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Êxodo no setor petroleiro da Venezuela reduz produção de petróleo bruto do país

Pietro D. Pitts e Andrew Rosati

04/12/2014 12h41

4 de dezembro (Bloomberg) ? Ángel Fernández, ex-engenheiro de produção da companhia estatal de petróleo da Venezuela, não se mudou para a região das areias petrolíferas do Canadá por causa do clima. O atrativo foi um salário que, segundo ele, pode chegar a ser cem vezes maior.

"Está sendo muito difícil me adaptar às temperaturas" que normalmente chegam a uma máxima de dez graus negativos, disse Fernández em uma entrevista. "Mas vale a pena pela oportunidade".

Fernández, 33, faz parte de um crescente êxodo de trabalhadores qualificados de campos petrolíferos da Venezuela, onde os salários reais para engenheiros caíram para o equivalente a menos de US$ 400 por mês, cerca de 9 por cento da média mundial. A pior inflação do mundo, as altas taxas de criminalidade e a desvalorização da moeda estão levando outros a se mudarem para o exterior, o que reduz a produção de petróleo justo quando a queda dos preços do petróleo bruto ameaça a receita do país com as exportações.

O Ministério de Relações Exteriores da Venezuela não quis fornecer dados sobre a emigração, mas os sites de emprego mostram um interesse crescente. O número de venezuelanos com currículos ativos em Rigzone.com, uma empresa de pesquisa sobre petróleo e gás com sede em Houston e um banco de dados de empregos, deu um salto de 22 por cento neste ano até outubro, com um crescimento de 68 por cento em relação a 2011. As visitas diárias ao site MeQuieroIr.com, que ajuda os venezuelanos que desejam emigrar, chegaram a de 180.000 a 200.000 em setembro e outubro, em comparação com uma média de 60.000 nos últimos quatro anos.

"Este é o maior e mais prolongado crescimento do trânsito desde que lançamos o site em 2001", disse a diretora de MeQuieroIr.com, Esther Bermúdez, em resposta por e-mail a questões. Bermúdez trabalhou durante sete anos no departamento de assuntos públicos da Petróleos de Venezuela SA (PDVSA) em Caracas antes de emigrar para Montreal em 2001.

Taxas de produção

A PDVSA está extraindo cerca de 8.000 barris diários por funcionário, frente a cerca de 26.000 barris em 2004, segundo a associação do setor Gente del Petróleo. O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, se comprometeu a dobrar a produção, mas poucos no setor confiam em que essa meta possa ser alcançada.

Os salários reais para engenheiros na Venezuela com de cinco a seis anos de experiência não chegam a US$ 400 por mês, com base em diretrizes publicadas pelo Colégio de Engenheiros da Venezuela. A cifra equivale a cerca de 9 por cento da média mundial, de US$ 4.333 por mês, segundo a edição 2013 do Guia Salarial Global de Petróleo e Gás da Hays. Há três anos, os engenheiros da Venezuela ganhavam cerca de 80 por cento da média mundial.

A moeda se desvalorizou 85 por cento no mercado negro desde a posse de Maduro em abril de 2013. A taxa de inflação, de 63 por cento, está "destruindo os salários", disse José Bodas, secretário-geral da Federação Unitária de Trabalhadores do Petróleo da Venezuela (FUTPV), que representa cerca de 100.000 trabalhadores da PDVSA. "Não há trabalhador do petróleo no mundo que ganhe tão pouco como o venezuelano".

Colômbia

Na vizinha Colômbia, os engenheiros ganham mais de quatro vezes a mais, cerca de US$ 1.650 por mês. Isso está levando os trabalhadores do petróleo da Venezuela a cruzarem a fronteira. O país emitiu 4.234 carteiras de identidade provisórias para venezuelanos no primeiro semestre deste ano. O número é 6,9 por cento superior ao total do ano passado e mais do que o dobro dos níveis de 2012, segundo o Ministério das Relações Exteriores. Essas cifras não identificam as ocupações específicas das pessoas.

Pesquisas da Datanálisis mostram que 10 por cento da população está pensando em emigrar no futuro próximo, mais do dobro do que a proporção há dois anos, disse Luis Vicente León, presidente da empresa de pesquisa com sede em Caracas.

"Meu salário, meus benefícios e minhas oportunidades de desenvolvimento profissional são deprimentes se comparadas às de outros mercados latino-americanos", disse Gonzalo Guinand, engenheiro em uma das maiores empreiteiras de engenheira e construção da Venezuela, cujo maior cliente é a PDVSA, em entrevista por telefone, de Caracas. "Eu não vejo um futuro promissor aqui se a situação política e econômica não mudar para melhor".

Título em inglês: 'Venezuela's Oil Industry Exodus Slowing Crude Production: Energy'

Para entrar em contato com os repórteres: Pietro D. Pitts, em Caracas, ppitts2@bloomberg.net; Andrew Rosati, em Caracas, arosati3@bloomberg.net