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Necessidade leva mexicanos às ruas, apesar de retomada da covid

08/02/2021 10h14

México, 8 Fev 2021 (AFP) - As mortes diárias por covid-19 somam milhares no México e as chamadas para ficar em casa estão se multiplicando. Mas Gerardo Acevedo, que sempre ganhou a vida nas ruas, não tem escolha a não ser arriscar.

Acevedo está entre a maré de vendedores ambulantes da Cidade do México, onde a suspensão das atividades essenciais em vigor desde 18 de dezembro não impede negócios de todos os tipos, nem as multidões no transporte público.

"Eles nos dizem para ficar em casa e não sair, mas o que comeremos?", diz Acevedo, de 52 anos, em sua barraca de meias no centro da capital. "Tenho que sustentar meus filhos, meus genros, meus netos".

Acevedo também teve que trabalhar no ano passado quando os comércios não essenciais fecharam, e faz o mesmo agora que algumas lojas do centro foram reabertas com a obrigação de atendimento externo.

"Temos nos saído muito mal", assegura.

A Cidade do México acumula quase 31 mil mortes por causa da pandemia. Em todo o país, de 126 milhões de habitantes, ocorreram 166,2 mil mortes e 1,9 milhão de infecções.

- Dura realidade - Perto do ponto de Acevedo, dezenas de pessoas aguardam em frente a lojas de perfumaria, roupas ou ferramentas, pois ali se abastecem muitos comerciantes da região metropolitana do Vale do México, que cobre a capital e reúne 22 milhões de habitantes.

Ao fundo, os gritos dos camelôs: "O que você procura?", "Para quem gosta de coisa boa, que gosta de qualidade!" ou "pastilhas para dor de garganta!"

Fazem parte dos 29,5 milhões de trabalhadores informais contabilizados pelo instituto mexicano de estatística, o INEGI.

Esse setor representa quase um quarto da economia mexicana -a segunda maior da América Latina depois do Brasil-, que em 2020 contraiu 8,5%.

Embora milhares de empregos tenham sido recuperados, até dezembro passado havia 2,1 milhões de desocupados, 3,8% da população economicamente ativa.

"Há indisciplina social, mas a realidade é que nesta cidade muitos têm que sair para buscar sua renda", afirma César Salazar, do Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade Nacional Autônoma do México.

Na esteira da pandemia, a pobreza no México pode ter aumentado para 62,2 milhões de pessoas em 2020, contra 52,4 milhões em 2018, de acordo com uma estimativa do Conselho de Avaliação da Política de Desenvolvimento Social.

- "Alarme falso" -Marisela Monzón cobre seu carrinho de tacos com um pano preto, antecipando a chegada da polícia para expulsá-la da via pública.

Tem que vender e "torear", prática em que os ambulantes correm para se esconder quando a polícia chega.

A mulher de 54 anos denuncia que o apoio do governo local mal chegou à despensa, por isso tem que trabalhar a semana toda para sustentar quatro filhos e um neto.

"Imagina, chega o locatário e eu falo pra ele 'pega um quilo de feijão'. Ele não vai aceitar. Se a gente ficar doente eu vou pegar um quilo de arroz e dar para o médico como pagamento?", ironiza.

Monzón se comunica com seus colegas por rádio para alertar sobre a presença da polícia.

De repente, um deles diz "alarme falso" e eles voltam aos seus postos.

Apesar de optar por uma política de austeridade diante da crise, o governo montou uma linha de microcrédito para pequenos negócios que, segundo especialistas, é insuficiente.

E não são apenas os ambulantes que desafiam o vírus. Nos horários de pico, os ônibus e metrôs da capital viajam lotados de pessoas com máscaras.

"Não podemos ficar em casa", justifica Brianda Romero, engenheira de 27 anos, em um ponto na capital.

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