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Por que o banco mais antigo do mundo está no centro do temor sobre uma nova crise econômica

14/07/2016 14h17

O Monte dei Paschi de Siene é o banco mais antigo do mundo. Já fazia 20 anos que havia sido fundado, na Itália, quando Cristóvão Colombo chegou às Américas, em 1492.

Mas hoje esse banco do século 15 --que é a terceira maior instituição financeira do país - está envolvido em um problema bem típico do século 21.

O Banco Central Europeu acaba de ordenar que o Monte dei Paschi reduza a proporção de dívidas que mantém em seus livros contábeis.

O estado precário da instituição tem despertado preocupação sobre o sistema financeiro italiano, a mais nova fonte de nervosismo financeiro do continente.

Pior: os sintomas desse problema podem ser apenas a ponta do iceberg de um mal que afeta a economia italiana por inteiro. E com possíveis repercussões para o resto da região.

'Décadas perdidas'

Os temores são reforçados pelas debilidades da economia italiana, a terceira da zona do euro.

Um relatório recente do Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que o país enfrentará duas décadas de fraco crescimento econômico - abaixo de 1% este ano e por volta de 1,25% no ano que vem.

De acordo com o FMI, a Itália só voltará aos níveis de antes da crise de 2008 em meados da década de 2020 - ou seja, após duas "décadas perdidas", disse o Fundo.

"O tamanho da economia italiana e sua dívida governamental tornam o país um vulcão fumegante", diz o especialista de economia da BBC, Andrew Walker.

O PIB do país é 8% menor do que quando teve início a crise financeira internacional. A economia hoje tem mais ou menos o mesmo tamanho do que no começo do século.

Ao mesmo tempo, possui a maior dívida do bloco.

O desempenho econômico fraco aumenta a possibilidade de que empresas em dificuldades atrasem o pagamento de empréstimos.

O resultado é que os bancos italianos estão tendo de lidar com dívidas difíceis de serem cobradas, em um valor equivalente a US$ 398 bilhões (R$ quase 1,3 trilhões) - cerca de um quinto de toda a atividade econômica anual do país.

O temor, segundo Walker, é que a quebra de um dos grandes bancos italianos desate uma crise financeira mais ampla.

Os preços das ações do setor vêm caindo - as do Monte dei Paschi, por exemplo, caíram mais de 75% este ano.

Regras quebradas?

Por isso, o governo italiano está considerando uma ação de resgate. Mas há divergências em relação à sua adequação às regras da União Europeia.

"As regras da União Europeia, criadas durante a crise financeira, determinam que os credores de um banco, especialmente os que detêm títulos, assumam as perdas antes de os contribuientes entrarem na jogada", afirma Walker.

Mas no caso da Itália, muitos desses títulos pertencem a investidores particulares. Seguir as regras da União Europeia e impor perdas a esse grupo seria uma medida impopular.

"No momento em que o premiê Matteo Renzi já está sob pressão, especialmente por opositores da União Europeia, o governo deve resistir a assumir esse risco político. Acaba sendo atraente em termos de política driblar as regras do bloco e injetar fundos públicos diretamente nos bancos", avalia Walker.

Mas essa é uma ideia que não será bem recebida em outros países. Na Alemanha, a chanceler Angela Merkel afirmou que as regras não podem ser flexibilizadas caso a caso.

"As regras são parte de um projeto muito importante da zona do euro, chamado união bancária", explica Walker.

"Foi uma resposta à crise financeira regional para tornar bancos mais resistentes e uma tentativa de romper os vínculos malignos entre bancos frágeis e governos com problemas financeiros."

Isso não tem evitado que a Itália seja agora o novo motivo de preocupação dos que temem uma nova turbulência na economia europeia.