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Economia da China cresce no menor ritmo desde os anos 1990: como isso pode afetar o Brasil?

Economia chinesa avançou 6% no terceiro trimestre ante igual período do ano passado - Getty Images via BBC
Economia chinesa avançou 6% no terceiro trimestre ante igual período do ano passado Imagem: Getty Images via BBC

21/10/2019 08h16

A economia da China cresceu em um ritmo mais lento do que o esperado no terceiro trimestre de 2019, enquanto enfrentava a guerra comercial com os Estados Unidos e via uma demanda doméstica menor.

De julho a setembro, a economia cresceu 6% em relação ao ano anterior, segundo os números oficiais do governo.

O resultado ficou abaixo das expectativas de crescimento de 6,1% no período.

A desaceleração ocorre apesar dos esforços do governo para estimular a economia, com medidas como cortes de tributos.

Os números mais recentes marcam mais uma perda de impulso na segunda maior economia do mundo, que já havia visto o crescimento desacelerar ao ritmo mais lento das últimas três décadas.

A taxa permaneceu dentro da meta do governo, de crescimento anual entre 6% e 6,5%.

O comportamento da economia chinesa é observado de perto porque a desaceleração de seu crescimento pode ter consequências de longo alcance para a economia global - e para o Brasil (veja mais abaixo).

O país se tornou um motor do crescimento mundial nas últimas décadas. A demanda por produtos que vão de commodities a máquinas deu suporte para crescimento em todo o mundo.

Alguns analistas temem que uma desaceleração acentuada na China possa prejudicar uma economia mundial já lenta e aumentar o risco de recessão.

Gráfico da China - BBC - BBC
Imagem: BBC

Julian Evans-Pritchard, economista sênior da consultoria Capital Economics, disse que a pressão sobre a economia chinesa "deve se intensificar nos próximos meses".

Ele disse ser provável que haja mais intervenção do governo para tentar estimular a economia, mas que levará um tempo para os efeitos serem sentidos.

Que desafios a China enfrenta?

A China segue em guerra comercial com os Estados Unidos, o que criou incerteza para empresas e consumidores.

Ao mesmo tempo, enfrenta desafios domésticos, incluindo um surto de peste suína que alimentou a inflação e afetou os gastos dos consumidores.

Na semana passada, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu a previsão de crescimento da China em 2019 de 6,2% para 6,1%, devido à longa disputa comercial e à desaceleração da demanda doméstica.

Mas houve alguns sinais de progresso na resolução da guerra comercial entre os EUA e a China, com o anúncio de uma primeira fase de acordo neste mês.

O governo tentou estimular a economia por meio de reduções de impostos e tomando medidas para aumentar a liquidez no sistema financeiro.

Ainda assim, alguns analistas dizem que o governo se tornou mais cauteloso ao fornecer estímulos em meio a preocupações crescentes com o aumento das dívidas da China.

E o Brasil com isso?

Os atores da guerra comercial são China e Estados Unidos, mas os efeitos chegam a todos os países que fazem trocas comerciais com as duas potências, inclusive o Brasil.

Como se trata das duas maiores economias do mundo, cada novo passo ou recuo nessa guerra comercial tem impacto imediato no mercado financeiro, no câmbio e no comércio, afetando consumidores de todo o mundo.

A preocupação dos economistas é exatamente que o prolongamento dessa crise provoque uma desaceleração no comércio mundial. No curto prazo, no entanto, os países conseguem explorar algumas vantagens.

Isso porque a imposição de tarifas torna mais caro para a China comprar produtos dos EUA, e para os americanos comprarem produtos chineses. Os dois países precisam, então, procurar outros fornecedores para evitar o encarecimento das importações.

Em 2018, primeiro ano da guerra comercial, as exportações brasileiras para a China cresceram 35% na comparação com 2017, gerando uma balança comercial positiva para o Brasil em US$ 30 bilhões.

Produtos agrícolas americanos foram os mais afetados pela alta nas tarifas impostas pela China, principalmente soja, amêndoas, maçãs, laranjas e carnes. Assim, a China procurou outros fornecedores de carnes, frutas e grãos.

No caso do Brasil, a produção de soja foi a maior beneficiada pelo comércio recorde com a China em 2018, vendendo US$ 7 bilhões a mais para os chineses de um ano para outro. Outros setores que cresceram foram o de carne bovina (US$ 557 milhões a mais), algodão (US$ 358 milhões) e carne suína (US$ 202 milhões).

Apesar de efeitos que parecem positivos no curto prazo, a consequência mais temida da disputa entre EUA e China é uma desaceleração econômica a nível mundial - ou seja, uma redução do consumo em vários mercados e do comércio entre países, a ponto de afetar o crescimento econômico em escala global no médio prazo.

O professor de política comparada da Universidade Chinesa de Hong Kong James F. Downes disse à BBC News Brasil que os países em desenvolvimento da África, do sudeste da Ásia e da América Latina são os que têm maior risco de serem economicamente afetados.

"Se a guerra comercial se prolongar, com alta de tarifas sobre bens e serviços, é possível que tenhamos uma recessão em escala global, com retração do PIB em vários países, principalmente dos mais alinhados com a China e os Estados Unidos", disse ele, em reportagem publicada em maio.

Na mesma ocasião, Diego Sánchez-Ancochea, professor de Política Econômica e Desenvolvimento da Universidade de Oxford, destacou que, se a guerra comercial desaquecer a economia a nível mundial, o preço das commodities pode cair.

"Esse tipo de ambiente favorece um desaquecimento da economia mundial. Como resultado, a demanda e o preço das commodities podem sofrer. Sabemos bem que a América Latina tem grande dificuldade para crescer quando os preços dos produtos primários estão baixos", diz ele, lembrando que os períodos de crescimento econômico no Brasil coincidem com épocas de aumento no preço das commodities.

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