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CRS Investments levanta fundo de US$ 200 mi para investir em empresas endividadas

Cristiane Lucchesi

17/09/2015 17h39

(Bloomberg) -- A CRS Investments, uma recém-fundada firma brasileira, está levantando um fundo de US$ 200 milhões para investir em empresas altamente endividadas no Brasil em meio ao aumento dos processos de recuperação judicial.

Os alvos serão empresas com receita anual entre R$ 300 milhões e R$ 1 bilhão "que possuem bons produtos, marcas conhecidas, mas estrutura de capital e gestão ruins", disse Salvatore Milanese, sócio da CRS, que tem sede em São Paulo, em entrevista.

"Será como um fundo de private-equity que trará crédito a uma empresa que está em uma situação especial, se tornará acionista controlador, gerenciará a empresa e ajudará a empresa a se recuperar", disse Milanese, que anteriormente atuou como chefe de reestruturação de dívida e empréstimos inadimplentes da KPMG LLP no Brasil e na América Latina.

As potenciais situações de recuperação estão aumentando no Brasil, onde os pedidos de recuperação judicial atingiram um recorde em agosto pelo segundo mês consecutivo. O número de empresas que pediram proteção judicial contra os credores mais que duplicou no mês em relação a agosto do ano passado, para 139, segundo a provedora de dados de crédito Serasa Experian. O acumulado do ano até agosto chegou a 766, um incremento de quase 42 por cento em relação aos oito primeiros meses de 2014.

As perspectivas de melhoria se tornaram mais remotas na semana passada, quando a Standard Poor's rebaixou a nota de crédito soberano do Brasil para o grau especulativo. A S&P disse que poderia reduzir ainda mais a classificação do país em resposta à incapacidade do governo Dilma Rousseff de reforçar as contas públicas.

A CRS está analisando empresas em setores como o sucroalcooleiro, de fertilizantes, call centers, de armazenamento e de bens de consumo, além das emissoras de cartões de crédito de marcas privadas, segundo Milanese, que disse que o objetivo é manter os investimentos por cerca de sete anos e gerar retornos de pelo menos 25 por cento em dólares.

O fundo injetará créditos que podem ser convertidos em ações, disse Milanese.

Canvas e Jive

Outras empresas estão criando fundos para investir em créditos inadimplentes no Brasil. A Canvas Capital SA, empresa brasileira de gestão de ativos que tem o Credit Suisse Group AG como um dos sócios, planeja captar até R$ 500 milhões para a compra de empréstimos corporativos inadimplentes, segundo o presidente Antonio Quintella. A Canvas se chamava anteriormente Península Investimentos SA.

A Jive Investments, maior compradora brasileira independente de dívida em atraso, criou um fundo de R$ 500 milhões para adquirir empréstimos corporativos inadimplentes e outras dívidas, incluindo hipotecas. E a Cerberus Capital Management LP, uma empresa de investimentos com cerca de US$ 25 bilhões sob gestão, disse em maio que está estudando sua primeira aquisição de ativos brasileiros.

A CRS Investments, braço de investimentos da Pantalica Partners, já conta com um indivíduo como investidor líder do fundo, cujo nome Milanese preferiu não revelar. A empresa também investirá dinheiro de seus cinco sócios, disse ele. A CRS está buscando investidores locais e internacionais, principalmente fundos de hedge que se sentem confortáveis com os riscos dos ativos inadimplentes.

Entre esses riscos estão algumas decisões de crédito dos bancos brasileiros, segundo Milanese.

"Eles não diferenciam as empresas que merecem alívio da dívida daquelas que não merecem e, na maior parte do tempo, apertam todas elas igualmente e acabam destruindo valor e criando prejuízos desnecessários", disse ele. "Investir em situações especiais no Brasil não é fácil. Você realmente tem que ser cuidadoso, porque as empresas muitas vezes esperam demais para reestruturar, o que torna a recuperação impossível".

Título em inglês: 'Brazilian Firm Raises $200 Million Fund for Distressed Assets'

Para entrar em contato com o repórter: Cristiane Lucchesi, em São Paulo, clucchesi5@bloomberg.net