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FMI: Apesar de melhora em previsão, Brasil terá 5º pior crescimento das Américas

Saul Loeb/AFP
Imagem: Saul Loeb/AFP

Ricardo Senra

10/10/2017 10h37Atualizada em 10/10/2017 17h29

O aumento das exportações e uma desaceleração na queda do consumo dos brasileiros levaram o Fundo Monetário Internacional (FMI) a melhorar sua previsão para o crescimento da economia do país em 2017, de 0,3% para 0,7%.

Ainda assim, em todas as Américas, o avanço econômico do Brasil só não será pior que os de Venezuela (-12%), Trinidad e Tobago (-3,2%), Suriname (-1,2%) e Equador (0,2%).

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Segundo o FMI, os brasileiros ainda não superaram os impactos de dois anos seguidos de recessão e verão um crescimento menor que o de outros 30 países das Américas, entre os quais Haiti (1%), México (2,1%) e Argentina (2,5%).

No total, 26 países americanos registrarão pelo menos o dobro do crescimento do PIB do Brasil em 2017.

Aumento no desemprego, inflação em queda

Anunciada na manhã desta terça-feira na sede do FMI em Washington (EUA), a revisão do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) veio acompanhada da previsão, para 2017, de um aumento no desemprego em um ponto percentual.

No fim do ano, 13 em cada 100 brasileiros que estão no mercado de trabalho devem estar sem emprego.

Por outro lado, o fundo reduziu sua estimativa para a inflação em 2017, de 4,4% (na previsão de abril) para 3,7%.

Destacada como uma vitória em discursos do presidente Michel Temer, a queda na inflação é atribuída pelo FMI à ociosidade da indústria, que ainda se recupera de encolhimentos superiores a 3,5% em 2014 e 2015, e a uma queda nos preços dos alimentos em junho, fruto de uma safra recorde que salvou a economia do país no primeiro semestre.

Após sugerir, em abril, que a recuperação da economia brasileira seria estimulada por sinais de estabilização no momento político, o órgão voltou atrás e indicou que "um aumento na incerteza política levou a uma revisão de baixa na previsão de 2018 de 0,2 ponto percentual" --a estimativa de crescimento do PIB em 2018 era de 1,7%, em abril, e passou para 1,5%.

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Combate à corrupção

As projeções são parte do novo relatório "World Economic Outlook" (Perspectivas da Economia Global), divulgado duas vezes ao ano, com previsões econômicas para mais de 180 países.

Em 284 páginas, o FMI cita o termo corrupção apenas três vezes. Na única menção citando países, o Brasil aparece como exemplo de local onde um combate mais efetivo ajudaria a fortalecer a economia.

"Muitos mercados emergentes e em desenvolvimento têm espaço substancial para melhorar o clima para negócios e investimentos. Medidas decisivas para melhorar a governança e o Estado Democrático de Direito ajudariam a controlar a corrupção, fortalecer a confiança nos negócios e proporcionar um impulso ao investimento em alguns países (por exemplo, Brasil, México e Peru)", diz o órgão.

Desde que assumiu o governo, em 2016, o presidente Michel Temer enfrenta sucessivas denúncias de corrupção contra si e seus principais auxiliares.

O presidente foi denunciado pelo Ministério Público Federal por crimes de obstrução de Justiça e organização criminosa --enquanto os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral) são acusados de organização criminosa.

O parecer sobre a denúncia deve ser lido nesta terça-feira em reunião da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados.

Previdência e privatizações

Enquanto o Brasil deve crescer 0,7% em 2017, a média de países da América Latina e Caribe está prevista para 1,2%.

As economias que mais se desenvolverão na região, segundo o FMI, serão as de Panamá (5,3%), República Dominicana (4,8%), Nicarágua (4,5%) e Bolívia (4,2%). Já os Estados Unidos e o Canadá crescerão, respectivamente, 2,2% e 3%.

Além da incerteza sobre o futuro político no Brasil, o crescimento do PIB a passos de tartaruga se deve, segundo o FMI, a uma "fraqueza contínua nos investimentos" e ao distanciamento dos brasileiros das prateleiras --mesmo com a liberação das contas inativas do fundo de garantia, classificada como "impulso para o consumo".

Apesar de a aprovação do governo pelos brasileiros ser a mais baixa desde 1986 (3%, segundo o Ibope), o fundo exalta a agenda de reformas em curso.

"Uma restauração gradual da confiança (no Brasil) --conforme reformas fundamentais para garantir a sustentabilidade fiscal sejam implementadas ao longo do tempo-- deverá aumentar o crescimento para 2% no médio prazo", aponta o órgão.

Para o FMI, a reforma da Previdência seria um dos fatores-chave para estimular empresários a voltarem a investir.

"No Brasil, o enfrentamento de despesas insustentáveis, incluindo a reforma do sistema de pensões, é uma questão de primeira ordem para que se restaure a confiança e se promova o crescimento sustentável do investimento privado", recomenda o fundo.

Na semana passada, em São Paulo, o presidente Temer fez coro com o fundo internacional. "Temos de fazer a reforma, porque é evidente que os dados da Previdência, que gera deficit extraordinário, estão pautados pelo período em que o homem vivia até os 60 anos, 65 anos. Hoje, vive 80 ou mais. Daqui a pouco, viverá 140", afirmou.

Apresentada como uma emenda à Constituição, a reforma da Previdência precisa das assinaturas de pelo menos 308 dos 513 deputados em duas votações, além do apoio de 49 dos 81 senadores.

O Fundo também apoia o programa de privatizações proposto pelo presidente.

No relatório, o FMI destaca "os esforços em curso para tornar o programa de concessões de infraestrutura mais atraente para os investidores, ao mesmo tempo em que se melhoram os padrões de governança e as características do programa".

A nova etapa do pacote de Temer transfere 57 empreendimentos, entre aeroportos, linhas de transmissão de energia, campos de petróleo e ferrovias, a investidores do Brasil e do exterior.

CORREÇÃO: A versão anterior deste texto informava incorretamente que o Brasil teria o quarto pior crescimento das Américas. Na verdade, o país terá, segundo o FMI, o quinto pior desempenho na região, à frente apenas de Venezuela, Trinidad e Tobago, Suriname e Equador. O conteúdo foi corrigido.

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