Como Temer e tropa de ministros divulgaram privatizações em eventos paralelos à ONU em NY
A viagem do presidente Michel Temer a Nova York não se resumiu ao discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas e a encontros privados com outros presidentes.
Como ocorre com a maior parte dos chefes de Estado, a assembleia, que reúne líderes de 193 países membros da ONU, é uma importante oportunidade para negócios internacionais.
Neste ano, a comitiva do Planalto incluiu pelo menos seis ministros, além dos presidentes da Petrobras, BNDES, Banco do Brasil e Banco Central e quatro deputados. Em eventos paralelos à megaconferência da ONU, eles se reuniram com empresários e investidores na tentativa de apresentar uma agenda positiva do país, apesar da forte incerteza causada pela crise política.
O principal destes encontros aconteceu na manhã desta quarta-feira, quando a tropa divulgou o pacote de privatizações e as reformas promovidas pelo governo em um seminário sobre investimentos no Brasil organizado pelo jornal britânico Financial Times.
Como nos demais encontros, não houve menções diretas de membros do governo às investigações sobre corrupção, nem à segunda denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República contra o presidente.
Em suas falas, Temer classifica os brasileiros como um povo "criativo e trabalhador" e o país como "um destino seguro para fazer negócios".
Questionado insistentemente por jornalistas nas saídas dos eventos e encontros bilaterais, o presidente tem se recusado a comentar tópicos sensíveis, como a pesquisa da Confederação Nacional do Transporte, que apontou nesta semana que sua popularidade caiu para apenas 3,4% - o que pode espantar investidores.
Os principais argumentos do governo para animar estrangeiros são os resultados econômicos, como as quedas da inflação para abaixo do patamar de 2,5% e dos juros, que vieram de 14% em 2015 para 8,25% neste ano.
Em seu discurso desta quarta-feira, por exemplo, Temer afirmou que está avançando na Reforma da Previdência ("os aposentados de hoje podem não receber suas pensões, imagine os aposentados de amanhã") e elogiou a aprovação teto de gastos, a Reforma Trabalhista ("em sintonia com as realidades do século 21") e a reforma do currículo escolar ("melhor preparando-os para um mercado de trabalho em plena evolução").
Diferente dos ministros Henrique Meirelles (Fazenda), Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) e Fernando Coelho Filho (Minas e Energia), o presidente foi o único a não participar de debates ou responder a perguntas de editores do jornal britânico no evento sobre o país, chamado FT Brazil: The Road Ahead.
Ministros
O principal articulador de negócios com o Brasil é o ministro Henrique Meirelles, que costuma ser visto com admiração por investidores e think tanks internacionais graças a medidas de austeridade, que reduzem o tamanho do Estado, e à agenda de reformas.
Questionado nesta quarta-feira sobre um vídeo que circula em redes sociais, no qual pede orações pela economia do Brasil, o ministro argumentou que tentava "buscar apoio de outros setores da sociedade", especialmente para a Reforma da Previdência.
"Até para religiosos?", brincou a entrevistadora.
Sobre a capacidade do governo de emplacar reformas em meio a escândalos seguidos de corrupção, Meirelles disse ainda que a gestão manteve a direção das reformas e disse que "agentes econômicos estão confiantes que estamos na direção certa".
Moreira Franco, por sua vez, é o principal porta-voz do pacote de privatizações de Temer.
A nova etapa do pacote pretende transferir 57 empreendimentos, entre aeroportos, linhas de transmissão de energia, campos de petróleo e ferrovias, a investidores do Brasil e do exterior.
O ministro argumenta que as transferências de estatais ao capital privado são "fundamentais para enfrentar a herança que recebemos" (do governo Dilma Rousseff, do qual foi ministro duas vezes).
"A primeira medida foi a criação do programa de parceria de investimentos", afirmou no evento do jornal britânico. "Não dava para se ter Parceria Público-Privada porque um dos 'Ps' faltava", se referindo à escassez de recursos públicos para investimentos em meio à recessão enfrentada pelo país.
Boa parte das ofertas inclui itens ligados à pasta do ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, que ganhou visibilidade recentemente por causa da extinção da Reserva Natural do Cobre e Derivados (Renca) para atividades de mineração.
No evento realizado em um hotel próximo ao Central Park, no coração de Nova York, ele disse que não entende por que "a mineração ainda é uma atividade mal vista no país, diferentemente de vizinhos sul-americanos, que se orgulham e promovem a atividade mineral".
No mesmo evento, Coelho Filho disse que "vamos ter a chance de junto com o Congresso de fazer esse debate (sobre a Renca)" e se referiu brevemente à tragédia de Mariana, a qual qualificou como "acidente" e "fatalidade".
"Não temos controle sobre isso", argumentou.
'Ideologias por terra'
Temer costuma repetir que aprendeu que "o Estado não pode fazer tudo" e que "não importa para o cidadão se o serviço é prestado pelo Estado ou pela iniciativa privada, desde que seja um serviço acessível e de qualidade".
"Em todo o mundo, as ideologias foram por terra. O que importa são os resultados", disse o presidente aos investidores em seu último compromisso do tipo antes de voltar ao Brasil, nesta quarta-feira.
"O Brasil voltou e voltou para ficar" foi outro mantra repetido por ele durante a estadia em Nova York.
Nesta quarta, Temer citou brevemente o pré-sal, cuja exploração não é mais exclusividade da Petrobras.
"No setor de óleo e gás, nós eliminamos a participação compulsória (da Petrobras) na exploração do pré-sal e revisamos a política de conteúdo local. Ao longo destes 17 meses, as empresas estatais, que hoje são geridas por técnicos, aumentaram significativamente seus valores de mercado", disse, citando a Petrobras e o Banco do Brasil.
"Com modelo mais flexível, teremos diversas novas rodadas de concessão e de partilha até o final de 2018", disse.
Ao fim do evento, um dos poucos que permitiram a presença da imprensa, Temer foi cercado por seguranças, que impediram a aproximação de jornalistas. "Vamos continuar com as reformas, tranquilo", limitou-se a dizer.
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