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Economia global crescerá 5 vezes mais que brasileira em 2022, diz OCDE

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Daniela Fernandes - De Paris para a BBC News Brasil

08/06/2022 08h07

A economia brasileira deverá crescer apenas 0,6% em 2022, enquanto o avanço da economia mundial será de 3%, segundo estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado nesta quarta-feira (8/6).

A alta da inflação, a guerra na Ucrânia, a lenta recuperação do mercado de trabalho e as incertezas políticas por conta das eleições presidenciais em outubro são alguns dos fatores que contribuem para a "desaceleração considerável" da atividade econômica no país, na avaliação da entidade.

Em seu estudo semestral com previsões para a economia mundial, a OCDE revisou para baixo as estimativas de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2022. A previsão era de aumento de 1,4% no último relatório, divulgado em dezembro.

As projeções de expansão do PIB global neste ano também foram reduzidas de 4,5% para 3% em razão dos efeitos da invasão da Ucrânia pela Rússia.

"O preço da guerra pode ser ainda mais elevado. O conflito afeta a distribuição de alimentos básicos e de energia, alimentando a alta da inflação em todo o mundo, ameaçando particularmente os países mais pobres", afirma a economista-chefe da OCDE, Laurence Boone, no documento.

A economia brasileira vai crescer menos em 2022 do que a de vários países da América Latina, como a Colômbia (6,1%), Argentina (3,6%) e México (1,9%), segundo as estimativas.

A OCDE ressalta que, apesar das exportações brasileiras de commodities estarem ganhando força, a inflação alta ? que deve atingir 9,7% neste ano, nos cálculos da organização ? entrava a expansão do consumo, afetando o desempenho da economia.

As eleições presidenciais acrescentam incertezas, contribuindo para manter os investimentos abaixo do potencial até o próximo ano, afirma o estudo. Em 2023, a economia brasileira deverá crescer 1,2%, prevê a OCDE.

Segundo a organização, em razão da deterioração do clima econômico no Brasil, as previsões de crescimento são limitadas neste ano e no próximo. A inflação e o aperto monetário, com aumento dos juros, restringem a demanda doméstica e externa. Além disso, os salários não estão se recuperando rápido o suficiente para compensar o fim do auxílio emergencial durante a pandemia e a alta nos preços, diz o estudo.

A inflação no Brasil deve começar a diminuir com o aperto monetário e a redução de incertezas após a eleição presidencial, mas voltará a aumentar no início de 2023, diz o relatório, quando o embargo europeu ao petróleo da Rússia entrar em vigor.

"A inflação no Brasil permanecerá alta em 2023 e não deve atingir a meta no horizonte de projeção", afirma o relatório divulgado nesta quarta.

Além disso, a prolongação da guerra na Ucrânia continuaria aumentando os custos dos insumos agrícolas, como fertilizantes, "restringindo severamente a produção agrícola e as exportações."

Para manter a sustentabilidade fiscal e o aumento das taxas de pobreza no país, o Brasil precisa, na avaliação da OCDE, dar continuidade a "reformas ambiciosas que foram iniciadas para melhorar a produtividade e o emprego."

Na avaliação da entidade com sede em Paris, gastos públicos mais eficientes permitiriam "fortalecer o quadro fiscal no médio prazo, o que criaria espaço para investimentos públicos produtivos e ajudas sociais bem direcionadas, além do reforço da confiança dos investidores."

"Como a guerra na Ucrânia levou a um aumento mais acentuado nos preços dos alimentos e da energia, reforçar o apoio por meio de programas sociais bem direcionados é fundamental para proteger os mais vulneráveis", diz o estudo.

Desmatamento

O estudo com previsões para a economia mundial foi divulgado na véspera da reunião ministerial anual da OCDE, onde o processo e as condições de adesão de novos membros, incluindo o Brasil, será discutido. O encontro terá a presença dos ministros da Economia, Paulo Guedes, e da Casa Civil, Ciro Nogueira.

As práticas e políticas ambientais do Brasil e dos demais candidatos integram as condições para a entrada na organização. Os aspectos que deverão ser cumpridos nesta área e em outros temas podem ser aprovados nesta reunião ministerial com representantes dos 38 países membros.

No estudo divulgado nesta quarta, a OCDE recomenda que o Brasil "reforce devidamente" as leis que impedem o desmatamento ilegal "para proteger recursos naturais como a Amazônia.

A OCDE também recomenda que o Brasil explore mais fontes alternativas de energia, como a eólica e a solar, e aumente investimentos em sistemas de transporte público, o que beneficiaria trabalhadores de baixa renda e reduziria ainda a poluição do ar e a dependência em relação a automóveis, diz o documento.