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A próxima crise econômica mundial pode ser pior que a de 2008?

Cecilia Barría - Da BBC Mundo

24/03/2018 14h53

O tempo passou, mas seus efeitos devastadores continuam a ser sentidos. Neste ano completa-se uma década da grande crise econômica de 2008, um efeito em cascata que começou com dívidas de hipotecas nos Estados Unidos e se alastrou para vários países, causando quedas no mercado de ações, fechamento de empresas, desemprego, despejos e uma onda de resgates de bancos.

Dez anos depois, o centro comercial dos Estados Unidos, Wall Street, vem marcando recordes históricos de crescimento. O índice Dow Jones, por exemplo, subiu 25,2% no ano passado e a Nasdaq, a bolsa eletrônica, acumulou alta de 28,3%.

Ainda que o Brasil tenha amargado uma recessão até bem recentemente, uma grande parcela dos países tem registrado crescimento mais robusto. E, segundo alguns analistas, uma maior regulação global tende a tornar mais difícil a ocorrência de um colapso financeiro internacional.

Em fevereiro, porém, a bolsa de Nova York registrou perdas que chegaram a 12% em duas semanas, um fenômenos que os analistas chamaram de "correção do mercado".

Essa "correção" fez com que muitos se perguntassem se já existem sintomas de uma próxima recessão e quando ela pode acontecer de fato.

Nesse contexto, cada vez mais se ouve o termo "sincronia", entendido como a interconexão entre as economias do planeta - ou, de forma mais simples, a globalização.

"Cada vez que se produz uma crise, vemos sincronicidade nos ciclos de negócios", explica Lorenzo Ductor, pesquisador da Universidade Middlesex de Londres, no Reino Unido.

Utilizando um sofisticado sistema de medição, Ductor e Danilo Leiva-León (pesquisador do Banco Central Espanhol) detectaram que existe uma globalziação significativa e gradual dos negócios.

"Já vivenciamos o principal risco de uma estrutura financeira unificada com a crise de 2008. Hoje, grandes empresas, bancos e instituições financeiras estão altamente interligados e os choques que afetam uma empresa ou um banco podem desencadear uma grave instabilidade e até mesmo colapso de toda a economia", diz Ductor.

"Esse fenômeno é conhecido como risco sistêmico e é uma grande ameaça à estabilidade econômica", aponta.

Sincronização extrema

É justamente essa sincronia entre agentes econômicos que pode criar uma onda expansiva capaz de contaminar toda a economia mundial a partir de uma crise econômica em um único país. Ou seja, mesmo com a divisão geográfica entre nações, a economia e os negócios são altamente interligados - uma crise que aconteça hoje nos Estado unidos, por exemplo, pode se alastrar para mercados de todo o planeta em pouco tempo.

"A economia se tornou mais global. Por isso, uma recessão poderia afetar uma maior quantidade de países", diz Ductor.

"Acredito que uma nova recessão poderia ser pior do que a crise de 2008 no curto prazo, porque haveria mais fatores para espalhar a recessão de um país para outro, mas também tenho a impressão de que, graças a algumas medidas tomadas em 2014, como a capitalização dos bancos, levaria menos tempo para uma recuperação", explica o pesquisador em entrevista à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC.

"Penso que a recuperação de uma nova crise econômica global seria mais rápida e, por isso, essa possível recessão seria menos severa", diz.

Na medida em que as economias nacionais estão conectadas pela integração financeira, pela maior abertura comercial e por políticas fiscais (como a dívida dos países), o risco de contágio aumenta.

"Observamos diariamente que existe uma sincronização extrema, diz o pesquisador.

"É difícil desenhar políticas que amplifiquem os efeitos positivos da abertura comercial e, ao mesmo tempo, previnam os efeitos negativos de mercados altamente inter-relacionados", conclui.

Dentro da ideia de que uma crise em um país pode eventualmente escalonar para um problema global, a equipe de analistas do Deutsche Bank levantou, em relatório publicado em setembro passado, quais poderiam ser os novos focos de turbulência financeira internacional.

"É preciso ter muita esperança para acreditar que as crises não continuarão a ser um acontecimento constante do atual modelo financeiro, em vigor desde o início dos anos 1970", afirmam os analistas do banco alemão.

O relatório cita, por exemplo, a instabilidade econômica que pode derivar de questões políticas na Europa - como o Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia) e o avanço do populismo na Itália -, o perigo do baixo crescimento no Japão - que é a terceira maior economia do mundo e vive uma combinação de alto déficit em relação ao PIB e envelhecimento de sua população - e os desafios enfrentados pela China.

"A China tem sido mencionada constantemente como a fonte da próxima crise financeira", diz o relatório. "Uma rápida expansão do crédito derivada de uma demanda insaciável por crescimento baseado em dívida, aliado a um sistema financeiro obscuro altamente ativo e uma bolha imobiliária em expansão, estimulam temores dos economistas de que a China possa abalar os mercados financeiros globais."