após votação na Holanda contra acordo comercial com o Mercosul
Bruxelas, 4 Jun 2020 (AFP) - A União Europeia está em uma posição incômoda nesta quinta-feira (04) devido à votação nesta semana no parlamento holandês de um texto contra o acordo comercial assinado há um ano com o Mercosul, o que complica a ratificação pelos países membros.
"É um sinal político. Se até a Holanda se opuser, isso será difícil", admitiu uma fonte europeia.
O porta-voz da Comissão Europeia, Daniel Rosario, afirmou que está "consciente do debate sobre o acordo comercial que existe em vários Estados-membros".
"Ouvimos atentamente os diferentes pontos de vista", afirmou.
Mas para Bruxelas, esse acordo "promove valores como o desenvolvimento sustentável e tem vantagens para agricultores, produtores e consumidores europeus", acrescentou Rosario.
A câmara baixa do parlamento holandês votou na terça-feira uma moção pedindo ao governo que informe Bruxelas que está retirando seu apoio a este acordo, criticado por suas consequências ao meio ambiente e aos agricultores.
O governo holandês, que ainda não reagiu ao assunto, tem que dizer se a decisão dos deputados deve ou não ser mantida, informaram porta-vozes parlamentares à AFP.
"Essa decisão põe em risco o acordo comercial mais importante assinado pela UE" e "coloca o governo holandês em uma posição muito difícil", estimou Raoul Leering, analista da empresa ING.
Por um lado, "exigir que a Comissão Europeia renegocie um acordo que levou 20 anos prejudicaria a reputação" de Haia em Bruxelas, afirmou o especialista.
Mas por outro, "é difícil ignorar a votação do parlamento" holandês, acrescenta.
Antes da Holanda, o parlamento austríaco também pediu ao seu governo que se opusesse à assinatura deste acordo, principalmente devido às dúvidas geradas pelos compromissos do Brasil com o meio ambiente.
Outros países como Bélgica, França, Irlanda e Luxemburgo também mostraram suas reservas sobre este acordo, assinado em junho de 2019.
Fontes de Bruxelas explicaram que a Comissão queria acelerar o processo de ratificação do acordo na segunda metade de 2020, quando a Alemanha presidirá a UE.
A ideia é que esse acordo não interfira na campanha presidencial francesa de 2022, um país onde os agricultores o veem com maus olhos.
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