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Inundações, coronavírus e praga de gafanhotos no leste da África

19/06/2020 10h51

Nairóbi, 19 Jun 2020 (AFP) - Primeiro, foram as inundações causadas pelas chuvas e a pandemia do novo coronavírus. Agora, a África Oriental se prepara para receber uma terceira onda de gafanhotos do deserto que ameaçam sua segurança alimentar.

Este inseto de apenas dois gramas, que chegou ao Iêmen no final de 2019 e se reproduziu exponencialmente, graças a condições climáticas favoráveis, reúne-se em enxames que podem atingir milhões de indivíduos que devoram a vegetação em seu caminho.

"Dezenas de milhares de hectares de campos e pradarias já foram danificados em todo Chifre da África e na África Oriental", de acordo com um relatório do International Rescue Committee em 3 de junho.

Na Etiópia, entre janeiro e abril, os gafanhotos destruíram 1,3 milhão de hectares de pastagens e cerca de 200.000 hectares de campos, causando a perda de 350.000 toneladas de cereais, indica o órgão regional IGAD, em um relatório publicado em 4 de junho.

Essas primeiras estimativas correspondem à primeira e à segunda onda de gafanhotos - em novembro-fevereiro e depois em fevereiro-maio - e não incluem danos totais, porque as investigações foram desaceleradas pelo novo coronavírus.

"Mesmo sem dados completos (...) A Etiópia foi o país mais atingido em termos de impacto nas lavouras, seguida da Somália", disse Kenneth Kemucie Mwangi, analista do ICPAC, programa de monitoramento climático do IGAD.

No início de fevereiro, a Somália declarou estado de "emergência nacional" para a praga.

Tanzânia, Ruanda e Burundi não sofreram.

- 400 bilhões de gafanhotos mortos -Diante do risco para a segurança alimentar, o Banco Mundial aprovou um programa de ajuda de US$ 500 milhões em maio, e operações de controle são realizadas desde fevereiro, principalmente a disseminação de pesticidas.

"Cerca de 400.000 hectares foram controlados na região entre janeiro e meados de maio. Isso corresponde, de acordo com nossas estimativas, a 400 bilhões de gafanhotos mortos", aponta Cyril Ferrand, especialista da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), com sede em Nairóbi.

O inseto multiplica sua população por 20 a cada três meses, ressalta.

No Quênia, o inseto está presente em três municípios semiáridos do norte do país: Turkana, Samburu e Marsabit.

Felizmente, a primeira onda de gafanhotos não afetou as colheitas de fim de ano.

"Não vimos sinais do impacto em larga escala na segurança alimentar no momento", disse Lark Walters, da Famine Early Warning Systems Network (FEWS Net), uma organização de vigilância de segurança alimentar financiada pelos Estados Unidos.

Segundo esse analista, porém, as consequências podem ser graves no nível local em comunidades já afetadas por outros problemas.

A África Oriental enfrenta uma série de problemas desde o final de 2019, como fortes chuvas, gafanhotos e a pandemia de coronavírus.

Esses "choques" também se acumulam no nível macroeconômico, como apontou a agência FitchRatings em 11 de junho.

De acordo com a instituição, se o coronavírus é o primeiro fator que afeta o crescimento, os gafanhotos representam "um risco adicional negativo à nota soberana dos Estados da África Oriental".

A ameaça persiste à espera da terceira onda prevista para as próximas semanas.

"Estamos preocupados com a colheita de junho a julho", diz Lark Walters, para quem partes da Etiópia, especialmente o norte, de onde vêm 90% das culturas de cereais, estão particularmente em risco.

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