Após dois anos, dólar volta a se aproximar do patamar de R$ 4
Pela primeira vez em mais de dois anos, o dólar voltou a se aproximar do patamar de R$ 4. A moeda americana abriu o dia cotada a R$ 3,87 e, depois de chegar a R$ 3,96, encerrou o pregão a R$ 3,92.
A desvalorização do real nesta quinta-feira (7) foi a maior entre 24 moedas acompanhadas pela empresa de informações financeiras Economática, incluindo países emergentes como África do Sul, México e Rússia. Desde o início do ano, o real perdeu 17,9% de seu valor frente ao dólar, ainda segundo o levantamento feito por Einar Rivero, da Economática.
Dentro do grupo, o desempenho só é pior do que o da lira turca, que teve desvalorização de 20,69%, e do peso argentino, que caiu 34,72%.
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O forte aumento do dólar levou o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, a se pronunciar publicamente no começo da noite desta quinta-feira. Ele reafirmou as ações do BC frente à alta e negou que esteja no horizonte da instituição adiantar reuniões para discutir um eventual aumento da taxa de juros Selic.
A última vez que a moeda americana cruzou a barreira dos R$ 4 foi no início de 2016, em meio a um cenário de desaceleração da economia chinesa e de queda forte no preço do petróleo.
Juros americanos e incertezas brasileiras
Desta vez, a disparada é explicada pela elevação dos juros americanos e pela incerteza em relação às eleições presidenciais do Brasil.
O aumento da taxa de juros nos Estados Unidos tem impacto negativo sobre as moedas da maioria dos países emergentes. O aperto na política monetária faz com que elas percam força contra o dólar, porque eleva o rendimento de títulos americanos, considerados mais seguros e, por isso, mais atrativos para investidores.
Esse movimento gera um fluxo de capitais de diferentes países para os EUA, fortalecendo a moeda americana.
Na Argentina, a desvalorização do peso, combinada a problemas domésticos da economia portenha, fez a inflação passar dos 25% em março e levou o Banco Central a elevar os juros a 40% ao ano. Para efeito de comparação, o juro básico no Brasil, a taxa Selic, está em 6,5% ao ano.
As medidas não surtiram o efeito esperado pelo governo e, no início de maio, o presidente Mauricio Macri pediu ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI), uma linha de crédito emergencial no valor de US$ 30 bilhões.
A pressão cambial sobre a inflação turca, que passa de dois dígitos (12,15% nos 12 meses até maio), também levou o BC da Turquia a elevar os juros, que chegaram nesta quinta a 17,75% ao ano.
No Brasil, a inflação continua controlada. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado nos 12 meses até abril é de 2,76%, mas a disparada do dólar preocupa analistas e o governo.
O real vem perdendo valor em relação ao dólar desde março, em linha com as moedas dos demais países emergentes. Mas foi nos últimos dias que o movimento de desvalorização da moeda brasileira se intensificou.
A principal razão apontada para a disparada foram as incertezas em relação às eleições de outubro, a falta de sinalização de compromisso dos candidatos com a agenda de reformas e com o reequilíbrio das contas públicas.
A forte elevação do dólar acontece a despeito das ações do Banco Central, que vem fazendo intervenções no mercado de câmbio para tentar conter as oscilações fortes - com o chamado swap cambial, a venda de contratos de dólar para aumentar a oferta de moeda americana.
"As incertezas eleitorais finalmente entraram nos cálculos dos operadores financeiros e somaram-se aos riscos já existentes com o esgotamento do governo, as sequelas da greve dos caminhoneiros e as empresas estatais", avalia o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, em relatório enviado a clientes.
De um lado, a situação frágil do governo abre uma lacuna de dois meses até que as candidaturas fiquem mais claras - ou "antes que alguém se exponha de modo relevante com sinais consistentes de construção de governabilidade".
As marcas da paralisação dos caminhoneiros, por sua vez, vão desde a solução encontrada pelo governo - que implica um custo fiscal não completamente equacionado - até a "ameaça de imitação do movimento por outros segmentos, passando pelos efeitos imediatamente econômicos da interrupção".
Finalmente, completa o economista, o mercado vê "com muito medo" o desfecho do "episódio Petrobras", em que o governo pressionou a empresa a baixar o preço do diesel nas refinarias. A intervenção política na estatal preocuparia tanto pelo lado fiscal quanto pelo lado da governança da empresa e do setor.
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