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Por que as flores são tão caras?

Bryan Lufkin - BBC Capital

11/08/2019 21h05

Por que algo que você arranca da terra custa tão caro?

Há várias razões: as flores são delicadas, demandam bastante cuidado, são perecíveis, difíceis de cultivar, muitas vezes importadas e podem atravessar continentes até chegar às floriculturas.

Vamos tentar te explicar aqui por que aquele buquê de flores que você comprou custa caro.

Este preço tem que levar em conta, por exemplo, a natureza do produto: o tempo e o dinheiro que os agricultores gastam para cumprir os prazos próximos às datas especiais (como Dia das Mães) e a pressão para que os floristas correspondam à oferta e à demanda - caso contrário, tomam prejuízo.

Alto risco

Flores consideradas perfeitas são extremamente frágeis - tanto fisicamente quanto de uma perspectiva de negócios. E quando se trata de flores cultivadas para estarem à venda em datas especiais, tanto os agricultores quanto os floristas enfrentam custos trabalhistas mais altos e riscos financeiros.

Um elemento importante por trás disso é o fato de tantos países importarem suas flores.

Segundo uma pesquisa da Comtrade, a base de dados internacional da Organização das Nações Unidas, as exportações globais de flores cortadas, ou seja, aquelas apresentadas em buquês (como rosas, lírios, tulipas), renderam US$ 8,48 bilhões (mais de R$ 30 bilhões) em 2017, um aumento de 46% em relação a 1995. A Holanda foi a maior exportadora, seguida por países em desenvolvimento como Colômbia, Equador, Quênia e Etiópia.

Equador e Colômbia exportaram mais rosas e cravos em 2018, a Tailândia liderou o comércio de orquídeas, enquanto a Colômbia dominou com lírios e crisântemos.

Os principais importadores são quase exclusivamente países desenvolvidos: os Estados Unidos, a Alemanha, o Reino Unido, os Países Baixos e a Rússia. Amy Stewart, autora do Flower Confidential, livro que mostra os bastidores dessa indústria, diz que quase todas as flores compradas no mundo desenvolvido são importadas.

"Elas estão se movendo pelos continentes e, como são perecíveis, precisam ser refrigeradas enquanto viajam, o que é caro. Para os floristas, pode ser arriscado, porque eles podem pedir 10 mil tulipas na esperança de vendê-las para um evento como o Dia das Mães. Mas, se eles não vendem todas, as sobras morrem rapidamente e se tornam inúteis. Parte do que os consumidores estão pagando é esse risco."

Mão de obra cara

Alcançar esses picos de vendas requer precisão e habilidade. As flores devem ser cultivadas de tal forma que não desenvolvam doenças ou fungos, que poderiam se espalhar por culturas inteiras.

Jeanie McKewan, que cultiva flores há 13 anos nos Estados americanos de Illinois e Wisconsin, aponta os danos causados por insetos como um grande desafio. Segundo ela, há uma política de tolerância zero. "É por meio da vigilância constante e de um controle integrado de pragas que evitamos que os pequenos insetos consigam o melhor de nossas culturas", diz ela.

As flores também precisam florescer seguindo um calendário. Por exemplo: as tulipas vendidas para o Dia das Mães precisam ser plantadas em janeiro ou fevereiro para florescer no início de maio a tempo de serem colhidas e transportadas.

Além desses fatores, há um custo alto com mão de obra.

De acordo com o Censo Agropecuário dos EUA de 2012, contratos de trabalho representavam 10% do total das despesas operacionais agrícolas no país, mas esse número subiu para 40% para quem trabalha com produção de flores, devido a um menor mercado de trabalho e aumento dos salários. Então você adiciona custos extras quando.

McKewan contrata mão de obra extra nas altas temporadas, mas diz que cortar flores "requer experiência e não pode ser feito por qualquer funcionário em tempo parcial". Chris Drummond, um florista da Filadélfia, diz que os salários são em média de US$ 13,25 por hora nos Estados Unidos. "A fim de aumentar a produção para atender à demanda dos dias festivos, os produtores são obrigados a pagar muito acima da média."

Em países desenvolvidos como a Holanda ou a Alemanha, Stewart diz que há estufas com tecnologia automatizada, como máquinas de rega sofisticadas ou colheitadeiras robôs, onde menos trabalhadores são necessários. Mas em nações mais pobres e com mão de obra mais barata, há menos uso de tecnologia.

Logística complicada

Então chega a hora de despachar as flores.

