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Sistema de jovens 'au pair' em risco pelo Brexit

Sistema popular no universo anglo-saxão consiste em uma família hospedar e pagar pouco dinheiro para um jovem estrangeiro que aprende inglês - Getty Images
Sistema popular no universo anglo-saxão consiste em uma família hospedar e pagar pouco dinheiro para um jovem estrangeiro que aprende inglês Imagem: Getty Images

24/02/2021 11h53

Londres, 24 Fev 2021 (AFP) - Para dezenas de milhares de famílias britânicas, o sistema de babás por jovens estrangeiros que moravam na mesma casa era uma alternativa barata. Mas depois do Brexit, a opção se tornou quase impossível.

O sistema de jovens 'au pair', muito popular no universo anglo-saxão, consiste em uma família hospedar e pagar pouco dinheiro para um jovem estrangeiro que aprende inglês e se aproxima da cultura britânica, em troca de um certo número de horas de atenção e cuidado aos filhos da família de acolhida.

Até o final do ano passado, os jovens que queriam embarcar nessa aventura não precisavam cumprir nenhuma formalidade. Agora, com o Brexit, precisam obter um visto de trabalho.

O problema é que os 'au pair' são considerados trabalhadores qualificados, portanto, devem receber um mínimo de 20.000 libras por ano (cerca de US$ 28.000) para obter o visto. Uma soma bem acima das 100 libras ($ 140) que as famílias normalmente pagam por semana, o que equivale a cerca de 5.000 libras (cerca de $ 7.000) por ano.

"É muito caro para as famílias", diz preocupada Clare James, uma mãe que usa este sistema há dez anos para cuidar de seus dois filhos, Elliott e Jacob. Este ano, ela recebeu apenas uma inscrição para o próximo ano letivo, em vez dos "10 ou 15" de antes.

Perda drástica

As agências encarregadas de localizar os 'au pair' confirmam a magnitude do desastre. "Com as novas regras, perdemos pelo menos 90% das inscrições", lamenta Cynthia Cary, da agência Rainbow Au Pair.

"Desde janeiro, explicamos a todos que não poderemos alocar nenhum jovem europeu, porque eles simplesmente não podem vir legalmente para o Reino Unido", explicou. "O Brexit matou nosso negócio".

Os jovens que não passam por uma agência para encontrar sua família anfitriã, às vezes não sabem da necessidade de ter um visto, então correm o risco de receber uma multa alta por trabalho ilegal ou serem expulsos assim que chegarem ao país.

Atualmente, os únicos estrangeiros que as agências podem alocar são europeus que entraram em território britânico antes do Brexit ou estrangeiros de nove países, como Canadá e Austrália, que podem se beneficiar de outro tipo de visto, conhecido como "jovem".

No entanto, é um grupo que está longe de atender à demanda, que chega a 45 mil 'au pair' por ano, segundo a Association of British Au Pair Agencies (Bapaa).

"É uma pena para as famílias que trabalham duro", lamenta Clare. Segundo ela, muitos lares não têm capacidade financeira para pagar uma "babá" inglesa, que custaria cerca de 2.000 libras mensais, sem a "flexibilidade" de um jovem que mora em casa.

"Nossa 'au pair' partirá este verão e não sei como vou fazer", diz Aurélie Nuret, preocupada. Segundo ela, o sistema é muito utilizado em Fulham, bairro onde mora na zona oeste de Londres. "Mais uma vez, isso afetará as mães que trabalham".

Intercâmbio cultural

Jessie Clapp se encontra nesta situação, porque "certamente terá que parar de trabalhar quando sua au pair francesa for embora em julho", o que também a faz lamentar "os anos que compartilhou" com "irmãs mais velhas" que tanto contribuíram para seus filhos em um nível cultural.

"Assinei cada petição, contatei todos os deputados possíveis, mas (todos) fizeram ouvidos surdos aos nossos apelos desesperados".

Por sua vez, agências como Rainbow Au Pair afirmam ter alertado o governo por anos, sem sucesso. Pediram que os europeus pudessem se beneficiar do visto "jovem".

"Mas, enquanto isso não acontecer, não podemos fazer nada, estamos indefesos", diz Cynthia Cary.

"Uma jovem francesa de 18 anos não vem para ganhar dinheiro, mas para melhorar o idioma", afirma. "Eles esqueceram que era principalmente um programa de intercâmbio cultural, que não deveria ser visto como um trabalho".