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Desmoronamento econômico em países emergentes é parecido com crise de 1998

Boris Korby

16/12/2014 15h49

16 de dezembro (Bloomberg) - Os mercados emergentes terminarão o ano quase do mesmo jeito que começaram: em queda livre.

Da Rússia à Venezuela e da Tailândia ao Brasil, as ações, os bonds e as moedas do mundo em desenvolvimento estão despencando.

O rublo russo ultrapassou a barreira de 64 por dólar ontem, pela primeira vez na história. Os bonds venezuelanos afundaram para menos de 40 centavos por dólar, e as ações tailandesas sofreram a maior queda em 11 meses. O mercado de dívida corporativa do Brasil ainda está sob os efeitos da investigação por subornos na petroleira estatal Petrobras, que contaminou o mercado.

Tudo isto tem certo ar familiar, que data de 1998, quando, exatamente como agora, o petróleo estava despencando a levando a Rússia e a Venezuela, exportadoras de petróleo bruto, para uma crise financeira.

Embora muito tenha mudado nos mercados emergentes desde então - talvez a mudança mais importante tenha sido que os países têm mais reservas de moeda estrangeira e taxas de câmbio mais flexíveis -, os sinais de contágio estão se acumulando.

Os investidores retiraram mais de US$ 2,5 bilhões de fundos negociados em bolsa dos EUA que compram ações e bonds de mercados emergentes na semana passada, o maior fluxo de saída desde janeiro, quando instabilidades políticas e financeiras da Argentina à Turquia e os efeitos adversos da reversão de políticas da Reserva Federal provocaram a fuga dos gestores de recursos.

"Passamos para o modo liquidação", disse Peter Lannigan, estrategista da CRT Capital Group LLC para mercados emergentes, em entrevista por telefone de Stamford, Connecticut. "Neste momento, as pessoas estão vendendo os vencedores e os perdedores".

Índice de volatilidade

Um índice que acompanha 20 moedas de mercados emergentes caiu ontem para o menor patamar em mais de uma década, minado pela queda dos preços do petróleo e pela desaceleração do crescimento na China. A lira turca desabou para o mínimo histórico depois que a polícia prendeu jornalistas suspeitos de vínculos com o clérigo Fethullah Gülen nos EUA, e a rúpia indonésia despencou para o mínimo desde 1998.

Em uma reunião não programada, o Banco Central da Rússia elevou a taxa de juros de referência de 10,5% para 17%, vigente a partir de hoje. Os responsáveis pela política econômica incrementaram os custos de tomar empréstimos para limitar a desvalorização da moeda e os riscos de inflação, segundo um comunicado no site da autoridade monetária. A medida foi tomada depois que a moeda despencou para o recorde de 64,4455 por dólar.

Os US$ 4 bilhões em bonds denominados em dólar da Venezuela que vencem em 2027 afundaram 3,4 centavos de dólar para 37,8 centavos por dólar, e a preocupação de que o colapso do petróleo leve o país sul-americano a dar o calote está aumentando. Os preços do petróleo recuaram 25%, até o mínimo em cinco anos, desde que a OPEP decidiu não reduzir a produção para lidar com a superabundância, em uma reunião no dia 27 de novembro. Os preços caíram cerca de 48% desde meados de junho.

Corrupção na Petrobras

No Brasil, os bonds de referência da Petrobras, o maior mutuário internacional no mundo em desenvolvimento nos últimos cinco anos, despencaram para um mínimo recorde depois que a empresa adiou pela segunda vez a publicação dos resultados financeiros do terceiro trimestre.

A companhia está investigando novas declarações de testemunhas no que se tornou o maior escândalo de lavagem de dinheiro e corrupção da história do Brasil. O desmoronamento de ações e debêntures está se espalhando para quase todas as grandes empresas brasileiras que têm negócios com a companhia estatal.

Os investidores poderiam sofrer ainda mais se os preços do petróleo continuarem recuando e o Fed indicar que as taxas de referência seriam elevadas antes do esperado na reunião que fará nesta semana.

"Um enorme número de estratégias de investimento dependia de que as taxas de juros continuassem baixas e de que os preços de commodities permanecessem altos", disse Michael Roche, estrategista da Seaport Group LLC, em entrevista por telefone de Nova York. "A perturbação está causando, neste exato momento, a primeira de muitas relocações das carteiras mundiais de investimentos para afastá-las de setores e economias pobres".