Encontros regados a sopa ajudam Detroit a se recuperar da crise econômica
Detroit já foi um grande centro manufatureiro nos Estados Unidos, mas foi à falência em 2013. Agora, um inovador projeto de financiamento coletivo chamado "Detroit Soup" está ajudando a cidade americana a se recuperar.
Em uma típica noite de inverno no Estado de Michigan, de neve e baixas temperaturas (-15ºC), muitas pessoas ficariam pouco entusiasmadas em sair de casa.
Mas "as 'sopas' de inverno sempre vão bem", diz Amy Kaherl, 33, fundadora do Detroit Soup, enquanto preparava um dos eventos. "As pessoas ficam felizes em poder sair da hibernação."
Com uma pequena equipe voluntária, um salão vazio é rapidamente enchido com mesas repletas de pão e sopa. Os participantes logo chegam com bandejas de bolos, doces e potes de comida.
Kaherl e seus amigos começaram o projeto com o objetivo de ajudar artistas locais a realizar sua ambição criativa. Passados cinco anos, o "Soup" se tornou um amplo movimento na cidade, indo muito além da comunidade artística.
"Hoje fazemos nossa 95ª sopa e arrecadamos mais de US$ 85 mil", ela diz.
O conceito é simples: cada participante paga US$ 5 para entrar e ouvir três ou quatro pessoas apresentar uma ideia de como melhorar a comunidade local. Cada apresentador tem no máximo quatro minutos para "vender" sua ideia, e recursos como PowerPoint são proibidos. A plateia pode fazer, no máximo, quatro perguntas.
Quando as apresentações terminam, a sopa é servida. O público então vota na sua ideia favorita - e a vencedora leva todo o dinheiro arrecadado na bilheteria e usa-o para financiar seu projeto, com a promessa de voltar ali em três meses e relatar seu progresso.
Projetos
Na noite acompanhada pela reportagem da BBC, as ideias que disputavam financiamento incluíam um projeto de agricultura urbana, uma biblioteca comunitária para o Mês da História Negra e um grupo de apoio para pessoas sob risco de serem despejadas.
Em seu princípio, o Detroit Soup era comandado dentro de uma padaria local. Quarenta pessoas participaram do primeiro evento, que arrecadou US$ 110 para um projeto de arte local.
O projeto cresceu e agora ocupa um antigo estúdio cinematográfico, antes usado para produzir peças publicitárias do Exército americano. E as ideias vencedoras costumam receber financiamento superior a US$ 1 mil.
Já foram financiados uma companhia de teatro que realiza apresentações gratuitas de Shakespeare; um grupo que constrói bancos para pontos de ônibus; e uma empresa start-up que transforma pedaços de muros grafitados em joias.
O maior sucesso do projeto chama-se Empowerment Plan: uma organização sem fins lucrativos que produz casacos que podem ser convertidos em sacos de dormir. Eles são doados aos sem-teto da cidade.
A fundadora da ideia, Veronika Scott, apresentou-a em 2010, quando ainda era estudante. Para sua surpresa, ela arrecadou US$ 850. Pouco dinheiro, mas bem o que ela precisava.
"O dinheiro só vai até um ponto, e foi gasto rapidamente. Foi o voto [do público da Sopa] que fez a diferença - o voto de confiança", diz Scott. "Foi a primeira vez que eu falei do projeto em público, e as pessoas disseram: 'Isso pode virar um ótimo negócio e você deve tentar concretizá-lo'."
Após sua vitória na Sopa, a imprensa cobriu a história, o que atraiu investidores.
Hoje, o Empowerment Plan tem 25 funcionários, recrutados nos abrigos da cidade e treinados para produzir os casacos/sacos de dormir. No ano passado, o projeto distribuiu cerca de 4,5 mil casacos para sem-teto dos EUA. Neste ano, esperam produzir mais de 6,5 mil.
Apesar de o projeto ter conquistado apoios importantes - incluindo o de uma marca de roupa e da cantora Madonna, nativa de Michigan -, o objetivo é que possa caminhar sobre as próprias pernas.
"Temos um produto (atraente) para caçadores, pessoas que acampam, mas não temos vendido para eles. Nos próximos anos, queremos vender para esse público para financiar o trabalho (de doação) nas ruas", agrega Scott.
Expectativas
O sucesso do Empowerment Plan é o sonho de muitos do que apresentam suas ideias perante o público do "Detroit Soup".
"Temos um vencedor", anuncia Kaherl após as apresentações. "O Tricycle Collective vai para casa com US$ 1.151. Parabéns!"
O Tricycle Collective ajuda famílias que estão tendo sua casa tomada por conta de dívidas - um grande problema em Detroit, repleta de casas vazias e vandalizadas.
"É maravilhoso receber este tipo de apoio", celebra Michele Oberholtzer, fundadora do projeto. "Acredito no que estou fazendo, e é maravilhoso que outras pessoas acreditem também."
Graças a doações de grupos de caridade, Kaherl hoje vive por conta do "Detroit Soup" e ajuda a lançá-lo em outras cidades americanas e internacionais.
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