Enquanto elas estão esperando na pista ou em um caminhão, as temperaturas não podem ser muito frias ou muito quentes, para quando chegarem aos atacadistas elas tenham aparência perfeita. Isso significa que não pode haver picadas de insetos, nem pétalas perdidas, nem botões mortos. Caso contrário, elas são jogados fora. "Tem que estar impecável", diz Stewart.

O florista Chris Drummond estima que o volume de trabalho para as datas festivas "é geralmente quase 20 vezes o volume diário". Ele diz que muitos agricultores cultivam flores o ano todo para garantir flores suficientes para essas datas.

Durante os outros meses na fazenda, diz, as flores são vendidas a preço de custo ou abaixo do custo, ou descartadas e transformadas em palha. "Então, é claro, os preços aumentam conforme a demanda", explica. "Os consumidores estão pagando um ágio para garantir que o agricultor seja compensado por suas despesas e esforços para manter as plantas o ano todo, garantindo assim que a ampla variedade de flores esteja disponível em cada data especial."

Ele destaca os custos em toda a cadeia de fornecimento, dizendo que os integrantes do setor devem "alugar espaço temporário, pagar sobretaxas de combustível, encontrar espaço nas companhias aéreas, contratar motoristas independentes, encontrar mais caminhões refrigerados, pagar horas extras aos funcionários" e muito mais.

Rosas que viajam de Bogotá para Miami recebem uma taxa de importação de US$ 0,15 para passar pela alfândega e pela inspeção. O transporte refrigerado doméstico pode variar, mas isso são outros US$ 0,06 por rosa. Também depende do tipo de flor que você está enviando - Drummond diz que 300 cravos podem caber na mesma caixa de 150 rosas, então o preço de transporte por haste é reduzido pela metade.

O tempo de viagem entre o campo até florista pode ser de até uma semana (embora possa variar muito dependendo de onde as flores estão vindo), e as flores devem ser cuidadosamente manuseadas em cada etapa do caminho.

Na floricultura

Hans Larsen é um produtor de flores no Estado americano de Wisconsin e comanda uma fazenda de flores com sua esposa desde 1975. Seu maior desafio? "Tempo. Nunca há tempo suficiente ", afirma. "Entre a semeadura, o plantio, a colheita, o marketing, a venda e a contabilidade, esse trabalho seria basicamente para cinco funcionários em tempo integral, mas que ficam a cargo de um empregado mal-remunerado."

Um desafio extra, ele diz, é a variação do que está na moda a cada hora.

"A popularidade da flor é muito parecida com a moda, já que a cor, as formas, as texturas variam. Ficar de olho nas redes sociais e em fóruns é preciso para entender tudo. As dálias são extremamente populares no momento, uma vez que fotografam tão bem e têm tantas cores e formas."

Finalmente é hora de comprar esse buquê.

A apresentação das flores também pode elevar esse custo, porque os floristas são treinados a fazerem suas mágicas para conquistar os clientes.

Stewart tem uma dica - não defina o que você quer no buquê, mas deixe o florista te sugerir opções, assim você terá uma boa relação qualidade / preço. "É melhor dizer: 'Quero umas flores para minha mãe. Ela ama a Itália, ela vai para a Toscana o tempo todo - eu quero algo que pareça ter saído da zona rural italiana", aconselha.

Dados os desafios, as demandas logísticas e os níveis de qualificação necessários em toda a cadeia de fornecimento, não é de se admirar que as flores custem caro.

Mas pessoas do setor dizem que é preciso fazer com que os consumidores percebam a quantidade de trabalho envolvida em um único buquê.

Debra Prinzing, ex-jornalista especializada em casa e jardinagem em Seattle e defensora do cultivo e da venda de flores locais, diz que as mudanças na indústria de flores refletem a evolução da indústria de alimentos há algumas décadas.

Ela dá o exemplo de um chef que compartilha uma história interessante sobre a origem das trufas para um determinado prato; ela quer que as pessoas valorizem as flores e suas histórias de origem da mesma maneira, em vez de vê-las apenas como produto de consumo.

"Acho que as flores têm um valor incrível quando você tem essa ligação com um agricultor que as cultivou", diz ela. E aprender como avaliar o tempo, o esforço e o risco investidos em um buquê especial pode ajudar o consumidor a entender melhor o custo.

"Essas flores passaram por mais mãos, percorreram mais países, podem ter sido faladas em mais idiomas, podem ter sido negociadas em mais moedas e viajaram mais do que você em suas últimas férias de verão", diz Stewart. "É tão incrivelmente complexo nos bastidores."

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