IPCA
0,83 Mar.2024
Topo

BHP pode precisar cortar pagamento a acionistas após tragédia em MG

Adam Haigh e David Stringer

13/11/2015 10h51

(Bloomberg) -- A mineradora anglo-australiana BHP Billiton já perdeu seu título de ação mais valiosa da Austrália. Agora, seu status de maior pagadora de dividendos pode estar ameaçado.

O valor de mercado da empresa mineradora caiu 161 bilhões de dólares australianos (US$ 115 bilhões) em relação ao pico de 2008, quando tinha quase três vezes mais influência sobre o índice acionário do país do que sua rival mais próxima.

A BHP pode ser forçada a cortar os pagamentos a acionistas com o desastre de mineração em Mariana (MG), piorando os problemas da empresa em meio à queda dos preços das commodities e à desaceleração do crescimento global, segundo a Craigs Investment Partners. A Samarco, mineradora de ferro envolvida no desastre em Mariana, é controlada pela Vale e pela BHP.

A BHP distribuiu US$ 6,5 bilhões a acionistas no ano financeiro mais recente, mais do que qualquer outra empresa australiana de capital aberto, e se comprometeu a aumentar regularmente seus pagamentos.

"Existe uma visão no mercado de que eles deveriam estar abertos a cortar o dividendo, de que não deveriam estar desesperados por mantê-lo a todo custo", disse Mark Lister, chefe de pesquisa de patrimônio privado da Craigs Investment Partners em Wellington, que gerencia cerca de US$ 7,2 bilhões, em entrevista por telefone.

"Não há um apoio unânime a que o dividendo seja mantido nos níveis atuais. Se eles tiverem que escutar alguma outra parcela do mercado para adotar alguma ação, isso parecerá cada vez mais provável", disse ele.

A política de pagamentos da BHP entrou em foco depois que a Samarco foi devastada por deslizamentos de lama provocados pela ruptura de barragens, na semana passada. O local agora está fechado por tempo indeterminado e o Deutsche Bank disse que os custos de limpeza poderão superar US$ 1 bilhão.

Classificação de crédito

Mesmo antes do desastre, a S&P e a Fitch colocavam a classificação de crédito da BHP em perspectiva negativa, citando como obstáculo a queda dos preços da commodity em meio à desaceleração econômica na China, a maior consumidora de matérias-primas. Ambas as agências atualmente classificam a BHP como A+, o quinto nível mais elevado.

"Não há muita dúvida de que a pressão está aumentando, tanto sobre a classificação de crédito da BHP quanto sobre sua política de dividendos progressiva", escreveu Michael Bush, estrategista de crédito do National Australia Bank, em uma nota na sexta-feira (13), ressaltando a queda dos preços da commodity e o desastre no Brasil.

No mês passado, o presidente do conselho, Jac Nasser, salientou a força do balanço da empresa como algo que oferece à BHP a confiança para perseguir sua política de elevar os retornos para os acionistas, disse a companhia. na sexta-feira, em resposta a perguntas enviada por e-mail.

Queda das ações

As ações australianas da BHP caíram 13% desde o colapso das barragens no Brasil e estão sendo negociadas pela valorização mais barata desde 1998.

A queda representou um choque para os pensionistas poupadores que dão preferência à ação, diz Karl Goody, que ajuda a gerenciar cerca de 10 bilhões de dólares australianos como gerente de patrimônio privado da Shaw and Partners, em Sidney.

As ações sofreram um recuo de 11% nesta semana em Sidney, o maior registrado desde 2008.

"Tem sido difícil responder aos telefonemas porque quando os clientes do varejo veem uma ação como elemento principal de seus fundos de aposentadoria e de seus fundos autogeridos, realmente é um pouco preocupante vê-la cair tanto", disse Goody, em entrevista por telefone.

"Não se trata do que eles esperam do choque. A confiança é algo enorme e quando você vê um efeito bola de neve partir de uma empresa assim, as pessoas muitas vezes querem simplesmente escapar em vez de olhar para o valor subjacente da empresa".

A empresa de Goody está comprando as ações da mineradora, disse ele, apostando que o declínio da BHP foi longe demais. Um aumento de capital de mais de US$ 5 bilhões, realizado no mês passado, dá à BHP flexibilidade financeira para pagar seus dividendos, disse ele.