Economia mundial continua forte apesar de desigualdades regionais, diz economista-chefe do FMI
A economia mundial permanece sólida apesar das turbulências persistentes, mas a evolução de várias economias avançadas é desigual e algumas importantes, como a China, mostram sinais de desaceleração, alertou à AFP o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Pierre-Olivier Gourinchas.
Pergunta: O relatório anual das previsões do FMI sinaliza as desigualdades entre Estados Unidos, que atualmente têm um melhor rendimento, e os países europeus. Quais são as razões, para além das preocupações energéticas recentes?
Resposta: As consequências da invasão russa da Ucrânia no mercado energético são essenciais. A Europa é uma importadora líquida de energia: quando os preços sobem, tem que pagar mais, o que a torna mais pobre. Pelo contrário, para os Estados Unidos não importa: quando os preços sobem, ficam mais ricos.
A segunda razão se dá ao consumo americano, que tem se mostrado resiliente. As famílias economizaram durante a pandemia, mas na Europa ainda não começaram a utilizá-lo, ao contrário das famílias americanas, que apoiaram a atividade.
Por último, observamos algumas diferenças na transmissão da política monetária à economia real. As taxas em ambas as regiões aumentaram acentuadamente, mas nos Estados Unidos, os empréstimos imobiliários, por exemplo, têm taxa fixa. Assim, aqueles que foram assinados antes do aumento das alíquotas não foram afetados.
Simultaneamente, a política orçamentária na Europa retornou a níveis mais neutros, enquanto nos Estados Unidos o déficit público continua sendo significativo, o que no final, de certa forma, apoia o crescimento.
P: Na Europa, a situação da economia alemã chama a atenção, o FMI também prevê uma recessão de 0,5% para este ano. Há motivos para preocupação a longo prazo?
R: A situação atual da economia alemã é resultado da combinação de duas forças muito poderosas. Uma delas corresponde ao [impacto] das preocupações energéticas em uma indústria manufatureira que consome muito energia e, até agora, muito dependente do fornecimento da Rússia. Este foi um enorme choque para a economia alemã. A segunda é o ajuste da política monetária, que tem impacto no custo de vida e no poder de compra das famílias. Assim, observamos um consumo bastante fraco, e o mesmo acontece com os investimentos. A isto soma-se uma transferência de despesas, de bens para serviços, e, sobretudo, no turismo. Após um pico na demanda por bens, assistimos a um reequilíbrio que não favorece a economia alemã.
Mas continua sendo uma economia com muitos recursos, com margem a nível orçamentário, capacidade de adaptação, um formidável poder industrial e tecnológico e uma mão-de-obra qualificada. No que nos diz respeito, não há com o que se preocupar.
P: Vocês revisaram em baixa as suas previsões de crescimento para a China, com a crise no setor imobiliário pesando sobre a atividade como um todo. Deveria o governo chinês fazer mais para evitar que a crise se instalasse?
R: Em efeito, revisamos nossas previsões, em grande parte por conta da crise do setor imobiliário, que poderá prejudicar ainda mais a economia chinesa se nada for feito. O setor representa uma parte importante da atividade na China, os bancos podem começar a se preocupar com a sua solidez financeira, uma vez que os corretores têm em mãos inúmeras casas para as quais não conseguem encontrar compradores e que não conseguem finalizar, isso pode levar a um problema de liquidez. Isso também representa um problema para os governos locais, uma vez que o setor gera uma parte importante das suas receitas através da venda de terrenos.
Do nosso ponto de vista, isso requer uma ação em grande escala e muito vigorosa por parte do governo, para devolver a confiança ao setor, garantir a estabilidade financeira e empregar os corretores em dificuldades. Assim, talvez o setor possa se recuperar, mas será necessário um certo número de ajustes.
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© Agence France-Presse
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