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A mulher que transformou sua vida após morte da melhor amiga - e tirou empresa do buraco

Karen Lynch mudou o rumo da empresa de águas Belu - Belu
Karen Lynch mudou o rumo da empresa de águas Belu Imagem: Belu

BBC News

11/04/2017 16h32

Foram dois golpes da vida - a morte da melhor amiga e a descoberta de um problema de saúde - que fizeram Karen Lynch abandonar a interminável corrida do mundo corporativo convencional.

"Perder minha amiga me fez perceber que a vida é muito curta", diz Lynch, que agora comanda uma empresa "verde" de água. "Eu queria algo mais pessoal."
Era 2008. Aos 38 anos, a executiva pediu demissão de um alto cargo em um banco britânico multinacional chamado Barclays. Enquanto aprendia a viver com diabetes tipo 1, ela e o marido viajaram por Caribe, Vietnã e Tailândia por seis meses.

Ao retornar ao Reino Unido, Lynch se candidatou e conseguiu um emprego como diretora de marketing na Belu, a primeira companhia de água engarrafada a zerar suas emissões de gás carbônico na atmosfera - e que doa todos os seus lucros à caridade.

Mas a empresa não estava gerando lucro algum à época. Criada em Londres quatro anos antes, chegou a 2008 com uma dívida de 1,9 milhões de libras (R$ 7,39 milhões).

Lynch se deu conta de que a Belu precisava de uma sacudida para virar um sucesso, e, após elaborar um plano de negócios e delinear a sua visão, foi promovida a presidente da empresa em oito meses.

Sua proposta foi parar de tentar direcionar o produto a supermercados, que têm margens baixas de lucro, e focar em fornecer água a negócios que renderiam mais, como hotéis, restaurantes e escritórios.

Sucesso sustentável

A Belu foi fundada pelo diretor e produtor de filmes Reed Paget, que deixou o cargo máximo da empresa para que Lynch pudesse substituí-lo.

"Claramente não seria fácil para qualquer um de nós, mas almoçamos juntos para desarmar a tensão. E Reed queria, mais do que qualquer coisa, ver a Belu chegar ao sucesso de forma sustentável", diz ela.

"Quando eu entrei na Belu, a empresa estava endividada e não era sustentável. Nós poderíamos nos enrolar completamente - era hora de mudar. Então mantivemos o nome, mas alteramos tudo."

Seu plano de negócios teve tanto sucesso que as vendas dispararam, atingindo um faturamento anual de 5,9 milhões de libras (R$ 23,17 milhões) em 2015. E desde 2011 a Belu tem doado mais de 1,5 milhões de libras (R$ 5,9 milhões) à WaterAid, uma instituição global de caridade que visa dar água potável e saneamento a pessoas de países em desenvolvimento.

Lynch afirma que os hotéis e restaurantes aderiram ao plano porque gostaram do comprometimento da Belu com as boas práticas ambientais, que ela decidiu fortalecer e divulgar o máximo possível.

Além de não lançar gás carbônico na atmosfera e de doar à WaterAid, as garrafas da empresa são feitas de vidro e plástico reciclado.

"Era importante demonstrar que estamos fazendo isso corretamente. Primeiro, por meio de nossa missão social e ambiental e, depois, da construção de sustentabilidade com as doações do lucro à WaterAid", diz.

Segundo ela, a Belu cria relacionamentos com restaurantes que "compram a nossa missão", cujos clientes ficam felizes de ver a marca de água porque entendem e apreciam o trabalho que a empresa faz.

A executiva afirma que isso é melhor que "lutar por espaço na prateleira (do supermercado) e ter que financiar promoções para conseguir vender produtos".
Susto e propósito

Enquanto a Belu continuava crescendo, Lynch teve de lidar com outro susto em 2016.

"O ano passado foi infernal. Eu tive câncer de mama, mas felizmente não precisei de quimioterapia e mantive meu cabelo", conta. "Estava exausta e sonolenta ao longo do verão, mas minha equipe realmente ajudou."

O câncer foi tratado com sucesso - para ela, seu trabalho foi uma distração bem-vinda naquele momento. "É claro que precisei passar uns dias em casa, mas, quando o seu trabalho é a sua paixão e o seu propósito, ele te ajuda a seguir com a vida."

A executiva acrescenta que, quando estava realmente exausta durante esse período difícil, lembrava que a vida era ainda pior para uma "criança de seis anos que precisa andar por oito horas para coletar água".

Isso fez com que ela concluísse que lidar com sua situação ruim não era "nada demais".

Se possível, fique em casa

Para ajudar limitar as emissões de gás carbônico da Belu, Lynch encoraja sua equipe, de 34 pessoas, a trabalhar de casa quando possível.

Ela própria, que vive na comunidade rural de Warwickshire, no centro da Inglaterra, costuma ir ao escritório em Londres apenas duas ou três vezes por semana.
"A regra é que não se deve ir ao escritório quando se pode trabalhar de casa."

Ryan Doherty, analista de indústria do centro de estudos IbisWorld, afirma que a Belu conseguiu construir "a reputação de estar entre as marcas de água engarrafada mais ecológicas".

E acrescenta: "Seu foco no setor de hospitalidade e seu jeito inovador de reduzir os impactos ambientais de seus produtos têm levado à maior demanda de clientes que querem melhorar sua imagem por meio de sustentabilidade criativa".

Quando não está liderando a Belu, que engarrafa água em Shropshire, na Inglaterra, Lynch arruma tempo para ajudar novas empresas que também querem ter um impacto social positivo.

Ela recentemente participou de um painel de discussões da Chivas Venture, uma competição entre jovens aspirantes a empreendedores sociais organizada pela marca de uísque Chivas Regal.

"Amo essa parte do meu trabalho", diz a executiva, que é casada e tem dois filhos. "Isso me lembra de que eu não sou um desastre completo e me faz recordar do progresso que conseguimos."

Lynch afirma gostar de ensinar pessoas sobre a realidade de gerenciar empresas sem fins lucrativos.

"Criar e gerir uma empresa social é uma coisa boa e aspiracional. É usar seus talentos para fazer algo incrível - mas na realidade é muito mais difícil que você pensa."