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Dificuldade com idioma estrangeiro prejudica executivos de multinacionais

David De Jong e Jeffrey Vögeli

23/07/2015 15h30

Ao enfrentar milhares de investidores do Deutsche Bank AG, Anshu Jain sabia que havia muito em jogo no discurso que faria na reunião anual do maior banco da Alemanha.

"Neste dia, cada palavra é importante", disse Jain em alemão, durante a reunião de maio. Por esse motivo, ele disse que prosseguiria em sua língua materna. Nascido na Índia e naturalizado britânico, Jain fez o restante de sua apresentação de 2.000 palavras em inglês.

Menos de três semanas depois, Jain pediu demissão do cargo de co-presidente após perder a confiança dos investidores. Brady Dougan, um americano que teve dificuldades com o alemão durante os oito anos em que dirigiu o Credit Suisse Group AG, saiu do banco com sede em Zurique no fim de junho.

Embora a incapacidade de Jain e Dougan para dominar o alemão não tenha custado seus empregos, isso foi alvo de críticas nos países que os receberam e privou os presidentes executivos de uma ferramenta valiosa para estabelecer uma conexão com os acionistas, clientes e colegas locais. Em uma época em que os controles fronteiriços desapareceram em grande parte da Europa, o idioma continua sendo uma barreira.

"Seus clientes precisam entender você e seus clientes da Alemanha falam alemão", disse Kerstin Altendorf, porta-voz da Associação de Bancos Alemães, com sede em Berlim.

Embora muitas multinacionais com sede na Europa - como Airbus Group SE, Daimler AG e SAP SE - tenham adotado o inglês como idioma corporativo, saber só inglês não é suficiente.

Sendo a face pública de uma empresa, os presidentes costumam refletir a cultura local, inclusive o idioma, o que é importante em uma época em que o crescente predomínio do inglês pode criar ressentimentos em casa. Georges Plassat, diretor da Carrefour SA, varejista internacional com sede nos arredores de Paris, faz questão de falar francês quando aparece em público em seu país de origem.

Habilidades de liderança

Talvez as partes interessadas, como credores ou representantes sindicais, não saibam falar inglês. Do mesmo modo, políticos, reguladores e personalidades da mídia local não necessariamente falam mais de um idioma.

Tudo isso ajuda a explicar por que os presidentes que não sabem falar o idioma local são tão raros, mesmo nas empresas multinacionais da Europa.

"Na Alemanha, é muito importante que um presidente executivo que não seja alemão possa se comunicar com a empresa", disse Björn Johansson, diretor da firma de recrutamento de executivos que leva seu nome e tem sede em Zurique. Ele acrescentou, contudo, que habilidades de liderança, conhecimento do setor e experiência com mudança de gestão devem ter prioridade em relação ao multilinguismo na busca de um presidente de uma empresa internacional.

Conexão mais forte

Na Suíça, país que não faz parte da União Europeia e cujos idiomas oficiais são alemão, francês e italiano, espera-se que os executivos falem pelo menos dois deles, além de inglês. Paul Bulcke, o belga que é presidente da Nestlé SA, fala com fluência holandês, alemão, francês, espanhol e português, de acordo com o site da empresa.

"Saber vários idiomas cria uma conexão mais forte com os colegas, funcionários e consumidores, e isso é essencial para uma empresa como a nossa", disse Bulcke, em mensagem enviada por e-mail.

Dougan disse recentemente que se arrepende de não ter aprendido mais alemão.

"Falo um pouco de francês e de japonês e acho que tenho talento para os idiomas, mas eu realmente estava ocupado demais", disse ele ao jornal financeiro suíço Finanz und Wirtschaft.

O sucessor de Jain, John Cryan, é um cidadão britânico que, de acordo com os colegas, fala bem alemão. O sucessor de Dougan, Tidjane Thiam, que nasceu na Costa do Marfim e também é cidadão francês, estudou alemão no colégio em sua terra natal.

"Como vocês devem ter percebido, meu alemão está um pouco enferrujado", disse Thiam durante uma entrevista coletiva no dia em que foi nomeado CEO. "Vou usar os próximos meses para aprimorá-lo".