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Por que a venda de armas no mundo cresceu pela primeira vez em 5 anos

Redação - BBC Mundo

17/12/2017 18h08

Pela primeira vez em cinco anos, as vendas das 100 principais empresas de armamento do mundo aumentaram.

Juntas, elas venderam quase US$ 375 bilhões em 2016, pouco mais de US$ 1 bilhão por dia - um crescimento de 1,9% em relação ao ano anterior.

O Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês) publicou nesta semana sua avaliação anual do mercado global de armamentos.

De acordo com o relatório, os principais fabricantes estão vendendo 38% mais armas que em 2002, quando a organização começou a mapear esses dados.

Tudo isso em meio ao quinto ano com mais mortes desde o fim da Guerra Fria, segundo o Instituto de Investigação para a Paz de Oslo (Prio, na sigla em inglês).

"O crescimento na venda de armas era esperado e foi impulsionado pela implementação de novos programas importantes de armamentos, por operações militares em curso em diversos países e por tensões regionais persistentes. Tudo isso leva a uma demanda maior", diz o relatório.

"O gasto militar está muito relacionado com os conflitos e com as preocupações dos países", disse à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, Aude Fleaurant, diretora do Programa de Armas e Gastos Militares do Sipri.

"E alguns países têm frotas muito antigas e precisam modernizá-las. Esse dinheiro geralmente vai para os fabricantes de armas dos próprios países, quando há algum."

Domínio ocidental

De acordo com o relatório, as empresas norte-americanas ocupam sete dos primeiros dez lugares da lista e cresceram 4% no ano passado impulsionadas pelas "operações militares fora do país, assim como pelas aquisições de grandes sistemas armamentistas americanos por outros países".

As companhias dos Estados Unidos representaram 57,9% das vendas no mundo.

As fabricantes da Europa ocidental, por sua vez, se mantiveram estáveis (aumento de 0,2% em relação a 2015), mas houve diferenças entre os principais produtores: apenas as empresas britânicas e alemãs cresceram, enquanto as francesas, italianas e transeuropeias - cujas sedes estão em mais de um país da União Europeia - apresentaram retração nas vendas.

Já as empresas russas aumentaram suas vendas em 3,8%, percentual menor que nos anos anteriores.

De acordo com Siemon Weseman, pesquisador do Sipri, a crise econômica pela qual a Rússia passou em 2016 contribuiu com a diminuição da taxa de crescimento da venda de armamentos das empresas russas.

Principais empresas por vendas de armamentos

Posição em 2016

Posição em 2015

Empresa

País

Vendas em 2016 em milhões de US$

Vendas de armas como % das vendas totais

1

1

Lockheed Martin Corp.

Estados Unidos

40.830

86

2

2

Boeing

Estados Unidos

29.510

31

3

4

Raytheon

Estados Unidos

22.910

95

4

3

BAE Systems

Reino Unido

22.790

95

5

5

Northrop Grumman

Corp.

Estados Unidos

21.400

87

6

6

General Dynamics Corp.

Estados Unidos

19.230

61

7

7

Airbus Group

Multinacional europeia

12.520

17

8

10

L-3 Communications

Estados Unidos

8.890

85

9

9

Leonardo

Itália

8.500

64

10

11

Thales

França

8.170

50

Fonte: SIPRI

O efeito norte-coreano

O crescimento das vendas de empresas sul-coreanas foi um dos destaques do relatório. Segundo Fleaurant, elas venderam 20,6% mais por causa da "continuidade e do aumento da percepção de ameaça" causados pelas tensões com a Coreia do Norte.

A pesquisadora do Sipri também ressalta que o desenvolvimento em curso no país desde os anos 1970 optou por impulsionar a indústria armamentista local para reduzir a dependência externa e, ao mesmo tempo, posicioná-lo como um exportador de armas de peso.

O crescimento da Coreia do Sul puxou o aumento de vendas dos "fabricantes emergentes", que incluem empresas com sede no Brasil, na Coreia do Sul, na Índia e na Turquia, chegando a 12,3%.

O Brasil, aliás, é o único país da América Latina com uma empresa entre as 100 que mais vendem armas. A Embraer registrou 15% de suas vendas no setor militar.

A companhia vendeu US$ 930 milhões em armas no ano passado, superando os US$ 839 de 2015 - o que a fez saltar da 91ª para a 81ª posição na lista.

De acordo com Fleaurant, o estudo não inclui dados da China "por falta de informação consistente que possa ser comparada com a de outros países".