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Brexit: quem pode lucrar com a decisão britânica de sair da UE?

Redacción - BBC Mundo

30/06/2016 18h31

A decisão do Reino Unido de sair da União Europeia gerou uma série de sinais confusos em relação à direção que o país tomará nas áreas política e econômica. Ao mesmo tempo, há gente se beneficiando da instabilidade que se seguiu à votação do Brexit?

Alguns investidores anunciaram lucros milionários ao apostar no resultado do plesbiscito da semana passada.

E, fora do Reino Unido, haverá concorrentes da economia britânica que verão como boas notícias os graves indícios de instabilidade nos mercados desde sexta-feira passada.

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Os que se beneficiaram com a desvalorização

Um dos sinais mais contundentes da preocupação nos mercados britânicos foi a queda, quase sem precedentes, da libra esterlina nas primeiras horas após o plebiscito.

Após dois dias de quedas históricas, a libra se estabilizou na terça-feira e na quarta-feira.

Mas alguns especialistas e investidores famosos, como George Soros, falam da possibilidade de uma libra mais enfraquecida no futuro.

A desvalorização da libra pode favorecer alguns setores da economia britânica.

Será mais barato, por exemplo, para que estrangeiros viajem de férias para Londres - o que poderia beneficiar o setor turístico.

"As empresas exportadoras também se beneficiarão de uma moeda mais fraca pois seus produtos serão mais competitivos", diz o editor de negócios da BBC, Kamal Ahmed.

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"E, para qualquer empresa que receba verbas em dólares, inluindo muitas empresas farmacêuticas e petroleiras, uma queda na libra esterlina é positiva".

Mas outros analistas advertem que essa vantagem poderia ser anulada se houver uma elevação da inflação e se subirem os custos de produção internos para as empresas britânicas.

Além disso, decisão do Reino Unido de sair da União Europeia pode ter colocado em risco seu acesso àquele que é o maior mercado para as exportações britânicas. Assim, mesmo que mais baratas, as exportações britânicas poderiam ser submetidas a tarifas ou outros impostos para entrar no bloco.

Segundo analistas, a incerteza legal desencadeada pelo Brexit pode fazer também com que empresários fiquem relutantes em investir em empresas baseadas no Reino Unido.

A concorrência estrangeira

Se a economia mundial for de fato um jogo em que o resultado final sempre é zero - pensando que a perda de um é necessariamente o lucro de outro -, é possível especular que a queda britânica gerará vantagens para seus competidores.

Por exemplo, já se diz que Frankfurt pode se tornar a nova capital europeia das finanças se os bancos internacionais começarem a sair de Londres - algo que têm especulado fazer devido ao resultado do plebiscito sobre a União Europeia.

Mas outros discordam e dizem que o efeito geral do Brexit não é dar a um outro país a mesma vantagem que tirou de outro, mas pode sim prejudicar todos os países em conjunto. Eles dizem que a saída iminente do Reino Unido lança dúvdas sobre toda a União Europeia, o maior bloco comercial do mundo.

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Por isso, é possível que o Brexit tenha um efeito de desaceleração sobre toda a economia mundial e nesse sentido todos, inclusive os potenciais concorrentes dos britânicos, sairiam perdendo com o efeito de uma economia global prejudicada.

Os especuladores

Os mercados financeiros são famosos pelas apostas milionárias que fazem a respeito dos eventos futuros.

O investidor húngaro-americano George Soros ganhou centenas de milhares de dólares em um só dia em 1992 quando apostou que o Reino Unido se veria obrigado a sair de um mecanismo monetário precursor do euro.

O jornal britânico Financial Times afirmou que vários fundos de investimento britânicos, entre eles Marshall Wace, Odey Asset Management e TT International, apostaram que o Brexit ganharia. Eles lucraram substancialmente com a aposta, mas não se sabe exatamente quanto.

Ao mesmo tempo, esses ganhos poderiam diminuir rapidamente se ocorrerem novas flutuações nos preços das moedas e das ações. Assim, será preciso esperar mais alguns dias para se saber qual foi o impacto real para os investidores.

E os eleitores?

Uma parte importante do impacto do Brexit será o efeito que a saída do bloco causará nos 52% dos eleitores que foram favoráveis a ela. Presume-se que eles esperam benefícios econômicos.

É aí que reside uma das controvérsias mais explosivas da economia mundial.

Muitos dos que votaram pelo Brexit são britânicos da classe trabalhadora. Muitos deles pensam que a chegada de imigrantes ao país achatou os salários. Eles acreditam, portanto, que uma vez fora da União Europeia o país possa impor mais restrições à chegada de estrangeiros.

Não há um consenso total sobre qual é o impacto, especialmente a longo prazo, da imigração sobre os salários. Isso apesar de estudos apontarem que, ao menos no curto prazo, trabalhadores não qualificados podem ter os salários reduzidos devido à chegada de imigrantes de outros países.

Mas não está claro se o voto pela saída do bloco realmente restringirá a imigração ao Reino Unido. Muitos antecipam que, para manter o acesso comercial aos mercados da União Europeia, autoridades de Londres terão que aceitar ao menos um certo montante de imigrantes europeus em suas negociações futuras com Bruxelas.

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Ou seja, mesmo que os salários dos trabalhadores britânicos sejam beneficiados pela redução da imigração, não está claro ainda se isso acontecerá como resultado do referendo.

Tudo isso remete à discussão dominante em torno do Brexit: em vez de ganhadores claros, o que prevalece é um ambiente generalizado de incerteza.