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Cortar gasto público muito rápido pode prejudicar recuperação, alerta FMI

10/07/2020 17h41

Washington, 10 Jul 2020 (AFP) - A dívida pública global vai atingir o máximo histórico em 2020, devido aos esforços dos governos para impedir um colapso da economia em consequência da pandemia de coronavírus, mas o FMI adverte que cortar os gastos públicos muito rápido pode prejudicar a recuperação.

Continuar prestando apoio durante a crise será "fundamental", disse Vitor Gaspar, diretor do Departamento de Finanças Públicas do FMI, em entrevista à AFP.

"O risco de uma retirada prematura do apoio fiscal é o risco dominante", ainda mais do que os altos níveis atingidos pela dívida, estimou o economista que afirmou que a recuperação da crise financeira de 2008 foi desacelerada por esse falso passo de os governos.

Gaspar, juntamente com Gita Gopinath, economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), alertaram em uma publicação no blog da agência nesta sexta-feira que será necessário que os gastos públicos continuem "sendo solidários e flexíveis até que seja garantida uma maneira duradoura de sair da crise".

A dívida pública alcançará neste ano um máximo histórico, ultrapassando o tamanho da economía global, segundo o FMI. A previsão é de que o déficit dos Estados seja cinco vezes maior do que se estimava para 2020 antes da pandemia.

A crise de saúde e o confinamento para conter um vírus, para o qual não existe vacina, demandaram uma "imensa resposta fiscal", próxima dos US$ 11 trilhões para ajudar as famílias e impedir a falência de empresas.

"Mas as políticas de resposta contribuíram para que a dívida global alcance o nível máximo na história e supere 100% do PIB global", destacam os especialistas do FMI.

E ambos alertam: "Ainda não estamos fora de perigo".

A instituição multilateral com sede em Washington, que historicamente defende os cortes dos gastos públicos, está em uma posição pouco habitual de pedir aos governos para dar liquidez à economia e, ao mesmo tempo, advertir sobre os obstáculos que restam pelo caminho, especialmente se acontecer uma segunda onda de contágios.

"Embora a trajetória da dívida possa continuar aumentando (...) uma redução da presença fiscal mais cedo do que o justificado representa um risco ainda maior para a recuperação, com custos fiscais mais elevados no futuro", acrescentam os economistas.

Em um momentos em que a pandemia deixou 12 milhões de casos confirmados no mundo, com mais de 555.000 mortes, "a prioridade número um" é a crise sanitária e estabelecer políticas para conter a doença para que a vida e a economía possam voltar à normalidade, disse Gaspar.

- Transformação "profunda" -Depois da crise financeira global de 2008, muitos governos reduziram seu plano de estímulo ao primeiro sinal de uma estabilização de suas economias. Essa decisão levou a uma recuperação mais lenta.

Para os economistas, agora "está clara a necessidade de um apoio fiscal contínuo", embora eles apontem que os países terão de encontrar uma forma de financiar esses estímulos, de modo que a dívida não se torne insustentável.

Gaspar projeta que os níveis da dívida pública devem se estabilizar e começar a cair em 2021.

Entre as receitas mencionadas pelos economistas, está uma melhora da arrecadação de impostos, uma reforma tributária para torná-los mais progressivos - de modo que quem tem mais pague mais - e eliminar os subsídios para combustível.

Além disso, os economistas ressaltaram que, diante da "profunda" transformação das economias, os governos devem concentrar seus esforços nos setores que vão sobreviver à crise.

"Inclusive, ainda que muitos países saiam timidamente deste grande confinamento, diante da ausência de uma solução para a crise de saúde, continuam havendo grandes incertezas sobre o caminho para a recuperação", completam os especialistas.

Ambos advertem ainda que muitos dos empregos destruídos pela crise "provavelmente não vão se recuperar".

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