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Executiva com 9 filhos é contra cotas, mas quer mais mulheres na liderança

Reprodução/BBC
Imagem: Reprodução/BBC

Katie Hope

23/02/2015 17h49

Helena Morrissey, de 48 anos, é uma mulher admirada por muitos. Mãe de nove filhos, ela é também a diretora executiva da empresa global de investimentos Newton Fund Management – o topo da carreira em uma indústria notoriamente dominada por homens.

Este nível hierárquico na carreira ainda é relativamente difícil para uma mulher – estatísticas recentes mostram que mulheres são apenas 22,8% das diretorias das empresas listadas no índice FTSE 100 (as cem maiores presentes na Bolsa de Valores de Londres). Nos conselhos das empresas do índice FTSE 250, elas estão em número ainda menor: 17,4%

Chegar a diretora executiva é ainda mais raro. Somente cinco mulheres são chefes nas 100 maiores empresas.

Além de estar à frente de uma companhia responsável por mais de 50 bilhões de libras (R$ 222 bilhões) em fundos, Morrissey ainda tem uma família enorme. "Eu tenho que priorizar rigorosamente, mas também tenho que controlar muito o meu tempo", diz.

Ela contratou uma babá e seu marido fica em casa com os filhos, mas ela afirma que ser uma diretora executiva fez com que ela tivesse mais liberdade para lidar com suas responsabilidades.

Morrissey não é a única mulher em um cargo de prestígio a afirmar que a promoção foi o caminho que possibilitou equilibrar melhor a família e o trabalho.

A diretora executiva do Yahoo, Marissa Mayer, diz que chegar ao posto mais alto na empresa significou que, quando deu à luz o filho – meses depois de ter sido promovida –, ela pôde fazer uma creche particular ao lado de seu escritório.

Da mesma forma, a diretora de operações do Facebook Sheryl Sandberg escreveu um livro em que afirmava que assumir mais responsabilidades no trabalho abre espaço para mais mulheres em posições de liderança, o que pode levar a um tratamento mais justo das mulheres no ambiente de trabalho.

Melhor desempenho

"Eu quero estimular outras mulheres que podem estar olhando e pensando 'como é possível fazer tudo isso?' a seguir em frente até chegar ao ponto em que você tenha mais controle", diz Morrissey.

Ela diz ser contra cotas que tornariam obrigatória uma determinada porcentagem de mulheres em cargos de comando, mas afirma pressionar por uma presença feminina maior nos conselhos das empresas.

Em novembro de 2010, quando mulheres diretoras eram apenas 12,5% dos membros de conselhos empresariais, Helena Morrissey criou a campanha "Clube dos 30%", com o objetivo de ter mulheres ocupando a direção de 30% das 100 maiores empresas no índice FTSE até novembro de 2015.

A executiva também comanda o grupo ativista Opportunity Now, que há 20 anos tenta diminuir a desigualdade de gênero nos ambientes de trabalho.

"Quando vejo algo que não está certo, minha tendência é tentar mudá-lo. Acredito em ser justo e igualitário. Reconheço que nem todo mundo recebe as mesmas oportunidades de bandeja, e isso é uma parte importante do que me motiva."

As campanhas, além de seu trabalho diário, consomem bastante tempo, mas Morrissey afirma que os clientes compreendem suas atribuições. Para ela, a luta por mais espaço para mulheres também se relaciona com o trabalho que a empresa faz.

"Não estamos só construindo passivamente uma empresa, estamos pensando lateralmente. Empresas que entendem a importância da diversidade geralmente são inteligentes de outras formas também", defende.

Novas pesquisas tem corroborado a visão de Morrissey. Um estudo da Fundação Thomson Reuters com 4.100 empresas, analisadas entre 2008 e 2013, encontrou uma forte relação entre conselhos empresariais mistos e melhores performances.

Já o banco suíço Credit Suisse, que analisou as performances de três mil empresas em todo o mundo entre 2012 e 2014, concluiu que os negócios com pelo menos uma mulher no conselho diretor tiveram um desempenho cerca de 2% melhor do que os que não tinham mulheres no comando.

No entanto, Morrissey admite que, na prática, o ajuste necessário para ter mais mulheres entre os altos executivos não é tão simples. Ela lembra que pesquisas também demonstraram que as mulheres veem os exemplos de mulheres bem sucedidas na mídia como "pouco realistas", mas diz que não sabe o quanto deve revelar sobre a sua própria experiência.

"A pergunta é: quão honesta eu devo ser? Porque se as pessoas puderem me imaginar carregando cestos de roupa em casa, elas provavelmente não se sentiriam animadas a perseverar em suas carreiras."

Dentro de sua empresa, ela faz questão de deixar claro quando suas demandas familiares são prioridades. Por exemplo, quando avisou que não poderia ir a uma reunião nos Estados Unidos, que estava marcada para o mesmo dia do aniversário de duas de suas filhas.

"Senti que precisava falar, ao invés de ficar agonizando quando a data foi marcada na agenda", conta.